Fanfic: FOI POR ENGANO - DyC

Ela era bem direta, tinha que reconhecer. Dulce não perdia tempo em me jogar contra a parede sempre que podia. Será que eu sou tão óbvio assim?
Eu ri baixinho, ainda sem saber o que dizer e escutei a sua voz.

Dulce: Estou esperando. Se for um desafio muito grande pra você responder essa pergunta...
Christopher: Sim.
Dulce: Sim, é um desafio?
Christopher: Não, você entendeu.
Dulce: Entendi não, explica melhor?
Christopher: Dulce, você entendeu...não faça isso comigo.
Dulce: Não faça o que? Você fez o mesmo jogo pra me fazer confessar que te achava bonito. Agora está provando do próprio veneno.
Christopher: Mas aquilo nem era tão constrangedor, isso é.
Dulce: Você não é do tipo que fica constrangido fácil.
Christopher: Bom, digamos que com perguntas assim...
Dulce: Responde logo, Christopher.

Eu cocei a cabeça, ainda com um pouco de vergonha e decidi enrolá-la mais um pouquinho.

Christopher: Pra que você quer tanto saber? Vai servir para aumentar a sua auto-estima?
Dulce: Não quero que diga pra eu me sentir bem ou não. Diga o que sente. Eu aceito só respostas sinceras.
Christopher: Ok, e o que você quer que eu diga?
Dulce: É incrível como você sempre está virando o jogo contra mim, não é?
Christopher: Faz parte, ruiva.
Dulce: Ruiva...nunca ninguém me chamou assim.
Christopher: Fico feliz em saber que fui o primeiro.

É, eu queria ser o primeiro em outras coisas também, só não achei muito conveniente dizer isso à ela agora.

Dulce: A resposta, Christopher.
Christopher: Eu gosto de você, Dulce.
Dulce: Eu também gosto de você, mas sabe que não foi o que eu perguntei.
Christopher: E você quer que eu diga que te amo?
Dulce: Não, pois isso seria tecnicamente impossível, já que nunca nos tocamos, não nos olhamos nos olhos e nem confiamos plenamente um no outro.
Christopher: E alguém só consegue amar o outro tocando na pessoa?
Dulce: Acho que sim...nunca gostei de ninguém que eu nunca vi na vida.
Christopher: Um ídolo, por exemplo. Você nunca teve um?
Dulce: Claro, muitos.
Christopher: Aposto que você nunca tocou em todos. Mas os amava da mesma forma.
Dulce: Amar é uma palavra muito forte. Digamos que eu os admirava.
Christopher: Você não quer dar o braço à torcer, não é?
Dulce: Ainda estou esperando a resposta.
Christopher: Ok, você venceu. Deixa eu te responder da minha forma.

Eu joguei o cabelo para trás, ainda nervoso e mordi os lábios, adorando esse jogo. Afinal, sinceridade era meu forte.

Christopher: Você perguntou se eu gosto de você além da amizade não é? Então creio que a melhor resposta para essa pergunta é: Se eu morasse no México ou você morasse aqui na Espanha, pode apostar, ruiva, que o seu namorado não seria o Roger. Está bom assim?

--*

Eu adorava as respostas dele, principalmente essa. O sorriso no meu rosto não podia estar maior! Me empolguei demais...tanto que até comecei a falar besteira...mas que era uma besteira que eu sentia de verdade.

Dulce: Está ótimo. E eu sei, que se você morasse aqui ou eu morasse aí, realmente eu não estaria com Roger.

Eu coloquei a mão na boca assim que acabei de falar. Meu Deus, o que eu estava dizendo!? Afinal de contas, eu tenho namorado! Christopher soltou uma gargalhada do outro lado da linha e eu gemi baixinho, me xingando de tudo quanto é nome por dentro por ter falado isso.

