Fanfic: Entre o Amor e o Poder....MyM...

O clima estava pesado demais e ficar perto dela não estava adiantando. Deitei e tentei associar cada palavra que ela dissera. As palavras de rancor quanto ao fato de não ter aparecido eu conseguia entender nitidamente, mas as anteriores eu não consegui diluir. Será que Mia quer que eu desista de tudo por ela? Será que ela não vê que isso só nos afastaria mais e mais? Meu coração era triturado em saber que ela estava no outro quarto e que estávamos distantes novamente. A madrugada se passava e eu suspirei infinitas vezes.

 “Miguel... onde você vai me levar?” Mia apareceu no escuro com uma voz baixa e triste, e deitou- se em meu peito.

 “Você ainda quer ir?” Perguntei em dúvida e a abracei forte em meus braços, satisfeito por ela ter vindo.

 “Sim... Vou aproveitar antes que o nosso dia termine.” Murmurou.

 Ela falava em despedidas... Sentia-me tremer de dor.

 “Não conseguiu dormir?” Perguntei enquanto passava minhas mãos em seus cabelos.

 “Não. Senti sua falta.” Ela estava triste e distante.

 A longitude insiste em se apoderar de nós, mas sentimos muita falta um do outro. Ao mesmo tempo em que algo tenta nos separar, uma força maior nos une novamente.

 “Eu queria que fosse comigo ver o raiar do sol na reserva, mas acho que hoje não é um bom dia, não conseguimos dormir... Você está longínqua.”

 “Eu vou ficar bem... É só umas oscilações que eu vou tentar controlar.”

 “Por que está assim?”

 “De novo não.” Murmurou. “Eu acho que não faz bem para nós conversarmos.” Eu acendi a luz e sentei, mostrando que eu queria ouvi-la. Ela respirou fundo e deitou-se em minha perna. “Sabe, Miguel... Eu sempre me achei bonita, sempre achei que se eu quisesse namorar com quem fosse, bonito ou feio, rico ou pobre, eu namoraria. Mas você está me fazendo me perguntar se realmente eu valho a pena para alguém, e isso está acabando comigo... As vezes eu acho que você não me quer por que não sou tudo que você queria, e eu nunca fui insegura assim. Isso está levando-me a tomar atitudes desconhecidas por mim, me levando a tentar te seduzir com o meu corpo, pelo menos para ter você próximo a mim, porque é o que parece que chama a sua atenção, o meu corpo. E eu acho isso ruim. Eu queria sentir que você gosta de mim pelo que eu sou. Queria que você cedesse sem que eu precisasse ficar me oferecendo para você. É lógico que eu quero o que você me proporciona, mas eu não queria que fosse assim, por insegurança. Eu fico me olhando no espelho para ver se o problema sou eu... Por isso estou com essas oscilações de comportamento, porque você está me deixando muito insegura, tudo me deixa insegura. O meu pai e Diego falam coisas sobre você que vem se instalando em mim, e embora eu tente bloquear os pensamentos, eles martelam em minha mente, me fazendo pensar se é realmente isso.”

O que eu podia falar para amenizar a sua insegurança quando eu mesmo estou em um movimento semelhante? A única coisa que tenho certeza é dos meus sentimentos, mas isso não era suficiente diante de todas as dúvidas.

 “Mia, eu não entendo o porquê da sua insegurança. Você sabe o que eu sinto por você.” Acariciei seu cabelo.

 “Sei? Você nunca expressa os seus sentimentos sem que eu force! Você é muito introvertido, eu tenho que ficar supondo e adivinhando os seus pensamentos... Como não ficar insegura se eu não sei o que você está pensando?” Suspirou. “Mas o que me desanima mesmo é o fato de quando você abre a boca para falar alguma coisa, é algo de quem vê sempre as coisas pelo lado pior.”

 “Você sempre soube que eu era assim...” Olhei para o teto, frustrado.

 “Sim, mas você devia se esforçar!” Suspirei, ansioso em falar o quanto a amo. Mas de que adiantaria lhe dizer que a amo quando disse para o seu pai com meias palavras que vou deixá-la? Ela continuou: “Mas chega de conversar, se vamos assistir um nascer do sol juntos, acho que temos que nos arrumar.” Mia mudou o humor repentinamente e sentou.

 Definitivamente eu tenho que conhecer essa mulher.

 “Vamos ficar na praia ou pretende vir embora rápido?” Perguntou com o semblante completamente recuperado.

 “Eu acho que hoje está meio frio para tomarmos banho lá, vamos ficar lá um pouco e voltamos, acho que vamos precisar dormir. Não conseguimos dormir essa noite.”

 “Tudo bem. Eu não sabia que aqui estava tão frio assim, será que a Roberta me empresta um casaco?”

 “Eu pego um da Alma, não vou acordar a Roberta essa hora.”

 Arrumamo-nos e nos dirigimos à praia. O vento estava muito frio na praia, ainda era noite na reserva, então decidi que ficaríamos no carro e estacionaríamos perto do penhasco. Trouxemos cobertor, travesseiros e não baixamos a capota do carro. Busquei por um ponto onde o sol nasceria de um ângulo melhor. Torci que as nuvens se dissipassem e que o raiar do sol fosse perfeito. Assim... Acontecia lentamente.

 “Por que me trouxe aqui?”

