Fanfic: FOI POR ENGANO - DyC

Eu não pude esperar sua ligação de volta. Tive que voltar para o trabalho e lá fiquei até dez da noite.
Assim que cheguei em casa, fui tomar um banho, pois estava exausta. Os negócios de James iam muito bem e eu ficava louca com tantos papéis e reuniões diárias.
Fiquei mais de uma hora na banheira, relaxando. Precisava disso para tirar toda essa energia de cima de mim, precisava realmente descansar. Isso porque amanhã tinha mais trabalho pela frente.
E imersa em tanta espuma, eu me lembrei do último telefonema. Da forma em como nos desafiamos e como eu gostei daquilo tudo. Christopher realmente sabia como lidar com as palavras. Sabia até demais.
Eu me enrolei numa toalha e esquentei qualquer coisa pra comer. Coloquei uma camisola qualquer e foi só então que eu vi que tinha duas chamadas não atendidas no meu telefone. Olhei no identificador de chamadas e vi que o número era muito parecido com o da minha irmã, com exceção dos dois últimos dígitos. Só podia ser ele.
Eu sorri, vendo que ele tinha retornado a ligação, como prometido. Peguei o sanduíche no microondas e me sentei no sofá, cruzando as pernas e com um pratinho em cima do colo. Peguei o telefone e disquei o número.
Depois de chamar umas cinco vezes eu escutei sua irresistível voz.

Christopher: Alô?

Ups. Pela sua voz de sono, eu o havia acordado outra vez.

--*

Eu ouvi aquela sua voz do outro lado da linha, me acordando novamente, mas dessa vez o que eu senti passou longe da raiva.

Dulce: Perdão outra vez. Não sabia que estava dormindo.
Christopher: Tudo bem, já estou acostumado mesmo.
Dulce: Pensei que já estaria acordado. Aí já não são sete horas? Que horas você sai pro trabalho?
Christopher: Sete horas??

Eu olhei no relógio ao lado da cama e me assustei.

Christopher: Meu Deus! É pra eu estar no trabalho sete e meia!
Dulce: Há! Eu servi pra alguma coisa, viu? Se não fosse por mim, você teria perdido a hora.

Eu me levantei correndo da cama e abri o armário, pegando o primeiro paletó que vi na frente.

Christopher: É verdade, tenho que te agradecer por isso.
Dulce: Enfim, eu só liguei porque vi que tinha duas ligações perdidas aqui e imaginei que fossem suas.
Christopher: Sim, eu te liguei ontem, para me desculpar por causa de Verônica.
Dulce: Oh, não se preocupe, ela é sua namorada, eu entendo.
Christopher: Ela ainda não é minha namorada.
Dulce: Tanto faz. Bom, vá se arrumar, não vou atrapalhar mais.
Christopher: Não! Pode falar, eu consigo fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
Dulce: De verdade? E isso tudo pra falar comigo?

Eu sorri, já vestindo a calça, enquanto falava com ela.

Christopher: Digamos que sim.
Dulce: É tão agradável assim ouvir minha voz de matraca?
Christopher: Sim, mas até do que você pensa.

--*

Eu sorri automaticamente, ao ouvi-lo dizer aquilo. Não sabia se Christopher era conquistador assim mesmo ou se fazia pra me desafiar, como sempre.

Dulce: Bom, eu vou dormir. Aqui já é tarde e amanhã eu acordo cedo. Tem certeza de que era só aquilo que queria falar?
Christopher: Sim. Por acaso teria mais alguma coisa?
Dulce: Não sei...vai que Verônica tinha te dado um fora e você queria desabafar com alguém, sei lá.

Eu o escutei gargalhar do outro lado da linha e mordi um dedo, rindo também.

Christopher: Acredite, é mais fácil acontecer ao contrário. Só estou com ela ainda porque Verônica pediu mais uma chance pra me conquistar ontem à noite, senão...
Dulce: Viu? Eu estava certa...você já está desabafando.
Christopher: Não estou desabafando, você que perguntou por ela e...ah, deixa!
Dulce: Eu tava brincando, pode falar!
Christopher: Agora não quero mais.
Dulce: Fala, Christopher. Você vai ficar com ela ou não?
Christopher: Ao meu ver, você está muito interessada nisso.

Ele estava virando o jogo contra mim e eu sabia disso.