Dulce: Ok, esquece o que eu falei.
Christopher: Esquece nada! Isso vai ficar bem guardado. Quem diria hein...se seu namorado soubesse as coisas que você anda dizendo no telefone...
Dulce: Christopher! Pára, tá? Eu estou morrendo de vergonha aqui!
Christopher: Só você mesmo pra dizer as coisas e depois se arrepender.
Dulce: Fui impulsiva, não devia ter dito isso.
Christopher: Mas já está dito, e confesso que eu amei.
Dulce: Não se empolgue, isso não vai se repetir.
Christopher: Isso é o que nós vamos ver.

Uma semana depois, eu tinha combinado de jantar com Roger. Me sentia um pouco mal com o que eu tinha dito a Christopher e onde toda essa história estava chegando, pois era loucura se empolgar com um cara que eu talvez nunca fosse ver na vida. E eu tinha namorado, que apesar de não amá-lo, era muito legal comigo. Depois de tudo, Roger me ligou pedindo desculpas, dizendo que eu o tinha pego de surpresa mas que me desejava também. Eu comecei a me animar e marquei esse jantar, com a esperança de dar um novo passo no nosso relacionamento e na minha vida. Afinal, estava mais do que na hora de virar uma mulher.
E eu tinha que me afastar um pouco de Christopher. Nossas brincadeiras estavam ficando sérias demais, e eu tinha compromisso! Um compromisso que eu pretendia me dedicar completamente agora.
Comprei um vestido novo, preto, com alguns bordados brilhantes, muito bonito, e fiz também o jantar muito bem preparado, comprando um ótimo vinho para dar o toque especial em nossa noite.
E tudo estava pronto! Me sentei na mesa, olhando toda aquela comida que eu tinha feito, orgulhosa de mim mesma. Esperava do fundo do coração que Roger gostasse. Aliás, ele já estava atrasado. Já eram quase oito da noite, e eu havia marcado o jantar para às sete e meia. E eis que o telefone toca. Pensei que fosse Christopher no começo e fiquei um pouco nervosa, pois não queria que meu namorado soubesse dos meus telefonemas com ele. Mas vi no identificador de chamadas que a ligação era local, apesar de não ter conhecido o número.

Dulce: Alô?
***: Sou eu, meu amor.
Dulce: Roger? Que número é esse que eu não conheci?
Roger: É do celular da minha prima. Estou no aeroporto.
Dulce: Espera! Aeroporto? Esqueceu do nosso jantar?
Roger: Claro que não, querida! Mas aconteceu um imprevisto. Minha prima chegou dos Estados Unidos de surpresa e vai passar uns dias lá em casa. Sinto muito, mas eu não vou poder ir aí hoje.
Dulce: Mas...eu preparei tudo! Só estava esperando você chegar, já está tudo pronto!
Roger: Eu realmente lamento, não esperava por isso. Juro que se desse eu ia, mas realmente está complicado. Marcaremos pra outro dia, ok? Preciso desligar agora, está começando a chover aqui, vou pra casa. Quando chegar eu te ligo.
Dulce: Tudo bem então, fazer o que, não é?
Roger: Prometo que o nosso próximo jantar será inesquecível. Um beijo meu amor, até mais.
Dulce: Outro pra você também.

E então desliguei o telefone. Estava muito frustrada! Havia esperado por isso a semana toda, preparado tudo com muita dedicação, pra no final, eu acabar sozinha. Mais uma vez.
Fiquei um tempo sentada no sofá, olhando de longe a mesa toda pronta e me sentindo ridícula por tudo aquilo. Queria chorar, mas ao mesmo tempo achei muito idiota fazer isso. Então resolvi ligar pra ele. Sei que tinha dito que queria me afastar dele por causa de Roger, mas se meu namorado se importava mais com a prima do que comigo...então meu amigo poderia talvez tirar essa frustração de mim.

--*

Anahí e os meninos já tinham ido dormir. Eles estavam dormindo muito cedo ultimamente. Ou eu que estava indo dormir tarde, vai saber. Mas era fim de semana e eu tinha que aproveitar! Afinal, trabalhava o dia inteiro e odiava ter que dormir cedo par acordar também cedo no dia seguinte. Era realmente muito chato.
Havia alugado alguns filmes para eu ver de madrugada, pois adorava fazer isso. Me esparramava no sofá e bebia uma garrafa toda de refrigerante. Não era à toa que Any dizia que eu era mais criança que meus próprios sobrinhos.
Mas assim que dei ‘play` no DVD, o telefone tocou. Eram 3 da manhã...para o telefone tocar essa hora aqui em casa, só podia ser uma pessoa.

