Fanfic: FOI POR ENGANO - DyC

O táxi só parou meia hora depois em frente à empresa e só então cheguei à conclusão de que era melhor ter ido à pé mesmo.
Joguei uma nota de cinqüenta para ele, sem esperar o troco e saí do carro, correndo que nem uma louca pra dentro do prédio. Peguei o elevador e apertei inúmeras vezes o número do meu andar, como se aquilo fosse acelerar o elevador.
Abri a porta de minha sala e notei que não havia ninguém lá. Meu coração se apertou, não querendo acreditar no que uma vozinha dentro da minha cabeça queria dizer. Bati devagar na porta de James e entrei, olhando a sala vazia ao redor.

Dulce: Eles já foram? O advogado e o homem que quer processar a empresa?
James: Sim, saíram faz uns vinte minutos, por que o interesse?

Eu engoli em seco, prendendo o choro em minha garganta, e sorri, como se nada tivesse acontecendo.

Dulce: Nada, só queria saber se vocês precisariam de alguma coisa.
James: Tudo ocorreu bem, apesar de que não aceitei o acordo. Onde já se viu, me acusar dessa maneira! Vamos resolver isso no tribunal! Agora eu vou almoçar, cuida de tudo pra mim?
Dulce: Claro, como quiser.

James saiu da sala e eu sentei na minha cadeira, abaixando a cabeça, tentando manter o controle. Isso não podia estar acontecendo. Era azar demais, chegava a ser inacreditável.
Foi então que levantei o olhar e vi que havia algo de diferente em minha mesa. Meu coração disparou quando vi um ursinho branco no lugar do porta-retrato onde estávamos eu e minha irmã. Ele segurava um coração vermelho, onde havia meu nome escrito nele. Isso só podia ser de uma pessoa...ainda mais quando notei que o porta-retrato não estava em lugar algum.
Certamente, isso era obra de Christopher. Ele havia estado aqui, tocou nas minhas coisas e pisou no mesmo chão que eu. Às vezes com todas as conversas telefônicas parecia que ele era alguém imaginário, que não existia. Parecia perfeito demais para ser gente, ou melhor, para ser um homem. Mas era fato que ele havia pisado em minha sala e ficou aqui por duas horas...enquanto eu estava dormindo, porque o maldito despertador não havia tocado.
Eu peguei o ursinho e o abracei, sentindo o mesmo cheiro que havia nas fotos...o cheiro dele. Sem poder me conter mais, eu me encolhi na cadeira, com aquele urso em meus braços e comecei a chorar.

--*

Seria cômico se não fosse trágico. Ainda não me conformava por não poder ficar mais tempo. Queria mais do que tudo na vida vê-la e dizer em seus olhos o que verdadeiramente sentia por ela. Que não importava a distância ou o fato de nunca nos termos visto frente à frente...meus sentimentos por Dulce iam muito mais além do imaginado. E esperava que ela sentisse o mesmo por mim também.
Assim que o avião aterrissou e coloquei os pés na Espanha outra vez, sorri tristemente, pensando que nunca havia ficado com tanta raiva por ter voltado ao meus país. Se não fosse os mil compromissos do meu cliente, poderia ter ficado muito mais tempo lá. Mas como era Larry que estava pagando tudo, tinha que cumprir com todo o combinado.
Assim que cheguei em casa fui direto para o quarto, me jogando na cama. Havia sido uma viagem longa, cheia de estresses e frustrações. Estava completamente exausto! E com uma certa melancolia, ainda que não demonstrasse. Depois de alguns minutos levantei, querendo tomar um banho. Mas antes, peguei o porta-retrato de Dulce, que havia pegado em seu escritório, sem pedir permissão. Ela estava completamente linda naquela foto e me fez suspirar. Apesar de tudo, eu sabia que a vida dava muitas voltas e que íamos nos encontrar outra vez. E então, meu sonho de ficar ao lado dela finalmente seria realizado.

--*

Estava de saída do trabalho e encontrei Roger na porta da empresa, enquanto esperava o táxi. Ele parou ao meu lado e tocou minha mão, me fazendo olhar em sua direção.