Dulce: Não estou interessada, só sou apenas um pouco curiosa. Por que eu estaria interessada em seus casos amorosos?
Christopher: Não sei...me responda isso você.

Eu fiquei sem saber o que dizer e era como se eu pudesse ver o seu sorriso, sabendo que a batalha de hoje ele tinha ganhado.

Dulce: Sério, eu vou dormir.
Christopher: Não pensei que você fosse desistir tão fácil...
Dulce: Você está atrasado.
Christopher: E você está mudando de assunto.
Dulce: Eu estou com sono.
Christopher: Não, você não quer admitir que perdeu dessa vez.
Dulce: Tudo bem Christopher, eu perdi, posso dormir?
Christopher: Boa noite, Cinderella. Cuidado pra não virar abóbora.
Dulce: Quem vira abóbora é a carruagem, não ela.
Christopher: Tanto faz, você entendeu.

Eu ri mais uma vez e resolvi me despedir, antes que dormisse falando com ele no telefone.

Dulce: Sério, Christopher. Boa noite e bom trabalho.
Christopher: Pra você também. Pode deixar que mais tarde eu me vingo.
Dulce: Hã? O que você quer dizer?
Christopher: Nada, Dulce. Beijos.

E ele simplesmente desligou o telefone. Eu fiquei olhando pro aparelho, tentando entender o que ele queria dizer. Dei de ombros e deixei pra lá, indo deitar em minha cama e tentando descansar do exaustivo dia de trabalho que havia tido hoje.

--*

Eu desliguei o telefone sorrindo que nem bobo e vi que tinha me distraído tempo demais falando com ela. Vesti a roupa com toda a pressa possível, passei perfume, desodorante, coloquei gel no cabelo e peguei as coisas do escritório.
Assim que saí do quarto encontrei com Any, que bocejava, pois tinha acabado de acordar.

Christopher: Tchau minha irmã, já vou pro trabalho, nem tomei banho de tão atrasado.
Anahí: Credo, Christopher.
Christopher: Ou era o banho ou o meu horário. Eu to fedendo por algum acaso?
Anahí: Não, você nunca está fedendo e sabe disso. Pelo menos escovou os dentes pra tirar o bafo?
Christopher: Pelo amor de Deus Any, eu ainda tenho que ouvir essas coisas de manhã. Enfim, estou indo, até de noite.

Eu lhe dei um beijo no rosto e saí correndo até o carro, indo para o trabalho. Cheguei lá no horário certo e morto de cansado, mas pelo menos cheguei a tempo.

Christian: Nossa, veio correndo pro trabalho hoje, foi?
Christopher: Acordei super atrasado. Lembra da moça da água de coco?
Christian: Sim, o que tem ela?
Christopher: Ela que me acordou com um telefonema, senão estaria super atrasado.
Christian: Sei...você está bastante empolgado com essa aí. Pra conseguir te tirar da cama assim, alegre...

Eu revirei os olhos e comecei a mexer na papelada. Christian disse mais qualquer coisa sobre o assunto e logo saiu, me deixando resolver os assuntos sozinho.
Passei o dia todo olhando o relógio. Estava contando as horas para fazer uma surpresinha pra ela. Dei alguns telefones, atendi a alguns clientes e logo chegou meu horário de almoço. Assim que acabei de comer, liguei pra Any, pra que ela me desse o telefone de Dulce que havia ficado no identificador de chamadas.
Ainda faltava meia hora para ligar na hora certa, mas eu não estava me agüentando mais. Dulce que me desculpasse, mas alguém ia acordar mais cedo pra ir pro trabalho hoje.

--*

Eu acordei com um susto, quando ouvi o telefone tocar prontamente. Coloquei o travesseiro no ouvido, tentando afastar aquele barulho irritante, mas só o que eu consegui foi ficar com mais dor de cabeça. Olhei no relógio e vi a hora que era...faltava ainda uma hora pra eu acordar pra ir pro trabalho! Quem era o inconveniente que estava me ligando a essa hora?
De repente me veio um estalo, me lembrando que Christopher tinha falado que mais tarde ia se vingar. Eu levei às mãos ao rosto e comecei a rir, pegando o telefone.

Dulce: Falta uma hora ainda pra eu me arrumar pro trabalho, não podia ter ligado um pouquinho mais tarde não?

Ele gargalhou do outro lado da linha e eu sorri junto.