Christopher: Ruiva?
Dulce: Te incomodo?
Christopher: Você sabe que não. Estava vendo filme, tenho que aproveitar o fim de semana pra dormir tarde. Estou sentindo sua voz um pouco triste...aconteceu algo?
Dulce: Estou um pouco chateada, pois ia jantar com Roger hoje aqui em casa. Fiz um jantar especial, comprei um vestido novo pra em cima da hora ele me ligar dizendo que uma prima chegou dos Estados Unidos e que ele não ia poder vir. E eu fiquei sozinha, com um jantar pronto e um vinho fechado.
Christopher: E me ligou para tirar sua solidão?

Eu tremi só de pensar nesse jantar, pois do jeito que ela disse que era especial, aposto que eles já tinham combinado de dar mais um passo nesse relacionamento. Podia parecer um pouco egoísta, mas agradecerei eternamente à essa prima que impediu esse jantar.

Dulce: Pra falar a verdade...sim. Não quero que pense que só te ligo quando preciso, é que...
Christopher: Shh! Não precisa explicar nada, eu já entendi. E estou aqui, pra tirar sua solidão, se eu conseguir isso.
Dulce: Falar contigo já faz eu me sentir melhor, acredite.

Nós ficamos em silêncio um momento, até que eu tive uma idéia.

Christopher: Posso ocupar o lugar de Roger nesse jantar?
Dulce: O que você está querendo dizer?
Christopher: Farei algo pra comer, pegarei um vinho e conversaremos como se eu tivesse aí, tudo bem?
Dulce: Preferia que você pegasse um avião a jato e viesse jantar comigo.
Christopher: Se eu tivesse um avião à jato, eu já estaria aí. Mas como não tenho, teremos que usar nossa imaginação. Nós vamos conseguir, é só nos esforçar um pouco. Então, aceita?
Dulce: Sim! Mas não precisa comer nada, fiquei sem fome. Apenas quero tomar o vinho.
Christopher: Como a senhorita quiser. Vou pegar uma garrafa na cozinha, só um minuto.
Dulce: Ok.

Eu deixei o telefone no sofá e fui na cozinha, pegar a garrafa de vinho. Eu estava com um sorriso de orelha a orelha no rosto, sabendo que essa noite não era do seu namorado...mas minha. Ainda que fosse pelo telefone...pelo menos estaria com ela.
Voltei pra sala com o vinho e a taça na mão e mordi os lábios, olhando para o telefone. E naquele momento, mais do que nunca, desejei por ter um jatinho particular para voar até ela.

--*

Christopher era louco! Mas estaria mentindo se disse que não gostava desse tipo de loucura. Era incrível como ele conseguia me fazer sorrir, quando antes estava prestes a derramar lágrimas.
Depois de alguns segundos ele pegou no telefone e voltou a falar comigo.

Christopher: Pronto. Estou com a taça e a garrafa aqui, você também?
Dulce: Sim. Já peguei minha taça e estou sentada no sofá agora.
Christopher: Coloca na MTV, você me disse uma vez que gostava muito, não é?
Dulce: Sim, eu amo! Você lembrou? Creio que eu só te disse isso uma vez.
Christopher: Claro, eu lembro de tudo que você me diz, até as mínimas coisas. Ligue a TV e coloque lá, aqui já ta ligado, pois assim estaremos ouvindo a mesma música também.
Dulce: Mas e o seu filme?
Christopher: Ele perde qualquer importância quando se refere à você. Anda Dul, liga aí pra podermos conversar ouvindo a mesma música.

Eu abri um sorriso de orelha a orelha e fiz o que ele pediu. Estava passando o clipe de "Wind of change" dos Scorpions e eu me recostei no sofá, curtindo a música e escutando sua linda voz.

Christopher: Agradável, não é?
Dulce: Demais.

