Fanfic: FOI POR ENGANO - DyC

Eu havia chorado pateticamente o dia inteiro por causa dessa maldita espera! Parece que conforme se aproximava o dia de eu finalmente encontrá-lo o tempo andava mais devagar e minha solidão acabava me engolindo.
Queria muito ir para a Espanha, porque ainda tinha minha irmã. Poder falar e viver com alguém seria realmente algo mais confortante para mim, pois respirar apenas trabalho não era bom para ninguém. E esperava que James me liberasse o quanto antes para que eu pudesse finalmente vê-lo.

Dulce: Acho que estou realmente mal.
Christopher: Não acha melhor dormir? Talvez amanhã você melhore.
Dulce: Não vou melhorar até poder me encontrar com você.
Christopher: Já esperamos até agora...Podemos esperar mais um pouco, não acha?
Dulce: Sim, mas isso é tão injusto! Você aí, do outro lado do oceano! Queria poder estar contigo, te tocar, te abraçar e...te beijar também. Deus, como fomos deixar as coisas chegarem a esse ponto, Christopher?

Eu comecei a cuspir as palavras sem pensar, pois meu coração havia tomado as rédeas da situação e quis esplanar tudo o que estava aqui dentro.

Christopher: Elas simplesmente aconteceram, não podemos fazer nada.
Dulce: Eu odeio isso!

Comecei a chorar contra o meu travesseiro e me senti completamente estúpida por não conseguir segurar as lágrimas com ele no telefone.

Christopher: Dul, vai dormir. Você está de TPM, ficar remoendo essas coisas só vai piorar a situação. Chorar não vai me levar até aí ou te trazer até aqui. Temos que nos conformar com a distância e esperar até que você venha para cá. E nem falta tanto tempo assim.
Dulce: Mas pra mim já está sendo insuportável esperar. Eu...eu te...
Christopher: Shh, ainda não. Vamos deixar essa parte pra dizermos quando estivermos frente a frente. Quero que você me diga isso olhando em meus olhos. Depois que eu te beijar, claro.

Eu ri, já limpando as lágrimas e relaxando um pouco.

Dulce: Só me diz se você sente o mesmo. Pra eu me sentir mais segura.
Christopher: Sim, eu sinto. Você já devia saber.
Dulce: Só pra garantir. Sou insegura, você sabe.
Christopher: Sim, sei perfeitamente bem. Mesmo que eu ainda ache que você não tenha motivos pra isso.
Dulce: Nunca sei quando vai passar uma loira gostosa aí que vai fazer com que você se esqueça de mim.
Christopher: Mesmo que passe, eu não vou nem notar. Pois minha cabeça está no México, esperando que uma ruiva linda aparecer aqui e me dar o beijo que eu tanto desejo.
Dulce: Esse dia ainda vai chegar.
Christopher: É... Eu sei que vai.

--*

A primeira semana de dezembro parecia que nunca terminaria. Os dias 3 e 4 pareceram durar um mês e nossas conversas por telefone estavam cada vez mais constantes, pois não estávamos mais agüentando a espera.
Dulce ainda não sabia quando viria, mas me garantiu que até o Natal estaria aqui. Passaria a data com a irmã, pois já vinham combinando desde o feriado passado. Então, isso significava que faltava em torno de vinte dias para finalmente nos olharmos nos olhos. E eu mal podia esperar!
Acordei preocupado no dia 6 de dezembro. Era aniversário dela e eu não podia lhe dar nada. Nem tinha pensado em algo para comprar, pois não sabia o que lhe dar e nem sabia se qualquer presente chegaria seguro do outro lado do mundo. Mas Dulce entenderia certamente e eu poderia lhe dar qualquer coisa junto com o presente de Natal que também lhe daria.

Christopher: Hoje é aniversário de Dulce.

Comentei com Any quando entrei na cozinha, vendo-a preparar o almoço daquele domingo.