Christopher: Assim é bom que você não se atrasa. Mas como sabia que era eu?
Dulce: Quem mais podia ser? Você é o único inconveniente que me liga a uma hora dessas.
Christopher: Ligo porque uma inconveniente aí também já cansou de fazer isso comigo.

Eu revirei os olhos e me levantei, indo comer alguma coisa na cozinha.

Dulce: Pode deixar que amanhã é minha vez de novo.
Christopher: E a gente vai ficar nesse ciclo vicioso pra sempre?
Dulce: Bom...ouvir sua voz é melhor que ouvir o barulho do despertador, então...
Christopher: Obrigado. Já me disseram antes o quanto minha voz é bonita, mas obrigado.
Dulce: Metido! Ao contrário de você eu tenho uma voz horrível.
Christopher: Já disse que eu não acho. Senão não adoraria ser acordado por você.

Eu quase deixei o pote de sucrilhos cair e comecei a rir.

Dulce: HÁ! Você está mesmo admitindo que gosta de ser acordado por mim?
Christopher: Bom...digamos que ouvir sua voz é melhor que ouvir o barulho do despertador.
Dulce: Sabia! Então estamos combinados? Vamos virar o despertador um do outro?
Christopher: Eu adoraria. Mas vê se me acorda na hora certa, por favor.
Dulce: Eu digo o mesmo para o senhor, viu?

Ele apenas riu, enquanto eu colocava o sucrilho no pote.

Christopher: Que barulho é esse?
Dulce: Sucrilhos! É o meu café da manhã.
Christopher: Que tipo de adulto come essas coisas? Quem come isso são meus sobrinhos.
Dulce: Ta bom idoso e você come o que? Banana com aveia?
Christopher: Muito engraçada. Eu só tomo café mesmo e como qualquer coisa na rua, antes de ir pro trabalho.
Dulce: Aí você engorda e aumenta o seu colesterol. Sucrilho tem fósforo, ferro e é muito bom pra saúde. É bom pro crescimento.
Christopher: Crescimento? E por acaso você não cresceu tudo que tinha pra crescer não?
Dulce: Eu espero realmente que não. Porque é deprimente ter um e sessenta e dois de altura com vinte e três anos de idade.
Christopher: Você é baixa assim mesmo? Do meu lado vai ficar uma anã, tenho um e oitenta.
Dulce: Muito obrigada por aumentar minha auto-estima logo pela manhã.

Ele começou a rir e meu interfone tocou.

Dulce: Só um minuto Christopher, vou atender o interfone.
Christopher: Claro, à vontade.

Eu deixei o telefone em cima da pia e fui atender o interfone. O porteiro me disse que era Roger e eu arregalei os olhos, me perguntando o que ele estaria fazendo aqui a essa hora. Mandei ele subir e logo peguei o telefone, falando com Christopher outra vez.

Dulce: Christopher, desculpa, mas eu vou precisar desligar. Meu namorado acabou de chagar aqui e já está subindo.
Christopher: Seu...namorado?

--*

Eu gelei quando ela disse aquilo. Então Dulce tinha um namorado...não devia me afetar, verdade? Afinal de contas, ela era só uma Mexicana com quem eu gostava de falar. Mas mesmo contrariando toda a lógica, isso me incomodava.

Dulce: Sim, meu namorado. Qual o problema?
Christopher: Não, nenhum. É que você nunca o tinha mencionado, fiquei surpreso.
Dulce: Perdão, não achei necessário. Mas enfim, ele está subindo, preciso desligar. Posso te ligar mais tarde?
Christopher: Claro, como quiser. Até mais tarde.
Dulce: Até.

E foi a última coisa que ela respondeu antes de desligar o telefone. Eu pus os ombros na mesa e passei as mãos pelo cabelo, tentando entender porque eu estava me sentindo assim tão...mal. Eu estava confuso ultimamente, não sabia o que pensar nem no que fazer.
Resolvendo esquecer de Dulce por um momento, pego meu telefone. Mas dessa vez a ligação não é para o México.

Christopher: Alô? Poderia falar com a Verônica?

--*

Roger chegou em meu apartamento sorrindo que nem um bobo e me trouxe uma caixa de bombons. Eu lhe dei um selinho e lhe deixei entrar, enquanto colocava os bombons em cima da mesa.