Me levantei um minuto e coloquei vinho em meu copo, degustando daquela bebida, da música que tocava e de sua incrível voz.

Christopher: Quer dançar comigo?

Ele disse de repente, me pegando de surpresa. Arregalei os olhos, tentando entender o que ele queria dizer.

Dulce: Como Christopher? Não vou ficar no meio da minha sala dançando com o vento e imaginando que é você, minha criatividade não chega à isso.
Christopher: Não precisa sair do sofá. Apenas feche os olhos.
Dulce: Mas Christopher, eu...
Christopher: Fecha os olhos, Dulce Maria!

Eu me deitei no sofá e fiz o que ele pediu, fechando meus olhos. Começou a tocar uma música lenta, que eu não conhecia, mas que parecia perfeita para o momento.

Christopher: Imagine que você está lá no Universo, entre as estrelas. Tem um caminho prateado com o brilho delas, como se fosse purpurina, que te leva até a mim.
Dulce: Christopher, eu não...
Christopher: Imagine Dul, apenas imagine. Eu já posso te ver chegando...você está me vendo?

Eu me esforcei mais um pouco e pude vê-lo no final de um tapete mágico. Ele pegou na minha mão e aproximou meu corpo do seu, enquanto começamos a dançar no ritmo da música.

Christopher: Você ficou quieta...está imaginando?
Dulce: Sim... você está vestindo um smoking preto, com o cabelo um pouquinho desalinhado, como na foto que me mandou. Posso estar louca, mas parece que estou sentindo o seu hálito contra o meu pescoço, enquanto dançamos de olhos fechados.
Christopher: Ótimo. E depois diz que não tem criatividade.

Eu ri sem graça, vendo que aquilo tudo era uma loucura. Mas uma loucura que, por um motivo ou outro, estava mais do que ansiosa por continuar.

--*

Ela não estava louca, pois eu também podia sentir seu perfume apenas de olhos fechados. A paisagem ao redor, somente de estrelas e planetas, fazia com que tudo ficasse celestial e meu coração começou a bater de acordo com os meus pensamentos. E os mesmos foram muito mais além, quando ousei imaginar mais coisas, que por algum motivo eu falei pra ela.

Christopher: Meu coração está disparado no peito e eu não consigo tirar os olhos da sua boca. Encosto minha testa na sua, roço de leve meu nariz no seu e finalmente minha boca encontra a sua. Com a mão direita você acaricia minha nuca, enquanto eu aperto mais seu corpo contra o meu, sentindo sua língua se misturar com a minha, arrepiando todos os pêlos do meu corpo.

Ela ficou em silêncio por mais tempo que devia e eu vi que talvez tivesse dito besteira demais.

Christopher: Desculpe dizer isso, acho que foi excesso de vinho.
Dulce: Shh! Não corte a linha do meu pensamento, pois estou imaginando a mesma coisa também.

Eu fiquei em silêncio e voltei a pensar no beijo. Mas foi a vez de Dulce de dar asas à minha imaginação, quando começou a dizer.

Dulce: Por algum motivo eu quero mais. Passo meus dois braços ao redor do seu pescoço, enquanto você continua explorando minha boca com a sua língua. Meu coração está disparado, meu corpo começa à reagir a esse beijo e...
Christopher: E eu vou descendo meus lábios até o seu pescoço, começando a provar da sua pele e...
Dulce: E...e é melhor não imaginarmos o que acontece depois, já que estamos indo longe demais.

Eu ri baixinho, um pouco nervoso, enquanto a ouvia suspirar rapidamente do outro lado da linha.

Dulce: É...acho que acabei de trair meu namorado em pensamento. O que um copo de vinho não faz.
Christopher: O vinho só fez com que você falasse essas coisas pra mim, mas o que você está sentindo agora não é culpa de nenhuma bebida.
Dulce: O que você está querendo dizer?
Christopher: Que você me criticou tanto, mas está fazendo o mesmo que eu fiz com Verônica. Está com Roger, mas na verdade deseja estar comigo, neste momento. Aproveita que está sob o efeito do vinho e confessa isso pra mim. Eu realmente preciso ouvir isso agora.