Anahí: E não comprou nada?
Christopher: E como entregar? Existe um oceano entre nós, se esqueceu?
Anahí: Ah, é verdade. Mas correio existe para isso.
Christopher: Não quis arriscar. E além do mais, queria entregar olhando em seus olhos. É melhor esperar pelo Natal, ela disse que é quando acha que virá pra cá.
Anahí: Acha?
Christopher: Pois é, o chefe dela é um pouco ditador. Mas ela disse que iria fazer um drama, dizer que a irmã está grávida e quer passar essa data especial com ela. E em matéria de dramas, Dulce é nota dez, tenho certeza que irá tirar de letra.

Nós dois rimos e minha irmã me deu uma colher da sopa que estava fazendo para provar.

Christopher: Está fantástica! Mas Miguel e David vão comer isso?
Anahí: Ah, mas eles vão! A pediatra disse que a alimentação deles está incorreta e que precisam comer melhor, não se entupir de doces que o tio irresponsável dá pra eles.
Christopher: Aposto que essa última parte não foi ela que falou.
Anahí: Fui eu mesma. Mas enfim, não irá ligar para ela?
Christopher: Ainda não, vou esperar mais um pouco. Lá no México ainda é de madrugada, ela deve estar dormindo.
Anahí: Acorde-a. Mulher gosta dessas coisas, pelo menos no aniversário.
Christopher: Ainda prefiro esperar. Dulce está de TPM, não quero arriscar.
Anahí: Como você sabe?
Christopher: Ela não me ligou na noite passada e não atendeu quando eu liguei. Ela faz isso quando está sensível. Enfim, você deve entender como é.

O telefone tocou lá na sala e pedi para que um dos meus sobrinhos atendesse, pois estava conversando com Any. Poucos minutos depois Miguel apareceu na porta da cozinha, avisando que era para mim.

Christopher: Pra mim? Quem é?
Miguel: É uma mulher. Se eu não me engano, seu nome é Dulce, eu acho.
Christopher: Me ligando essa hora?

Olhei no relógio e notei que deviam ser por volta das 4 da manhã lá.

Anahí: É melhor você atender. Se está de TPM e te ligando de madrugada, a coisa deve ser séria.

Me levantei rapidamente, pois estava realmente preocupado. Atendi o telefone e fui para o meu quarto, para ter mais privacidade na conversa.

Christopher: Alô? Dulce? Está tudo bem contigo?
Dulce: Está... Por que não estaria?

A voz dela parecia boa e vi que talvez estivesse dizendo a verdade.

Christopher: Não me ligou ontem à noite e não atendeu minhas ligações. Pensei que estava de TPM.
Dulce: De novo? Como alguém pode ter duas TPM`s em menos de duas semanas?
Christopher: Não sei, não sou mulher para saber!

Escutei sua gargalhada do outro lado da linha e respirei aliviado ao ver que ela estava bem.

Dulce: Perdão não ter ligado ontem. Viajei de madrugada.
Christopher: Viajou? Para onde?
Dulce: Madrid... Conhece?

Meu coração deu um salto no peito e tive que me sentar na cama com o susto. Escutei-a rindo outra vez e logo notei que era brincadeira.

Christopher: Não brinque dessa maneira, Dulce! Meu coração é fraco. Sério, pra onde você foi? Alguma cidade por aí?
Dulce: Estou falando sério, Christopher. No momento estou sentada no banco traseiro do carro da minha irmã, indo descarregar as malas na casa dela. Madrid é uma cidade linda! Mas então... Onde podemos nos encontrar?

--*

Eu estava me divertindo horrores com seu espanto! Essa foi a reação que eu esperava que ele tivesse quando decidi fazer uma surpresa sobre o fato da minha viagem ter sido adiantada. Christopher mal estava acreditando e, pra falar a verdade, nem eu podia ainda acreditar que estava tão perto do único homem que conseguiu me fazer perder a cabeça desse jeito! E o mais irônico é que esse mesmo homem nunca havia tocado em mim.

Christopher: Dulce, pára. Mesmo, não faz isso.
Dulce: O que? Eu juro que estou aqui, Christopher! Quer falar com a minha irmã? Ela está aqui, no banco da frente, enquanto Mariano dirige.

