Fanfic: FOI POR ENGANO - DyC

Acordei de manhã com o barulho do meu telefone tocando. Me espreguicei e imediatamente sorri, já atendendo o telefone de muito bom humor.

Dulce: Muito bom dia!
Christopher: Boa tarde, pra mim. Já estava acordada?
Dulce:Não, acordei com o barulho do telefone.
Christopher: E você acorda sempre de bom humor assim ou está feliz porque sabia que era eu?

Eu comecei a rir e passei a mão pelo rosto, já me sentando na cama.

Dulce: Não começa Christopher!
Christopher: O que foi? Sua guerrinha de palavras não funciona de manhã?
Dulce: Não quando eu vejo que tenho treze horas ou mais pela frente de trabalho.
Christopher: Pensei que gostava de lá.
Dulce: Eu gosto, afinal meu namorado trabalha lá. Mas acho que James exagera na carga horária. Tudo bem que eu ganho mais do que uma secretária normal ganharia, mas eu sou um ser humano e fico cansada também.
Christopher: Entendi. Bom, se quiser eu tenho a uma ótima alternativa pra tornar o seu trabalho menos exaustivo.
Dulce: Ah é? Posso saber como?
Christopher: Trabalhe pra mim.

Eu quase tropecei quando ele disse isso, pois estava calçando minhas pantufas na hora.

Dulce: O que? Trabalhar como?
Christopher: Largue esse emprego e venha pra cá. Eu preciso de uma secretária, eu quero te conhecer pessoalmente, você ficaria mais perto de sua irmã e ainda trabalharia menos. Olha quantas vantagens teria!

Eu ri outra vez, tendo a plena certeza de que ele era um louco.

Dulce: E você acha que é assim, Christopher? Pedir demissão, pegar um vôo pra Espanha e passar a morar aí?
Christopher: Qual é o problema? Você mesmo disse que ganha bem, poderia alugar uma casa, até arranjar uma para comprar.
Dulce: Não é só isso. Toda minha vida está aqui. Se fosse fácil, eu teria ido com a minha irmã pra aí, pois eu morro de saudades dela.
Christopher: Por que não veio? Seria tão mais fácil pra nós...você não estaria namorando, eu não estaria com Verônica. Tudo podia ser mais simples.

Eu fiquei quieta, enquanto mexia a colher em círculos na minha xícara de café. Eu respirei fundo, pois me sentia constrangida com as suas insinuações. Mas eu sabia, que lá no fundo, eu queria encontrar com ele também.

Dulce: Verdade, mas as coisas não são simples. Você tem que cuidar da sua namorada e deixa que eu cuido do meu.
Christopher: Porque sempre temos que falar deles em nossas conversas?
Dulce: Por que ele existem e devem ser considerados importantes?
Christopher: Pra você. Pra mim Verônica não é importante.

Eu arqueei uma sobrancelha, tentando entender algo.

Dulce: Então essa é a importância que você dá para as mulheres?
Christopher: Ela não é minha namorada. Já te disse isso.
Dulce: E daí? Mas você tem algo com ela, não pode negar.
Christopher: Pode ser, mas eu preciso esperar mais um pouco.
Dulce: Esperar o que, Christopher? Acho que se você não gosta dela, o melhor é terminar tudo de vez, não? Fica iludindo a moça, à espera de sabe-se lá o que para depois jogá-la fora. Não é uma atitude de homem que eu gosto.

Ele ficou calado por um momento e eu pensei ter exagerado. Mas eu não ia deixar de dizer o que eu pensava. Christopher que me desculpasse, mas se tem uma coisa que eu jamais deixava de lado era minha sinceridade.

--*

Não gostava da forma que ela falava de mim. Mal me conhecia e já estava me julgando um cafajeste ou sabe-se lá o que ela pensa. Dulce devia aprender as coisas antes de falar demais. Eu não sei porque havia me incomodado tanto sua opinião sobre as atitudes masculinas que ela gostava ou não. Então eu resolvi me explicar e deixar bem claro o que eu pensava a respeito disso.

Christopher: Dulce, escuta uma coisa...Eu já tenho vinte e sete anos, já não estou mais para simples casinhos com meninas que não têm nada na cabeça. Quero me casar e ter um rumo pra minha vida.Não ficar pulando de galho em galho por aí.
Dulce: Se diz pensar assim, termine com ela então! Não creio que está com uma mulher que considera burra. Nem todo mundo é obrigado a saber de tudo! Isso é muito ignorante da sua parte, ao meu ver.

Eu estava ficando cada vez mais estressado e tentava ao máximo não explodir com ela.