Dulce: Resolveu falar comigo outra vez?
Roger: Percebi que você estava estranha hoje. Aconteceu algo?
Dulce: E você se importa?

Eu desvencilhei minha mão da dele e cruzei os braços.

Roger: Por que está agindo assim?
Dulce: Você fica dias sem falar comigo e de repente vem me procurar como se nada tivesse acontecido?
Roger: Por que está tão nervosa? Não conseguiu ver o seu namoradinho espanhol?

Arregalei os olhos, não acreditando no que ele havia dito.

Dulce: Você sabia que Christopher estava aqui? Na nossa empresa?
Roger: Me encontrei com ele no elevador. Pena que você não teve a mesma sorte.

A vontade de chorar havia voltado e eu resolvi explodir em ira, ao invés de lágrimas.

Dulce: Já chega!! O que estamos pretendendo com esse namoro, no final das contas?
Roger: Eu me pergunto o mesmo! Eu estava disposto a te fazer feliz, mas parece que você não quer que eu faça isso!
Dulce: Você não pode me fazer feliz com esse jeito, me dando gelo, se estressando por tudo!
Roger: E quer que eu faça o que? O cara mora na Espanha e parece mais teu namorado do que eu. Preciso de alguém que me ame como eu te amo!

Arregalei os olhos novamente, eram muitas surpresas para um único dia.

Dulce: O que você disse?
Roger: Isso mesmo que você ouviu. Eu te amo.

Roger pegou em minha mão e eu prendi a respiração, ainda tentando assimilar aquelas inesperadas palavras.

Roger: Entende agora por que eu fico louco quando te vejo toda animada falando com alguém inalcançável? Eu morro de ciúmes!
Dulce: Roger, eu...acho melhor a gente parar por aqui.
Roger: Do que está falando?
Dulce: Nós, nosso namoro...nunca vai dar certo!
Roger: Como pode saber?
Dulce: Porque eu não me sinto da mesma forma. Isso não é justo para nenhum dos dois.

Seu olhar ficou triste e eu senti uma certa culpa dentro do peito.

Dulce: Sinto muito.

Ficamos em silêncio por alguns segundos e eu fiz sinal pro táxi, que parou frente à ambos.

Dulce: Vai ser o melhor, acredite.
Roger: Você o ama?

Eu hesitei antes de entrar no carro e o olhei, sem conseguir dizer uma palavra sequer.

Roger: Não precisa falar mais nada. O seu silêncio já disse tudo que eu queria saber.
Dulce: Sinto muito por tudo. Adeus, Roger.

Entrei no carro e fechei a porta, ainda em tempo de lhe ouvir dizer suas últimas palavras.

Roger: Você ainda vai perceber o quanto é errada e ilusória essa história com o espanhol. Nunca vai dar certo.

Eu ignorei aquilo e indiquei o caminho ao motorista. Ainda tentava superar meu desencontro com Christopher, não queria nem pensar nas coisas que Roger havia dito. Não me importava suas palavras, até porque agora não tínhamos mais nada.
Cheguei em casa por volta das 8 da noite e a primeira coisa que eu fiz foi pegar o telefone. Hesitei antes de discar seu número, pois não sabia como ia reagir ao ouvir sua voz. Afinal, eu já tinha chorado bastante hoje.
Peguei o ursinho dentro da minha bolsa e o encarei. Aquela pequena pelúcia era a prova de que tudo era real, que Christopher havia pisado no meu escritório e que um dia tínhamos que nos olhar nos olhos. Limpando a primeira lágrima que já começava a cair, eu disquei seu número, esperando ouvir sua linda voz novamente.

--*

Anahí: Ainda não acredito que vocês não se viram!

Estava com minha irmã na cozinha comendo algo, enquanto lhe contava tudo o que havia acontecido.

