Fanfic: Entre o Amor e o Poder....MyM...

A falta de solidez estava estampada no rosto do menino, sua fragilidade lhe
exigia repouso, talvez ainda estivesse sob forte efeito dos remédios.

“Santos, descansa, amanhã vocês conversam mais.” Despedi-me do meu irmão e
deitei na cama.

 Mia ficou sentada na cama dele passando os dedos em seus cabelos. Era
nítido o seu afeto pelo meu irmão.

“Mia, vem... Estou cansado.” Chamei-a.

“Não façam isso que estão pensando em fazer, tem uma pessoa em estado
difícil no quarto, tenham respeito.” A voz arrastada importunou mais uma vez,
mas já estava entregue a sonolência.

Mia veio e deitou-se sobre o meu peito, depositando pequenos beijos que
faziam minha pele arder e distribuíam pequenos raios de desejo. Um desejo
controlado fisiologicamente, mas que meu coração não controla.

Tenho ambição por ela incessantemente, não só pelo seu corpo, mas por tudo
que ela me proporciona. Busquei-a para os meus lábios e a apertei a mim,
sentindo cada curva coberta pelo fino pano de suas vestes. Sua pele quente
trazia conforto a mim.

Passei as mãos por toda porção de espaço em suas costas, adaptando-a ao meu
viciado corpo, de um jeito possante. Beijar seus lábios e tê-la em meus braços
é a melhor das experiências que já vivi. Nenhuma sensação que já experimentei
traz esse efeito ao meu ser. 

Amo-a de uma maneira tão entorpecente, que um simples beijo seu lança chamas
em todo o meu corpo e joga-me fora do mundo real.

“Vamos dormir, Mia... Não está lembrando o que combinei com você?” Soltei-a
e beijei seu rosto, enquanto nossas respirações se equilibravam.

“Foi você quem me puxou...” Sorriu satisfeita e acariciou meu peito.

“Mas você podia ajudar, foi você quem fez planos...” Minhas mãos já estavam
dentro de seu pijama e minha boca degustava seu pescoço.

“É, mas foi você quem prometeu que ia segui-los.” Ela se divertia com isso.

“É isso que estou tentando fazer, seguir os seus planos, então vamos
dormir...” Abracei-a apertado.

Ela virou-se e nos posicionamos para dormir, eu, ainda muito estimulado.

Senti-me realizado em tê-la nos meus braços essa noite. A primeira noite em
que estamos sóbrios e unidos.

Dormimos duas noites juntos até hoje. Na primeira noite eu estava possuído
pela insegurança, pelo ódio e pelo medo de amá-la. Na segunda noite ela estava
demasiadamente fora de si, além de ter deixado expresso os seus objetivos.

Tento rotineiramente apagar do meu cérebro a lembrança da primeira noite no
hotel.

A culpa que ainda me domina é o que neutraliza o meu impulso diante do
desejo arrebatador de possuí-la.

O seu corpo tem me dado comandos fazendo-me saber que ela precisa de mim,
tanto quanto eu dela, e o meu corpo deseja obedecer, acendendo-se instintivamente
somente em vê-la. Mas
é conveniente que eu execute o que prometi e abrande a intensidade do que
sinto, ou, fuja do martírio.

“Por que já temos que dormir?” Sussurrou depois de um tempo calada e
encaixou-se mais a mim, fazendo-me desejar incessantemente aquele contato em
suas costas. Às vezes Mia age como se eu não fosse homem, acho isso incrível.

Seria tão mais fácil se eu confessasse minha fraqueza, se eu dissesse logo
que eu necessito dela de uma maneira inadequada para o momento, que estremeço
de alegria em ter seu corpo tão próximo ao meu e que anseio por ela como um
faminto.

“Por que estou com sono, por que está tarde, por que estamos em um hospital,
porque tem um rapaz em repouso ali, por que se não dormir esqueço que estamos
em um hospital, por que a qualquer hora pode entrar uma enfermeira aqui, por
que esses beijos me enlouquecem e porque nossos suspiros estavam muito altos...
Quer mais algum por quê?” Sorri explicando pausadamente e beijando a sua nuca.

“Tudo bem...” Enfim, sossegou.

Queria saber como iria anestesiar-me dela quando ela não for mais presente
em minha vida e o meu mundo real me chamar.

Não tenho certeza se consigo...

**

Fui tirado do sono quando a porta se abriu e uma enfermeira entrou. Cobri o
meu peito com o lençol que estava somente em Mia ao perceber que a enfermeira
fitava insistentemente minha direção com olhar especulativo.

“Bom dia.” Sorriu e virou-se em direção ao soro que alimentava a intravenosa
do meu irmão.

Aproveitei que ela estava de costas e direcionei-me ao banheiro para vestir
uma blusa e uma calça, pois me senti constrangido com o seu olhar. Lavei o
rosto, passei os dedos nos cabelos, escovei os dentes, calcei os sapatos e
peguei a chave do carro que estava em cima da mesinha próxima a cama.

Santos estava acordado, completamente consciente, analisando a moça da
cabeça aos pés.

“E aí, melhor?” Perguntei ao meu irmão e preparei-me para sair.

“Ô! E como!!” Respondeu com os olhos direcionados as formas da enfermeira,
que estava de costas para nós, preparando algo em uma bandeja.

“Estou indo comprar algumas coisas, daqui a pouco eu volto.” Avisei.

“Aonde você vai essa hora? São sete da manhã!” Perguntou admirado.

“Fala baixo que Mia ainda dorme! Vou sair.” Sibilei.

A enfermeira olhou-me de um modo atencioso demais, de maneira a me deixar
descomposto.

Saí.

Procurei um supermercado 24 horas. Com certeza iria encontrar tudo que eu
precisava naquela manhã. Comprei suco de caixinha, achocolatado líquido, pães
de queijo, pãezinhos doces, descartáveis, mini bolo, duas maçãs e só faltava um
item que eu ainda tinha que procurar. Rodei umas ruas e encontrei o que
procurava em um jardim de uma casa.

Uma rosa.

Uma luta interna se travou em mim. Delinqüir por causa de uma rosa? Para a
minha sorte uma senhora esticou uma mangueira e posicionou-se para molhar o
jardim. Aproximei-me vagarosamente e procurei juntar força de ânimo para pedir
que ela cedesse à rosa a mim.

Ela cedeu.

Tenho quebrado barreiras em meu ser. Não havia em minha memória sequer um
dia em que eu tivesse me comportado assim. Mas a rosa era tão significante
nesse momento!

Abri a porta lentamente. Mia ainda dormia um sono profundo e tranqüilo. Santos
estava tomando café e observou-me enquanto eu lavava as maçãs no banheiro.

Eu não esperava que ela comesse, era só enfeite.

“Tá feliz, né? Tá tirando o atraso!” Ironizou o meu irmão.

“Não enche!” Respondi baixo.

“Cara, tu viu aquela enfermeira?! Ela não tirou os olhos de você! Coragem eu
tenho, só não tenho é sorte. Ah! Mas eu pegava! Pegava mesmo!!” Começou as
asneiras. Ele devia estar bem recuperado. “Quando eu chegar a sua idade e ficar
saradão igual você, vou pegar todo mundo, não vejo a hora!!” Sorriu.

Com certeza voltou ao normal. Se ele soubesse que eu não lembro nem mesmo
como é o rosto da enfermeira a que ele se referia... Não despertou um mínimo de
interesse em mim.