Christopher: Ao seu ver, mas ao meu não. Eu não quero mulheres fúteis e superficiais, quero alguém com quem eu possa conversar sobre minhas coisas e entender o que eu estou falando.
Dulce: Então é só isso o que importa pra você? Sabe? Eu sempre odiei os homens que se importam mais com a beleza...mas aqueles que se importam somente em conhecer alguma gênia de matemática também não são legais. Será que os homens não conseguem entender que se deve ter um equilíbrio nisso?
Christopher: O que você quer dizer?
Dulce: Se você se apaixonar por uma mulher um pouco ignorante, não vai ficar com ela e ser feliz só porque ela não entende de seus assuntos? Oh, por favor, isso é patético!
Christopher: Não é isso. O problema é que não existe nenhuma mulher capaz de ser inteligente e fazer com que eu me apaixone por ela ao mesmo tempo. Bom, não aqui na Espanha, talvez no México, quem sabe.

Eu estava tentando descontrair um pouco, mas parece que ela entendeu novamente errado.

Dulce: Então é por isso que você fica dando essas constantes indiretas? Porque me acha inteligente e está caçando alguém para se casar? E por acaso apareceu na sua vida alguém que trabalha no mesmo ramo que você, então eu seria a garota perfeita para as suas conversas sobre advocacia? De verdade Christopher, eu esperava mais de você.
Christopher: Não dou indiretas pra tentar te conquistar e casar logo contigo. Seria loucura, eu apenas...gosto de provocar, de brincar, não sei, eu...
Dulce: Christopher, cala a boca, você está falando mais besteira ainda! Eu já vou avisando que eu estou ocupada para relacionamentos, muito bem ocupada. E o fato de eu falar com você não quer dizer que eu vá que nem uma louca até a Espanha à sua procura! Procure outra nerd para casar e dar o rumo que você quer para a sua vida, porque comigo você nunca vai conseguir isso. E faça o favor de não me ligar mais, tenho namorado e queira ou não, você também tem alguém, então é melhor pararmos com isso por aqui, porque essa história já foi longe demais. Passar bem!

E antes que eu pudesse responder algo, escuto ‘tu, tu, tu` do telefone. Dulce realmente havia desligado na minha cara?

--*

É claro que eu havia desligado na cara dele! Christopher havia realmente me tirando do sério, com aquele papo machista. Eu era feminista demais pra escutar esse tipo de coisas. Onde já se viu? Eu tinha namorado, ele também, isso não fazia qualquer sentido. E pensar que eu estava caindo em seu jogo me deixava mais furiosa ainda.
Cheguei no trabalho super mal-humorada. Não dei bom dia pra ninguém e fui super grossa com Roger, pois não estava a fim de ficar ouvindo seus papos melosos. Ele viu meu estado de humor e me deixou sozinha, com aqueles mil papéis que James havia me entregado. Eu juro que não ia sair desse escritório viva. E não ia deixar ninguém viver também. Fui grossa até com o entregador de flores que Roger havia mandado pra mim. O até o cheiro de Jasmin, que eram minhas flores favoritas, me irritavam nesse momento.
Estava tão irritada que na hora do almoço nem quis sair pra comer. Simplesmente liguei pra minha irmã, pra ver se ela conseguia melhorar o meu humor.

Bianca: Até que enfim, hein! Faz tempo que você não me liga...
Dulce: Ah, não começa você também não Bianca! Eu estou pra comer alguém vivo, to até pensando em virar canibal!
Bianca: Credo menina, o que aconteceu?
Dulce: Nada, é...é aquele espanhol irritante, arrogante, prepotente e egocêntrico!
Bianca: Nossa, quantos adjetivos simpáticos. O que ele fez dessa vez?

Tive que contar toda a história para minha irmã, para que ela entendesse o motivo de tal irritação. E quando finalizei a história, a única coisa que escutei foi uma gargalhada sua, que me irritou mais ainda.

Dulce: Não estou achando graça nenhuma!
Bianca: Mas estou estou! Você exagerou Dul, o cara só estava brincando.
Dulce: Ele não estava brincando Bia, eu tenho certeza disso.
Bianca: Bom, pra mim estava. E mesmo que não estivesse, qual é o problema nisso tudo? Você devia se sentir bem em saber que há um espanhol interessado em você e que te acha inteligente.
Dulce: Ele não está interessado, ele só quer alguém que possa discutir assuntos de trabalho, e como eu trabalho no mesmo ramo, ele se empolgou demais, só isso.
Bianca: Dul, deixa de ser burra! Pelas indiretas que você me contou, é claro que ele gosta de você!
Dulce: Mas...isso é impossível! Ninguém se interessa pelo outro apenas pela voz e alguns dias de conversa. Além do mais eu tenho Roger e ele sabe disso.
Bianca: E daí? O fato de você ter namorado não o impede de gostar de você. E acho que isso vale pra senhorita também, pois mesmo namorando te vejo bem animadinha com...o nome dele é Christopher, não é?