Ele se calou mais uma vez e eu não pude deixar de rir.
Mariano parou frente à casa da minha irmã e pedi delicadamente que pegasse as malas, pois tinha que fazer Christopher acreditar em mim.

Dulce: Christopher?
Christopher: Co...como você está aqui?
Dulce: Eu fui falar com James e fiz um drama enorme sobre como hoje era meu aniversário e minha irmã estava grávida. Disse-lhe que seu parto era de risco e que ela já havia ido para o hospital duas vezes com o risco de perder o bebê e a própria vida, que podia ser minha última oportunidade de vê-la e ele deixou!
Christopher: Assim, tão facilmente?
Dulce: Bom, mais ou menos. Eu tive que fingir um choro para parecer mais convincente. E consegui vir mais cedo, mas também terei de ir embora mais cedo. Antes iria ficar até o dia quinze de janeiro, aproximadamente, e agora terei de pegar o voo dia dois. Mas é algo, não?
Christopher: O que? É TUDO! NEM POSSO ACREDITAR!

Ele começou a berrar no telefone e eu notei que finalmente tinha caído a ficha.

Dulce: Ok, Christopher, deixe para festejar quando me vir. Nunca se sabe se eu posso vir a morrer no caminho...
Christopher: Não fale besteiras, sua louca!
Dulce: Estou brincando, calma! Enfim, você ainda não me disse onde podemos nos encontrar! Mariano irá me levar aonde você disser, pois não sei andar por aqui. Anda, me fala!
Christopher: Não sei, não pensei em nada ainda! Espere um pouco...

Christopher calou-se, com certeza pensando em algo e esperei. Esperei... Já disse o quanto odeio essa palavra?

Christopher: Já sei! Perto do centro de Madrid há uma praça bastante arborizada, bastante conhecida e visitada por turistas. Mariano é daqui?
Dulce: Sim.
Christopher: Então seguramente ele sabe onde é. Me deixe falar com ele um minuto.

Chamei Mariano e lhe entreguei o celular, avisando que Christopher queria lhe indicar o caminho.

Mariano: Ah...sim, sim, sei perfeitamente onde é, uma praça adorável! Pode deixar que a levarei. Um abraço.

Ele passou o telefone para mim outra vez.

Dulce: E então?
Christopher: Está tudo resolvido! Vou me arrumar rapidamente, me dê quinze minutos!
Dulce: Ok, Christopher, não se preocupe. Não vou sair daqui até o mês que vem.
Christopher: Perdão pela afobação, mas nem eu mesmo imaginava que ficaria tão empolgado! Enfim, vamos desligar para podermos nos ver logo! Beijos e tchau, até à ponte!
Dulce: Até à ponte.

Eu ri sozinha e entrei na casa da minha irmã, feliz por estar ali.
Bianca veio me abraçar e me deu um beijo no rosto, o milésimo que ela havia me dado desde que tinha chegado.

Bianca: Estava morrendo de saudades!
Dulce: Eu também.
Bianca: Estava nada! Aposto que só veio antes por causa do espanholzinho.
Dulce: É verdade que o desespero estava maior por causa dele, mas sabe que também sentia muito a sua falta.
Bianca: Não vou brigar porque entendo como é estar apaixonada. E então? Não vai sair para vê-lo?
Dulce: Christopher pediu quinze minutos para se arrumar.
Bianca: Ah que ótimo! Então por enquanto você é só minha... já que eu sei que a competição para estar ao seu lado nos próximos dias estará bem acirrada.
Dulce: É... Pode apostar que sim!

--*

Eu estava como um adolescente louco! Any e meus sobrinhos riam às minhas custas enquanto eu procurava sapato em todos os cantos, vestia várias blusas me enchia de perfume.

Anahí: Christopher, controle-se! Assim a menina vai se afastar de você com todo esse perfume!
Christopher: Ficou exagerado?
Anahí: Por enquanto está aceitável, mas por favor, não dê mais qualquer borrifada nisso!