Dulce: O que faz aqui tão cedo de manhã? Eu acordei tem pouco tempo.
Roger: Queria ver minha namorada logo cedo.
Dulce: E não se assustou com a minha cara?
Roger: Dul, por favor...não começa. Vim pra irmos juntos para o trabalho, o que acha? Podemos também almoçar juntos num restaurante sofisticado.
Dulce: Tudo bem, você que sabe. Me espera tomar um banho? Se quiser, pode comer alguma coisa na cozinha.
Roger: Claro, vai lá.

Eu lhe dei mais um selinho e fui para o banheiro, pegando minha roupa e ligando o chuveiro. Ainda estava intrigada, pela mudança na voz de Christopher quando mencionei que meu namorado estava subindo. Eu devia estar ficando louca, mas podia jurar que ele havia mudado o seu tom. Eu balancei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos da minha cabeça, afinal, meu namorado estava na sala, não devia estar pensando em outro. Então por que Christopher não saía da minha mente um minuto sequer?

--*

Verônica: Oh, nem acredito que veio me buscar, bebê!

Verônica me deu um beijo, assim que eu cheguei em sua casa. Havia chamado-a pra jantar, pra conversarmos um pouco. Precisa me distrair e tirar uma certa pessoa da minha cabeça, e Verônica seria o remédio perfeito.
A estava levando para um restaurante, onde a especialidade eram os frutos do mar. Pedimos nossa comida, enquanto ela falava sem parar sobre como havia sido seu dia.

Christopher: E o que houve depois?
Verônica: Ah, eu falei pro dono que a data daquela inauguração não era apropriada, mas ele se achou melhor que a profissional e não quis mudar. Não sei porque chamam a gente, se no final querem fazer tudo por conta própria!
Christopher: É normal, coisa de gente rica, você sabe. Gostou do bacalhau?
Verônica: Sim, está uma delícia! Esse restaurante é ótimo!
Christopher: Também acho. Adoro esse tipo de comida e você?
Verônica: Idem! Podemos vir mais vezes aqui futuramente.
Christopher: Claro, seria perfeito.

Eu sorri pra ela, enquanto acabávamos de comer. Depois que paguei a conta, nós fomos andar pelas ruas, admirando a bela paisagem de Madrid. Já eram quase nove horas da noite e o céu estava bastante estrelado.
Eu me assustei, quando vi no meio de uma praça, um grupo de Mariachis tocando e cantando "Bésame mucho". Arregalei os olhos, não acreditando que estava vendo aquilo ali.

Christopher: O que um grupo de Mariachis faz aqui em Madrid?
Verônica: Estão apenas tentando ganhar dinheiro, não está vendo? Seguro são imigrantes, ilegais ainda por cima, não sei como as pessoas gostam disso.
Christopher: Ah, eles cantam bem.

Verônica revirou os olhos, entediada e pegou algo no bolso.

Verônica: Eu vou comprar um sorvete pra mim na padaria, quer também?
Christopher: Não obrigado, eu te espero aqui.
Verônica: Ok.

Verônica saiu, enquanto eu me aproximava mais do Mariachis, vendo como eles cantavam bem. Era engraçado como eu tentei esquecer o dia todo de Dulce, mas aparece na minha cidade coisas típicas do seu país. Ainda sorrindo, joguei uma moeda de dois euros na capa do violão aberto na rua. Logo em seguida, peguei meu celular, discando o seu número. O telefone chamou, chamou, mas ninguém atendeu. Logo eu me lembrei que ela devia estar no trabalho e só ia chegar provavelmente quando eu já tivesse dormindo. Queria ligar para o seu celular, mas logo lembrei que não tinha o número deste. Então, me conformei em apenas deixar um recado na sua secretária eletrônica.

Christopher: Dulce...desculpa estar incomodando...se eu tiver sendo um chato, em ficar ligando assim toda hora pode falar, sério. Mas...é que eu acabei de ver um grupo de Mariachis tocando aqui nas ruas de Madrid e me lembrei logo de você. Engraçado como são as coisas...nunca tinha visto algo assim por aqui antes e depois de ter conhecer, eles aparecem. Enfim, só queria pedir também o número do seu celular, já que eu queria te ligar agora, mas sei que deve estar no trabalho. E...é isso! Se puder retornar a ligação, a hora que for, eu ficarei muito agradecido. Até mais.