Christopher: Pois é. Não foi dessa vez.
Anahí: E como você está nisso tudo?
Christopher: Ainda não sei ao certo...decepcionado, frustrado. Queria muito vê-la e fazer todas as coisas que um homem apaixonado faz, nem que fosse por apenas alguns minutos.
Anahí: Vocês ainda vão fazer tudo o que têm direito, pode apostar. Enfim, meu amor, eu vou dormir. Amanhã tenho que levar Miguel e David para a escola cedo. Vai ficar aí?
Christopher: Dulce vai me ligar, depois eu vou.
Anahí: Como você sabe?

Eu pisquei pra ela e sorri.

Anahí: Medo de vocês dois. Já sabem até a hora que um vai ligar pro outro. Bom, boa noite. Manda um beijo pra Dulce.
Christopher: Pode deixar.

Any foi dormir e eu peguei o telefone, esperando que ela ligasse. E não passou mais do que dois minutos até o aparelho começar a tocar.

--*

Quando ele atendeu, senti meu coração disparar à toda velocidade no peito. E dentre lágrimas eu abri um largo sorriso. Só ele me fazia sentir assim tão bem...e com um ingrediente peculiar, que era sua voz.

Dulce: Você chegou bem?
Christopher: Sim, estou bem. Só não estou melhor por não ter te visto.
Dulce: Nem fala! Não sabe como eu to aqui! Meu despertador não tocou e ainda tinha um engarrafamento, não pude chegar a tempo! Não imagina como eu me senti ao chegar na empresa e constatar que você já tinha ido!

Minha voz começou a ficar tremida e eu me segurei para não começar a chorar. Mas não adiantou muito, pois Christopher notou.

Christopher: Você não está chorando, está?
Dulce: Ainda não...mas desabei no escritório quando vi que você não estava.
Christopher: Mas tinha um ursinho pra te consolar.

Eu sorri, olhando para o ursinho que estava em meu colo.

Dulce: Notei que sumiu um porta-retrato da minha mesa. Você sabe onde ele foi parar?
Christopher: Acho que o objeto resolveu dar umas voltas aqui por Madrid.

Eu soltei uma gargalhada e deitei no sofá, suspirando. Mas eu tinha que contar algo para ele seria agora.

Dulce: Fiquei sabendo que você viu Roger no elevador.
Christopher: É verdade. Gostinho estranho que você tem, hein? Pensei que ia encontrar com coisa melhor. Tipo, eu!

Eu não pude deixar de rir, Christopher era muito bobo. Mas logo em seguida falei o que tinha pra falar.

Dulce: Eu terminei com ele. De vez, agora há pouco.
Christopher: E você...está triste com isso?
Dulce: Não...não dava para me enganar mais. Estar com um, querendo estar com outro. Desculpe estar sendo tão afobada para falar essas coisas assim, mas é a verdade. É loucura estar namorando com alguém sem sentir nada, ou pior, sentindo isso por outro. Tive que terminar.
Christopher ficou quieto e a sensação de nervosismo no meu estômago só aumentava cada vez mais. Fiquei insegura, sem saber se tinha feito o certo ao me declarar dessa forma e ele ficando calado não ajudava em muita coisa.

Chris: Ruiva?
Dulce: Hm?
Christopher: Eu estava certo.
Dulce: Ta falando do que?
Christopher: Eu disse que você ia largar o seu namorado por minha causa.

--*

Seria hipócrita se dissesse que estava sentido por ela ter terminado com o namorado por minha causa. Nem ela mesmo estava! Era impossível esconder o sorriso que pintava o meu rosto nesse momento. Agora minha chance de tê-la como minha mulher havia crescido bastante. E eu não pensava em deixar essa oportunidade passar de jeito algum.

Dulce: Você jogou isso na minha cara antes de estarmos juntos.

Ela disse isso rindo e eu acabei sorrindo também.

Christopher: Pode deixar que eu jogo de novo no dia do nosso próximo encontro.
Dulce: Você acha que ainda vamos nos encontrar?
Christopher: Eu tenho certeza que sim.

Dulce ficou em silêncio e eu notei que ela estava realmente mal por não ter me visto. Isso aumentou um pouco meu ego...claro, não que eu gostasse de vê-la triste, mas perceber o quanto ela queria me ver me fazia muito bem.