Eu ignorei sua pergunta e vi que ia ter um ataque outra vez.

Dulce: Eu não estou animadinha com ele, ok?? Apenas gostava de conversar, pois sabe que eu sou muito sozinha, mas nada além disso!
Bianca: Ta bom Dul, discutir com cabeça dura não dá certo. Você nunca vai admitir que gosta dele também, mas eu sou sua irmã e te conheço suficientemente bem para saber quando você sente algo por alguém ou não. E me atrevo a dizer que logo, logo o Roger vai dançar.
Dulce: Não diga estupidezes! Eu gosto do Roger, ok?
Bianca: Mas gosta do Christopher também. Quem não deve não teme, minha irmã. E se você ficou tão nervosa com o que eu acabei de dizer, é porque você deve...e muito! Estou errada, Dul?

--*

Já faziam três dias que eu não falava com ela. O destino não fazia com que a ligação caísse aqui ou ela estava evitando ligar para a irmã pra não ter que falar comigo. Foram três dias de puro estresse, de três noites mal dormidas esperando uma ligação sua e três dias agoniantes. Eu estava me sentindo mal, pois sabia que era o culpado de tudo. Queria ligar pra ela e esclarecer as coisas, mas sabia que provavelmente ela bateria o telefone na minha cara.
Tentei sair com Verônica, realmente determinado a não pensar mais nela, a não desejar falar com ela ou ouvir sua voz, mas toda vez que eu me encontrava sozinho no meu quarto à noite, olhando pro telefone, era inevitável não lembrar da sua voz ou de imaginar como seria o seu rosto. Eu ia enlouquecer e Dulce seria a responsável por isso.
Eu já estava indo para a quarta noite insone, quando o telefone toca, quatro horas da manhã. Eu pulei da cama, não só pra não acordar Any e os meninos, mas que eu esperava que fosse ela. A essa hora, só podia ser ela!
E meu coração disparou no peito quando vi seu número no identificador de chamadas. Imediatamente atendi o telefone, com a esperança de que tudo voltasse a ser como antes.

Christopher: Alô? Dulce?

Eu só escutava sua respiração e ela não dizia nada. Eu sabia que ela estava ali e não queria falar comigo. E logo em seguida, ela desligou o telefone, me deixando louco.
Eu me sentei na cama com o telefone na mão, pensando se ligava de volta ou não. E tirando uma coragem não sei de onde, disquei seu número, esperando que ela atendesse logo. Mas ao contrário disso, o telefone chamou, chamou mas ninguém atendeu. Acabou caindo na secretária eletrônica e eu resolvi dizer tudo o que eu estava sentindo ali mesmo, pois tinha certeza que ela ia ouvir.

Christopher: Dulce eu sei que você está aí...vamos parar com isso por favor? Eu sei que me expressei mal, mas não quero que pense que sou daquele jeito. Eu gosto de você, gosto de falar com você e sabia que até chegando atrasado no trabalho eu estou? Não consigo mais levantar com o despertador, só ouvindo sua voz mesmo. Sei que você me odeia nesse momento e que talvez nunca mais queira falar comigo, mas pelo menos podemos conversar pra que eu possa esclarecer tudo? Só o que peço é um último crédito, por favor, eu...

Ela de repente pegou no telefone e eu me surpreendi ao ouvir sua voz.

Dulce: Ok, Christopher. Me dê três motivos pra voltar a falar contigo que eu penso no seu caso.

--*

Ele não ia me convencer, eu sabia disso. Ainda estava muito chateada e não era qualquer coisa que iria me convencer do contrário. Christopher iria ter que ser bem convincente para que as coisas pudessem voltar ao normal outra vez.

Dulce: Estou esperando.

Eu disse, quando vi que ele tinha ficado quieto.

Christopher: Posso pensar? Eu tenho que fazer as coisas direito, pelo menos dessa vez.
Dulce: Não demore muito, pois eu posso cansar de esperar.

Eu o escutei respirar fundo do outro lado, enquanto sentava no sofá, um pouco ansiosa pelo que ele ia dizer. E menos de um minuto depois, Christopher começou a falar.