E então, eu desliguei o telefone, desejando com todo o meu coração que ela me ligasse de volta.

--*

Roger havia me deixado em casa, depois do trabalho. Por sorte, James havia me liberado mais cedo, então, oito em ponto já estava em casa.

Roger: Está entregue.
Dulce: Muito obrigada. Amanhã a gente se vê então?
Roger: Claro. E Dul...desculpe, eu não sabia que você não gostava de frutos do mar. Não devia ter te levado naquele restaurante.
Dulce: Não tem problema, estamos namorando há pouco tempo, não tinha como você saber. De verdade, não se preocupe com isso.

Eu lhe dei um selinho e saí do carro, vendo-o ir embora. Quando me viro para entrar no prédio, ao meu lado passa um rapaz com a camisa do Real Madrid. Arregalei os olhos imediatamente, não acreditando no que estava vendo. Eu comecei a rir sozinha, entrando no meu prédio e vendo quantas horas faltavam para que eu o acordasse. Afinal, era isso o que tínhamos combinado, não?
Mas assim que entrei em meu apartamento, vi que não ia esperar muito. Vi que tinha um recado na minha secretária eletrônica e sabia que só podia ser dele. E tive a comprovação, quando ouvi aquela sua voz rouca e perfeita.

Christopher: Dulce...desculpa estar incomodando...se eu tiver sendo um chato, em ficar ligando assim toda hora pode falar, sério. Mas...é que eu acabei de ver um grupo de Mariachis tocando aqui nas ruas de Madrid e me lembrei logo de você. Engraçado como são as coisas...nunca tinha visto algo assim por aqui antes e depois de ter conhecer, eles aparecem. Enfim, só queria pedir também o número do seu celular, já que eu queria te ligar agora, mas sei que deve estar no trabalho. E...é isso! Se puder retornar a ligação, a hora que for, eu ficarei muito agradecido. Até mais.

Eu mordi os lábios e fechei os olhos, me sentido incrivelmente feliz em ouvir aquilo. Sem demora, peguei o telefone e disquei seu número. Pelas contas, deviam ser três da manhã lá...mas como ele disse pra eu ligar a hora que for, então acho que não teria muito problema.

--*

Eu acordei de repente, com o barulho do telefone. Havia demorado muito pra dormir, pensando nela e finalmente quando tinha conseguido, o telefone me acorda. Mas assim que eu vi que era o seu número, resolvi esquecer da raiva e me sentei na cama, falando alegremente.

Christopher: Você me acordou.
Dulce: Jura? Que novidade! Deixa de ser preguiçoso Christopher, toda vez que eu te ligo você está dormindo!
Christopher: Desculpa se aqui são 3:10 da manhã e eu acordo às 7 pra trabalhar.

Nós dois rimos ao mesmo tempo e eu passei a mão pelo rosto, tentando espantar o sono.

Dulce: Eu ouvi seu recado. Você disse pra ligar a hora que fosse, então...
Christopher: Tudo bem, eu lembro do que eu disse.
Dulce: Quer anotar logo meu celular?
Christopher: Claro, só um minuto.

Eu me levantei, ainda meio cambaleante e acendi a luz do quarto, tentando achar algum papel e caneta. Assim que achei, me sentei na mesa que tinha no quarto, esfregando o olho e voltando a falar com ela.

Christopher: Pode falar.

Ela me disse seu número e eu anotei tudo certinho. Também dei o meu pra ela, pra ela poder ligar, sem acordar a casa toda.

Dulce: Pronto, tudo anotado. Sabe o que é o mais engraçado?
Christopher: O que?
Dulce: Você disse que se lembrou de mim com os Mariachis na sua cidade. E agora, quando meu namorado me trouxe em casa, eu vi um rapaz com a camisa do Real Madrid. Estranho, não?

E lá vai ela falar do namorado outra vez. Mas a segunda observação era mais importante, então resolvi provocar.

Christopher: Realmente, é engraçado. Se você não tivesse namorado, eu diria que nós fomos feitos um para o outro. Até o destino está ao nosso favor.

Ela ficou quieta e eu pensei que talvez não tivesse dito isso.