Christopher: Não perca as esperanças agora, ruiva. O nosso dia vai chegar. Você vem em dezembro, não é?
Dulce: Bom, isso é o que eu espero. Do jeito que tudo está dando errado...
Christopher: Não vai dar errado dessa vez.

Escutei seu largo suspiro do outro lado da linha percebi que ela não estava muito convencida disso.

Christopher: Dorme com o ursinho que eu te dei até chegar dezembro. Pelo menos ele tem meu cheiro...dá pra diminuir a ansiedade.
Dulce: E como você sabe que isso funciona?
Christopher: Porque deixo suas fotos no meu criado-mudo e durmo olhando para elas todas as noites.
Dulce: Sério?

Pelo seu tom de voz, ela pareceu não acreditar muito naquilo.

Christopher: É verdade. Dá um certo tipo de consolo. Tenta também, dá certo.
Dulce: Isso é loucura...
Christopher: Ser normal é sem graça...
Dulce: Vamos ver...se der certo, quem sabe?
Christopher: Vai dar. E isso pode ajudar a sonhar comigo também.
Dulce: Eu não preciso disso pra sonhar contigo.

Fiquei surpreso com aquela declaração. Dulce não era o tipo de pessoa que dizia essas coisas assim tão claramente, pelo menos do que eu conheci sobre ela até agora, não era essa a impressão que ela me passava.

Christopher: E eu digo o mesmo, ruiva.

--*

Eu ainda estava um pouco descontrolada com as minhas emoções e dizia coisas que eu não diria se eu estivesse em meu estado normal. Mas estava tão mal que sentia que tinha que colocar todos aqueles sentimentos para fora, senão ia acabar me afogando em mim mesma.

Dulce: Sabe? Às vezes eu fico lembrando como tudo aconteceu entre a gente...é estranho ver onde tudo isso chegou. Naquela primeira vez que ouvi sua voz e te achei um arrogante e grosso, jamais poderia imaginar que poderia algum dia nutrir um sentimento por ti.
Christopher: Assim é a vida, não é? Sempre nos trazendo surpresas.
Dulce: Você acredita...que talvez sempre tenha sido você? Com todos esses telefonemas acidentais, as pequenas coisas que lembrava o outro...será que sempre foi você e eu tentei negar isso por causa dos obstáculos que há entre a gente?
Christopher: O que quer dizer?

Eu não sabia como explicar e já tinha me declarado demais por hoje. Havia ficado inibida de repente e comecei a pensar que estava me expressando mais do que devia, já estava na hora de parar.

Dulce: Nada, deixa pra lá...Acho que ainda estou um pouco afetada pelos acontecimentos de hoje.
Christopher: Deixa pra lá não! Começou, agora fala! Está perdendo o gosto pelos desafios?
Dulce: Não é isso, é que..a gente se fala amanhã, ok? Estou muito cansada, vou me deitar.
Christopher: Dulce...
Dulce: É sério! Amanhã a gente conversa melhor. Eu quero dormir, de verdade.

Ele ficou em silêncio e quando voltou a falar, notei que sua voz havia ficado um pouco triste.

Christopher: Tudo bem...se você prefere assim.
Dulce: Obrigada pelo ursinho, de verdade. Vou dormir com ele.
Christopher: Fico feliz em saber. Durma bem, Dulce.
Dulce: Você também...amanhã quando tiver indo pro trabalho eu te ligo. Um beijo!
Christopher: Pra você também.

E eu desliguei o telefone, suspirando. Hoje havia sido realmente um dia intenso e eu precisava dormir para colocar as idéias no lugar. Christopher iria entender, eu sabia disso.
Fiz a minha higiene pessoal e fui direto para a cama, dormindo com o ursinho, como lhe havia dito. Fechei os olhos, sentindo o cheiro dele entrar pelas minhas narinas e respirei fundo, pensando em um dia abraçar Christopher da mesma forma. E naquela noite, eu sonhei com ele.

--*