Christopher: Ok. O primeiro motivo é eu terminar com Verônica e parar de enganá-la com um possível relacionamento entre nós dois futuramente. Você está certa em relação à isso.
Dulce: Quero deixar bem claro que o que eu lhe disse daquela vez não foi pra você terminar com ela e sim se tocar.
Christopher: Então, eu me toquei e quero ser um homem direito agora. Aceita?

Eu parei pra pensar um pouco...afinal, eu nunca tinha ido muito com a cara, ou melhor, com a voz dessa Verônica mesmo...

Dulce: Tudo bem. Mas ainda faltam dois. É melhor achar esses motivos logo.

Ele ficou mais um tempo em silêncio, até que falou outra vez.

Christopher: O segundo é...é...eu ligar pra você e explodir minha conta de telefone. Não precisa mais ligar pra mim, pode deixar que eu me encarrego disso.

Eu estava tentando não rir no telefone, mas era bastante engraçado o esforço que ele estava fazendo. Nunca pensei que ele fosse se esforçar tanto com essas condições e estava realmente surpreendida com tal atitude.

Dulce: Tudo bem, é melhor pra mim porque eu não gasto, já que o maior interessado aqui é você. Só falta um motivo agora, Christopher. Diga apenas mais uma coisa que me convença a voltar a falar contigo outra vez.

Eu pensei que ele fosse demorar mais uma eternidade pra responder, mas para a minha surpresa, ele contestou rapidamente.

Christopher: Uma foto minha.

--*

Dessa vez quem havia ficado em silêncio era ela. Sabia que a havia surpreendido e, na verdade, também surpreendi a mim mesmo, pois havia dito aquilo por impulso.

Christopher: Não vai dizer nada? O você também quer um tempo pra pensar?
Dulce: Não é que...eu não sei o que dizer.
Christopher: Apenas diga sim e então tudo fica mais fácil.
Dulce: Mas pra isso que vou ter que lhe dar meu endereço, não?
Christopher: Claro. Está com medo de eu enviar uma bomba pra sua casa ao invés de uma foto?

Eu a escutei rir do outro lado da linha e fiquei feliz em saber que a estava divertindo novamente.

Dulce: Não sei, é cada coisa que a gente vê por aí.
Christopher: Bom, é um risco que você vai ter que correr.
Dulce: Será que vale à pena?
Christopher: Isso só você pode me dizer.

Ela ficou em silêncio novamente e um largo sorriso estava estampado em meu rosto, pois sabia que estava bem perto de conseguir o que eu queria novamente.

Dulce: Eu ainda acho um motivo fraco...
Christopher: Tudo bem então, a decisão vai estar em suas mãos. Eu lhe mando uma foto minha, se você aprovar, me liga dizendo o que achou. Se não, eu vou ver que você não ligou e vou me mancar, pois saberei que não agradei. Trato feito?
Dulce: Sim! Trato feito. Só há mais uma condição.
Christopher: E qual é?
Dulce: Mande duas fotos. Porque apenas uma engana.
Christopher: Como assim?
Dulce: Às vezes a pessoa estava inspirada e saiu bem naquela única foto. Com duas já é mais difícil enganar...mande com alguém, com seus sobrinhos, sei lá, pra eu ver se aprovo. E espere minha ligação...se eu não ligar, já sabe minha resposta.
Christopher: Pode deixar que eu não vou sair do lado do telefone um minuto sequer. Vou colocar o envelope amanhã mesmo no correio com as fotos e dentro de um pouco mais de uma semana as coisas devem chegar aí.
Dulce: E enquanto isso?
Christopher: Enquanto isso eu cumpro os outros dois tratos e não deixo você em paz um minuto sequer.

E era isso que eu realmente planejava fazer.