--*

Eu fiquei quieta, sem saber o que responder. Ele realmente havia me pegado de surpresa e eu fiquei sem ação. Era realmente estranho esses sinais que estavam aparecendo, mas era mais estranho ainda pensar que o amor da minha vida estivesse do ouro lado do Oceano, ou pior, que eu o tivesse conhecido por telefone.
Mas como ele gostava de provocar, eu também amava. E estava sentindo que nosso jogo de palavras ia começar outra vez.

Dulce: Pois é, pena que eu tenho.
Christopher: Pena?
Dulce: Não no sentido que você pensou, mas sim no sentido da sua frase.
Christopher: Não entendi.

Eu comecei a rir e passei a mão pelo rosto.

Dulce: Não me complica, Christopher!
Christopher: Você que está se auto-complicando!
Dulce: Idiota!

Eu tava rindo que nem uma boba e vi que a verdadeira idiota ali era eu.

Dulce: O que eu tava querendo dizer é que não temos como ser feitos um para o outro, já que moramos em continentes diferentes e porque eu tenho namorado.
Christopher: Ah, então quer dizer que se morassemos no mesmo lugar e você fosse solteira seriamos feito um para o outro?
Dulce: Interprete como quiser.
Christopher: Bom saber.

Nós ficamos em silêncio e eu mordi meus lábios, me lembrando de algo.

Dulce: Mesmo que eu não tivesse...você tem Verônica.
Christopher: Só tenho porque você tem...seu namorado.

Ok...essa conversa já estava indo longe demais.

--*

Eu estava exagerando, sabia disso, mas eu não podia controlar minhas palavras. Era muito bom provocá-la e gostava da sensação que invadia meu estômago quando eu fazia isso.

Christopher: Perdão...falei demais.
Dulce: É, falou sim. Mas não se preocupe, por você eu tenho memória curta.
Christopher: Ui, quer dizer que eu tenho privilégios então?
Dulce: Não se anime, é só desta vez. Cuidado pra não falar besteira.
Christopher: Se você acha que é besteira...tudo bem.
Dulce: Você mesmo admitiu que falou demais!
Christopher: Eu disse que havia falado demais...não que havia dito besteira.

Ela ficou em silêncio outra vez e eu imaginei seu rosto corado...mesmo não tendo a mínima idéia de como ela era.

Christopher: Dulce...como você é?
Dulce: O que?
Christopher: Você, sua aparência. Como você é? Eu preciso falar contigo de imaginando de alguma forma, não é?
Dulce: Bom...como eu sou? Eu sou feia ué.

Eu revirei os olhos e comecei a rir.

Christopher: Ok, independente de você ser feia ou não, me diga o seu tipo físico. Loira, morena, olhos claros, escuros...
Dulce: Ah sim! Bom...eu fui morena até meus quinze anos de idade. Desde então eu virei ruiva.
Christopher: Uau! Acho que nunca conheci ninguém ruivo.
Dulce: Então, muito prazer.

Eu sorri novamente e comecei a imaginar.

Christopher: Continue, por favor.
Dulce: Tenho olhos castanhos...cabelo liso e...ah sei lá, Christopher, sou normal!

Eu ri mais uma vez, vendo que a imagem sua em minha cabeça estava ficando incompleta.

Dulce: E você como é? Agora eu também quero te imaginar.
Christopher: Também acho que não tenho muito o que dizer...cabelos castanhos, curtos, olhos escuros, sou bem branquinho...e só!
Dulce: Viu como é difícil falar de si mesmo?
Christopher: Verdade. Mas ao contrário de você, eu me acho bonito.

--*

Eu imaginava seu rosto, ainda que um pouco borrado em minha mente. E se ele estava dizendo que era bonito, quem era eu pra discordar?
Nós passamos as próximas duas horas e meia no telefone. Não sei de onde tanto papo surgiu, mas um assunto levava o outro e sem que déssemos conta, já havíamos contado um pouco sobre a nossa infância, o que mais gostávamos de fazer, sobre a nossa família e etc.
Quando olhei no relógio vi que já ia dar meia- noite e só então senti minha orelha arder.