Assenti e continuei catando tudo pelos cantos. Mal podia respirar, eu nem me lembrava de respirar! A única coisa que rondava por minha mente nesse minuto era que eu ia finalmente iria encontrar a mulher da minha vida! E certamente seria o momento mais inesquecível de toda a minha existência.

Anahí: Vá com calma, a menina já está aqui e com quase trinta dias de prazo pra ficar! Não precisa correr com o carro como um louco e se acidentar!
Christopher: Por que ta todo mundo falando em acidente hoje?
Anahí: É pra prevenir! Você está fora de si! Acalme-se ou ela pensará que falou com um psicopata durante todo esse tempo!
Christopher: Não, minha irmã. Psicopatas não tem emoções e as minhas estão à flor da pele! Até mais tarde!

Nem me despedi nem nada, bati a porta e fui correndo para o carro.
Mas assim que o liguei parei para respirar um pouco, pois Any tinha razão. Eu iria acabar me acidentando se continuasse descontrolado dessa forma.
Encostei a testa no volante e liguei uma música para relaxar. Dulce não iria sair daqui tão cedo e eu queria parecer no mínimo normal para ela. Até porque eu tinha que fazer tudo certo, como havia planejado na minha cabeça. Esse encontro seria perfeito... Sabia disso.
Levei por volta de quinze minutos para chegar até o local. Respirei fundo mais uma vez. Era agora.
Saí do carro e respirei o ar límpido do ambiente. Era um dos meus maiores desejos estar aqui acompanhado por alguém e agora estaria com a mulher que eu sempre esperei. Literalmente.
A praça estava repleta de pessoas, era fim de ano e o turismo aumentava. A ponte estava lotada, várias crianças com balõezinhos e algodões-doces em suas mãos. Parei em frente a ponte resolvi ligar para seu celular, pois assim não iria encontrá-la.

Christopher: Dulce? Já estou aqui!
Dulce: Eu também! Estou no meio da ponte, olhando todos os botes lá embaixo, repletos de pessoas enamoradas. É um lugar realmente lindo... E cheio!
Christopher: Não consigo te ver!
Dulce: Olhe melhor... Pois eu estou vendo alguém maravilhoso no começo da ponte! Olhe para frente, Christopher... Eu estou bem aqui.

O tempo se tornou mais lento e as pessoas se afastaram. Era como se uma mágica estivesse acontecendo ali e o vento havia feito um caminho para mim. E foi quando a vi. Seu sorriso perfeito, seus cabelos presos num rabo-de-cavalo com a brisa forte esvoaçando cada fio de vermelho, naquele mesmo tom que eu sempre imaginara. Estava vestida com um casaco preto, calça jeans e botas de cano longo que combinavam com o casaco. Não conseguia me mover, continuei ali parado, admirando toda aquela perfeição e guardando na minha memória cada detalhe daquele momento. Era definitivamente muito melhor do que eu sempre havia imaginado!

Dulce: Estou esperando por você...

Sua voz saiu num sussurro e eu vi como seu sorriso não desaparecia do rosto.

Christopher: Eu vou fazer isso tudo valer à pena. Pode apostar...

Fechei meu celular e guardei no bolso, sem tirar meus olhos dela. Dulce fez o mesmo e virou seu corpo completamente, enquanto todo o vento seguia fazendo o caminho de folhas em sua direção.
E foi então que eu dei o primeiro passo para finalmente tocar pela primeira vez a mulher com quem eu passaria para o resto da vida. Dizem que você só pode ter certeza disso quando vê a pessoa, a mágica acontece e seu coração simplesmente sabe. Se antes não acreditavam quando eu dizia que a conhecia somente por sua voz, agora os céticos podiam estar seguros de que eu estava mesmo vendo todo o meu futuro ali. Sabia disso pela voz, pelo olhar e por todos os sentimentos que estavam preenchendo cada célula do meu corpo nesse momento. Eu a amava... E o beijo que lhe daria nos próximos segundos diria por si só tudo o que eu sentia...

--*