--*

Eu não esperava que Christopher levasse isso tão à sério, mas parece que ele levou. Dentro de uma semana, ele me ligou todos os dias, pelos menos três vezes. Pela manhã, quando eu acordava; pela tarde, na minha hora do almoço; e à noite, quando eu chegava do trabalho. Ele já sabia dos meus horários certos e assim que eu colocava o pé em casa já sabia que o telefone iria tocar.
Podia mentir à mim mesma e dizer que ele era chato, que não desgrudava um minuto, mas quem disse que eu conseguia? Christopher me fazia rir o tempo todo, até quando eu estava num dia estressante de trabalho no escritório. Nem Roger conseguia me deixar animada, como ele fazia. Não sabia exatamente o que ele tinha, mas me agradava bastante.
Havia dado o endereço do meu trabalho, apenas para prevenir. Christopher podia ser legal, engraçado, charmoso ou o que fosse, mas era melhor prevenir do que remediar, com cada coisa que a gente via por aí. E se ele quisesse mandar uma bomba era até melhor, pois explodiria o escritório de James, já que sempre que podia me fazia trabalhar mais e mais.
Numa manhã de terça-feira, o carteiro chegou ao escritório com algumas encomendas de James. Assinei tudo direitinho e quando já ia saindo, ele me chama outra vez, dizendo que tinha uma encomenda direcionada à mim. Assim que eu vejo um envelope pardo escrito `Madrid - Espanha` meu coração deu um salto dentro do peito, pois as fotos haviam chegado. Eu não sabia porque estava tão nervosa. Minha curiosidade deixava minhas mãos tremendo e eu mal consegui assinar o outro papel que o carteiro havia me dado.
Deixei o meu envelope em minha mesa e entrei no escritório de James, entregando o que tinha pra entregar.
Parece que ele tinha adivinhado que eu estava nervosa, pois ficou falando comigo assuntos banais enquanto o que eu mais queria era sentar em minha cadeira e abrir aquele envelope pardo.
Christopher devia saber que o envelope chegaria hoje, já que não havia me ligado. Eu estranhei isso num primeiro minuto, mas não liguei de volta, já que segundo o nosso trato, era ele quem devia fazer isso.
Minhas mãos suavam, minha perna não parava de balançar, enquanto James falava e falava. E quando ele finalmente me dispensou, eu quase corri pro meu escritório, sentando na cadeira e olhando aquele envelope mais uma vez. Quando estava pronta pra abrir, escuto duas batidas na porta. Sem poder me conter, soltei dois palavrões e escondi o envelope na gaveta da minha mesa, mandando a pessoa entrar.

Roger: Meu amor!

Eu não consegui disfarçar o mesmo entusiasmo ao vê-lo entrar e tentei demonstrar que não estava a fim de nada naquela hora.

Dulce: Ah, oi.
Roger: O que foi? Venho todo animado te ver e é assim que me recebe?

Eu comecei a digitar qualquer coisa em meu computador, para fingir que estava muito ocupada.

Dulce: Perdão, mas é que James me deu muita coisa pra fazer hoje e estou ocupadíssima. Deve ser um pouco de TPM também, misturou tudo aí já viu.

Ele veio até à mim, me dando um selinho e eu lhe dei um sorriso amarelo.

Roger: Só queria te ver mesmo, mas entendo o seu ‘estado`. Vou voltar ao meu trabalho e te deixar em paz. Na saída eu passo aqui pra te buscar, ok?
Dulce: Claro, estarei esperando.

Dei mais uma vez meu sorriso amarelo e o vi sair pela porta. Contei até dez pra ver se a barra estava limpa e, quando não vi mais ninguém que pudesse atrapalhar, abri rapidamente a gaveta e abri o envelope de uma só vez, bastante ansiosa para ver qual era o verdadeiro rosto de Christopher.

--*

Eu não parava de olhar para o meu telefone. Segundo as informações que eu tinha do correio, era quase certo de que as fotos chegariam hoje. Estava aflito, queria saber o que ela iria achar de mim. Tentei escolher as melhores fotos, mas nunca me achei muito fotogênico.
Assim que o telefone tocou eu dei um pulo na cadeira, quase certo de que era ela. Mas quando atendi, tive uma decepção.

Verônica: Amor! Estava morrendo de saudades! Só pra avisar que já estou de volta à Madrid.

Amor? Já estávamos assim é?

Christopher: Que bom! Como foi de viagem?
Verônica: Apesar de ser a trabalho, deu pra curtir as paisagens de Barcelona. Mas enfim, eu quero te ver! Só pensei em você durante toda a viagem.

Eu engoli em seco e afrouxei o nó da gravata, sabendo que ainda tinha que cumprir com o trato que havia feito com Dulce.

Christopher: Hoje não dá, vou sair tarde do trabalho e quando chegar em casa eu quero cair na cama. Pode ser amanhã, então?
Verônica: Por mim, tudo bem. Sabe que eu estou sempre disponível para você.

Eu dei uma risada forçada e tratei logo de dispensá-la, pois Verônica estava ocupando a linha. Dulce poderia estar tentando ligar ou sei lá. Amanhã mesmo eu iria colocar um ponto final na minha história com Verônica, para tentar começar outra. Eu sabia que podia ser meio louco e talvez quase impossível, mas...um possível romance com uma mexicana enfezada me parecia terrivelmente tentador no momento.

--*