Dulce: Ai, acho que nunca falei com ninguém por tanto tempo no telefone.
Christopher: Eu também não. Mas eu gostei, sabe? Pude conhecer mais sobre você.
Dulce: É, eu também. Você não tem que ir pro trabalho? Pelas minhas contas, aí já é quase sete da manhã, não é?
Christopher: Verdade. Olha o que você faz comigo! To acordado desde às quatro, só pra falar contigo. Quero ver se eu dormir no trabalho. Vou ter que dizer que fiquei até de manhã com uma ruiva do México, que me tirou o sono.
Dulce: Essa frase tem duplo sentido. Ele pode pensar que você está tendo um caso com uma estrangeira.
Christopher: Deixe que ele pense o que quiser, não me importa. Além do mais, se eu estiver certos e formos feito um para o outro, um dia ele vai entender bastante bem essa frase.

Eu comecei a rir, pois Christopher estava falando aquelas coisas outra vez.

Dulce: Ok então, vai trabalhar.
Christopher: Tá me expulsando?
Dulce: Não, apenas estou preocupada com o seu atraso. E não quero ser responsável por ele.
Christopher: Tudo bem então. Mas não pense que eu esqueci o combinado. Quando for duas horas da tarde aqui eu vou ligar pra te acordar e você vai ter que ficar ouvindo minha voz chata outra vez.
Dulce: Sua voz não é chata, ao contrário. E eu não esqueci não, pode ligar. Digo, isso se você não tiver roncando em cima da mesa do escritório, não é?

Ele soltou uma gargalhada e eu sorri também, tentando imaginar seu rosto sorrindo.

Christopher: Não se preocupe, tomarei dez xícaras de café para me manter acordado. Foi muito bom passar essas três horas com a orelha ardendo só pra falar com você, Dulce.
Dulce: Eu digo o mesmo. Mas como tudo o que é bom dura pouco, eu tenho que dormir e você tem que trabalhar.
Christopher: Verdade, então...boa noite pra você.
Dulce: Até mais tarde.

E sem dizer mais nada, eu desliguei o telefone. Minha orelha estava ardendo e vermelha, mas tinha valido à pena cada segundo que eu passei falando com ele. De uma forma inexplicável, Christopher tirava a minha solidão, mesmo estando do outro lado do Oceano. Eu gostava muito de falar com ele, mas até do que eu podia gostar. Afinal, eu tinha namorado. Mas eu não conseguia pensar em Roger agora. A única coisa que estava em minha mente era deitar e dormir logo, para ser acordada no dia seguinte por aquela linda e rouca voz.

--*

Eu fui para o trabalho que nem um zumbi no dia seguinte. Tomei duas xícaras de café antes de sair de casa, mas mesmo assim meus olhos continuaram ardendo. Cheguei até um pouco tarde no trabalho, pois dirigia devagar para não sofrer nenhum tipo de acidente. Mas assim que cheguei vi que não era o único atrasado. Minha secretária não havia chegado ainda e eu estranhei, pois ela era uma das primeira a chegar. A fiquei esperando pelas próximas duas horas, até que fui ao escritório de Christian, ver se ele sabia de algo.

Christian: Você não está sabendo?
Christopher: Não...o que eu deveria estar sabendo?
Christian: Fátima ficou grávida e vai voltar pra Portugal, parece que o pai do filho dela mora lá e quer ver o filho crescer. Acho que ela deve estar indo agora pra lá.
Christopher: O que?? A secretária é minha e ninguém me avisa nada?
Christian: Ela deixou a carta de demissão aqui ontem à noite. Você saiu mais cedo, não foi?
Christopher: Sim, não tinha mais nada a se fazer aqui e fui embora. Mas ela podia ter me avisado! Passei por ela inúmeras vezes e não foi capaz de me dar uma palavra!
Christian: Vai saber.
Christopher: E o que eu faço agora? Estou sem secretária, não vou conseguir cumprir meus compromissos, minha cabeça é péssima.
Christian: Bom, ela deixou a agenda aqui. Vai vendo as coisas e marcando suas próprias reuniões, vou falar com meu pai e ver se ele providencia isso logo.
Christopher: Por favor, faça isso por mim. Não vou conseguir sobreviver sem uma secretária.

E sem dizer mais nada, voltei ao escritório com a agenda na mão, vendo qual seriam meus próximos compromissos. Eu olhei para aquela montanha de papéis e datas e achei que ia ficar louco. Eu precisava de uma secretária e era pra hoje!
De repente, eu olhei pro telefone, me lembrando de que eu conhecia uma secretária...ela podia viver do outro lado do Oceano, mas quem sabe não podia me ajudar temporariamente, enquanto Christian não me arranjava alguém?

--*