 “Por que eu acho lindo o nascer do sol, e aqui então, é perfeito... Pense... Depois de uma noite escura e fria, com um clima de melancolia e solidão, onde o escuro externo representa a dor interna, e o frio representa a ausência e a saudade, de repente vem o sol dissipando toda a escuridão e aquecendo o frio.” Disse pausadamente.

 “Hum... Às vezes você é tão poético.” sorriu carinhosa. “Mas tem algum fim especial ter me trago aqui...” Mia é muito perceptiva, me conhece. Ela sabe que é algo significante que desejo falar.

Eu queria diminuir a distância que lutava em nos afastar, então coloquei os travesseiros em seu colo e deitei-me atravessado, com a cabeça nos travesseiros em seu colo.

 “Mia... Imagine uma noite, longa e fria... Minha vida é assim quando estamos distantes... Não é do espaço de um ponto ao outro que falo, é a distância dos nossos pensamentos, nos nossos corações. Eu me sinto noite quando estou longe de você, e minha vida só vira dia novamente quando estamos bem... Quando te sinto perto de mim.” Ela fitava longe, calada e distante. “As suas oscilações de atitudes esses dias tem me deixado desesperado, eu não sei mais o que fazer para mostrar que você é importante pra mim e o quanto preciso de você.”

 “Você precisa ter atitude... Mostrar que gosta de mim.”

 “Mas que atitude que eu posso ter? É tendência da minha personalidade dirigir para o interior as emoções e sentimentos. Você podia tentar entender. Externar meus pensamentos é algo embaraçoso para mim, mesmo assim, eu venho lutando contra isso para poder falar e fazer coisas por você.”

 “Sabe, Miguel... Eu só estou tentando me proteger... Estou tentando não me iludir mais... Por isso, para mim agora tudo é sempre um dia que pode terminar a qualquer momento... Na capital você disse que eu era a dona do seu coração, e eu me iludi achando que estávamos juntos. Eu até ia te levar na minha casa, eu cheguei a admitir para o meu pai que eu estava com você, todavia meses depois você agiu como se não me conhecesse...”

 Sentei-me no banco do motorista para olhar em seus olhos.

 “Mia, pelo amor de Deus, você nunca vai esquecer isso? Eu sei que eu errei, mas você insiste em tocar nesse assunto insistentemente. Você acha que foi só você quem sofreu? Você não sabe o que se passou nem o que se passa comigo por ter feito aquilo.”

 O clima não ia se ajustar mais entre nós.

 “Não tem como eu saber, você não sabe se expressar!” Em sua voz havia mordacidade, e isso estava me matando.

 “Você não me deixa falar! Eu venho tentando conversar, e você não deixa!” Alterei o tom com a sua provocação.

 O clima pesou novamente. Saí do carro e bati a porta. Deixei o vento bater em meu rosto enquanto meus pensamentos vagavam. Em menos de vinte e quatro horas tivemos climas tensos mais de quatro vezes... As coisas estavam ficando incompatíveis para nós. Nem em Washington D.C. tivemos tantos problemas assim.

Ela agora está fria e indiferente, de modo a causar-me frio espinhal. Estou sentindo-me sem energia, privado do calor. Mas não devo insistir, sua decisão está tomada, não vale mais argumentar. Voltei ao carro e ela estava congelada em seu lugar, inexpressiva. O sol subia vagarosamente e as horas se passavam à nossa frente. Aquele silêncio estava fulminando-me, extinguindo-me lentamente. Ela tinha razão em todo o tempo, não deveríamos manter diálogo sobre nós, quem sabe assim teríamos nos resguardado. Ela surpreendeu-me novamente quando se sentou em meu colo e encostou a cabeça em meu peito. Sua atitude me chocou, mas abrandou o meu coração. Era evidente que não íamos conseguir ficar longe um do outro.

 “Eu estou com fome e sono, acho melhor irmos embora para dormirmos. Meu temperamento está alterado e eu acho que é por isso.”

 Sorri e a abracei forte. Eu esperava realmente que fosse por isso, porque estava me desgastando emocionalmente. Estava cansado dessa Mia melancólica que se instalou de umas horas pra cá.

 “Tudo bem, vamos passar em uma lanchonete e tomar café da manhã, depois vamos para casa dormir um pouco.”

 Ela voltou ao seu banco, embrulhou-se e encostou-se no travesseiro.

 “Não dorme... Vamos comer primeiro.” Estiquei minha mão e toquei seu rosto, mas Mia já era caracterizada pela insensibilidade dos sentidos. A sonolência se apossava dela.

 Mulher tem essas oscilações de humor quando estão com alguma necessidade? Estou pagando por todas as transgressões cometidas ontem a noite, só pode! Após torturar-me o corpo, resolveu torturar-me a vida pelo dia que se segue. Comprei um bolo e pães, mas não seriam mais tão necessários no momento, Mia dormia no carro um sono pesado e profundo. Já em casa, levei-a em meus braços para a minha cama. Lanchei e deitei ao seu lado, observando-a ressonar docemente. Contudo... Era primoroso estar ali abraçado a ela, com seu corpo quente e macio me aquecendo. Imergi meu rosto em seus cabelos e fiquei alí, sentindo seu perfume acolhedor enquanto era invadido pelo estado especial e característico da necessidade de dormir. Rendi-me ao sono.

Pór hoje é só... no próximo capitulo irei voltar para os pensamentos da Mia...

Beijos e Boa semana a todos...