Fanfic: A Donzela e o Monstro (TERMINADA) ;´(

  A escuridão a rodeava. A mente de Anahí nadou nela, sem sonho. Consumia-lhe,
urgindo-a a que se deixasse levar por completo, mas sua vontade era muito mais
forte. Lutou contra a escuridão e angústia que lhe produzia. Pouco a pouco, uma
luz foi invadindo sua negra prisão, até que se encontrou completamente acordada
fazendo frente à força da dor que lhe tinha sumido na escuridão desde o começo.

  Tratou de abrir os olhos, devagar, mas só pôde abrir uma de suas
inchadas pálpebras o suficiente para ver. A brilhante luz entrou pela estreita
abertura, nublando sua visão de forma que tudo dançasse ao seu redor com
pinceladas de cor desconhecidas para ela. Respirava entrecortada e
dolorosamente, e sentia pressão no peito, como se lhe tivessem posto peso em
cima. As batidas de seu coração se foram fazendo cada vez menos audíveis, até
que pôde concentrar-se nos sons do quarto sinistro. A habitação estava
tranqüila; muito tranqüila para seu gosto... como uma tumba.

  Encontraram-me? Sou prisioneira de seu castelo? Por todos os Santos, por
favor não. Supõe-se que devo ser sua esposa? Serei-o já?

  Anahí sacudiu a cabeça contra o travesseiro, tratando de concentrar-se.
Logo que reconhecia o gemido de confusão que escapou através de seus rachados
lábios. Não podia recordar onde estava, nem como tinha chegado até ali. A única
coisa que sabia era o muito que doía.

  —Minha dama? —Uma voz estranha interrompeu seus pensamentos. Não
reconhecia o acento.

  Anahí afogou um grito e se obrigou a incorporar-se, agarrando a cabeça
com as mãos ao sentir que lhe estalaria de dor. Não se moveu. Doía-lhe todo o
corpo; era como se levasse anos na cama para, agora, despertar em uma terra
diferente e estranha.

  O que me passa? Minhas idéias não têm sentido e, entretanto, sou eu quem
as pensa.

   Anahí não sabia se o que lhe nublava a visão eram os golpes que lhe
tinham dado na cabeça ou as lágrimas de medo que lhe alagavam os olhos.
Girou-se para onde acreditou ter ouvido a voz da mulher e tentou falar, mas foi
incapaz de dizer nada.

  —Direi-lhe que estás acordada. —O animado tom de voz da mulher lhe
pareceu estranhamente desconjurado para uma tumba.

  Anahí vislumbrou o impreciso avental da criada quando esta abriu a porta
da habitação e a deixou a sós. Alargou uma mão tremente para tratar de tocar ao
fantasma, mas tinha partido. Teria imaginado à mulher?

  Direi-lhe? A quem? Por todos os Santos, onde estou? Pai, por que o têm
feito? Derrick?

  Dava-lhe voltas a cabeça. Sentiu náuseas e se cobriu com a mão para não
vomitar. Estava segura de que não conhecia aquela habitação, apesar de que não
era capaz de enfocar a vista o suficiente para vê-la bem. A cama cheirava a
velho e a pó; não era um aroma com o qual estivesse familiarizada. Naquela
época do  ano, sua casa cheirava a ervas
frescas.

  Em que época do ano estamos? Onde estou?

  Através de sua imprecisa visão, detectou fogo no que devia ser uma
chaminé. Não podia ver os detalhes, mas via bastante bem a luz alaranjada. As
chamas estavam muito baixas para esquentar a habitação adequadamente. A
emaranhada pele da colcha da cama tinha buracos; sentiu um calafrio e tocou os
membros para assegurar-se de que estivessem em seu lugar. Grunhiu e fez careta
de dor ao elevar o braço; doía-lhe o ombro como se o tivessem arrancado pela
raiz.

  Então, para seu horror, descobriu que estava nua debaixo da colcha. O
coração lhe desbocou; pulsava como se quisera escapar-se igual a ela queria
escapar de sua dor. Disposta a fazer algo tratou de encontrar um pouco de
roupa, mas ali não havia mais que a furada manta.

  Tampou-se o peito com a colcha, para cobrir sua nudez de quem quer que
fora aquele a quem a criada tinha ido avisar, e não se moveu. Ficou olhando à
porta, impaciente. Por fim, ouviu-se um suave golpe na porta.

  Derrick? Por favor, que não seja Derrick.

  Apertou com força a colcha e se estremeceu de medo, apertando os punhos
em silencioso protesto pelo que pudesse passar. A porta rangeu ao abrir-se e,
durante uns segundos, a luz das tochas do corredor se obscureceu com o
movimento de uma silhueta.

  —Minha senhora?

  Anahí assentiu, incapaz de responder a amável voz. Sentiu-se
estranhamente aliviada ao ver que não ouvia a voz de Derrick nem a de seu pai.
Apesar a que não reconheceu a amável voz que tinha ouvido, sabia que se tratava
de um homem ancião.

  —Minha senhora, podéis falar? —continuou a voz; tinha o mesmo acento
estrangeiro que a criada.

  —Você...? Sim —respondeu ao fim. Respirou com dificuldade e fez o que
pôde para parecer tranqüila, obrigando-se a falar com mais firmeza—. Sois o
senhor?

  —Não, minha senhora  —parecia
confundido com a pergunta —. Minha senhora, podéis ver-me?

  —Quem sois? —negou-se a lhe responder, elevando o queixo. Confio em que
acreditassem que estava tranqüila e, rogando por parecer altiva, entreabriu os
olhos para enfocar melhor ao homem, sem resultado algum—. O que me têm feito?
Por que me retêm aqui? Onde estão minhas roupas?