Eu seguia escutando sua respiração, pois ela não dizia mais nenhuma palavra. Comecei a balançar minha perna, nervoso com sua resposta. Talvez eu estivesse avançando mais do que podia, mas surgiu a oportunidade de descobrir seus sentimentos e dessa vez eu não podia desperdiçá-la. Ainda que eu soubesse que isso estava colocando em risco nossa amizade.

--*

Eu fui pega de surpresa, mais uma vez, como sempre. Fiquei olhando para um ponto fixo na parede, tentando entender o que se passava dentro de mim. Realmente estava bastante confusa.

Christopher: Dulce?

Sua voz me despertou de repente e eu disse a primeira coisa que veio na minha cabeça.

Dulce: Você...não pode se aproveitar de alguém que está sob o efeito do vinho.

Eu ri sem graça, tentando descontrair o clima tenso que havia ficado ali. Mas ao parecer, Christopher não estava com a mesma idéia na cabeça.

Christopher: Só assim eu sei que você vai falar o que sente, o que o seu coração sente. Sóbria você controla muito o que fala, já percebi isso.
Dulce: Eu não estou bêbada!
Christopher: Mas acho que já tem vinho demais no seu sangue para que possa responder essa pergunta com toda a sinceridade do mundo. Por favor...

Me calei outra vez. O que eu podia dizer? Eu tinha namorado! Ainda que eu tivesse acabado de traí-lo em pensamentos. Ou talvez pudesse considerar traição, pensar em outro cara pelo menos mais de doze horas por dia. E Roger não estava aqui, agora. Talvez Christopher merecesse ouvir a verdade.

Dulce: Sim...eu queria estar contigo. Se soubesse o quanto eu odeio esse oceano que divide a gente. Queria poder te encontrar.
Christopher: Eu queria estar contigo também.

Silêncio de novo. Estávamos jogando um jogo perigoso. Eu estava compromissada, ele morava em outro continente, isso era loucura! Mas era impossível negar as batidas do meu coração nesse momento.

Dulce: Isso é errado. Não vai dar certo se continuarmos assim.
Christopher: Ele devia cuidar mais de você. Eu cuidaria.
Dulce: Christopher...acabei de dizer que isso não vai dar certo.
Christopher: Não sabemos.
Dulce: Acho melhor dormirmos. Estamos ‘altos`, por causa da bebida, dizendo coisas...
Christopher: Que não diríamos se estivéssemos sóbrios.

Respirei fundo. Ele estava certo...mas eu também estava confusa, e Christopher não estava clareando muito minha mente nesse momento.

Dulce: Pode ser verdade. Mas vamos encerrar o assunto por aqui. Por favor.
Christopher: Ok, como você quiser. Desculpa pelas coisas...você sabe.
Dulce: Tudo bem, eu...gostei.
Christopher: De tudo?

Eu sorri, já sabendo a que ele se referia.

Dulce: Sim, de tudo. Ainda que o beijo tenha sido apenas imaginário, eu gostei.
Christopher: Ao vivo será melhor.

Eu soltei uma gargalhada, já me dando conta que ele não tinha jeito mesmo.

Dulce: Ok Christopher, boa noite.
Christopher: Pra você também, ruiva.

E eu desliguei o telefone, respirando bem fundo, tentando acalmar meu coração. As brincadeiras estavam indo longe demais, mas havia algo em mim que me impulsionava a continuar. Christopher me fazia muito bem, de uma forma que Roger não tinha conseguido até agora, ao vivo e a cores.

--*

Eu estava com os sentimentos encontrados. Não sabia se explodia de felicidade ao saber que ela sentia algo a mais por mim ou se colocava na minha cabeça de uma vez por todas que a nossa relação nunca passaria de amizade. Afinal, ela morava em outro continente e tinha namorado. E ao parecer não estava com muita vontade de atravessar o oceano para me ver.
Agosto passou rapidamente, com um clima ameno aqui na Espanha, apesar de ser verão. Enquanto isso, Dulce morria de calor lá no México, pois a temperatura parecia estar realmente muito alta.

Dulce: Sério, eu to virando churrasquinho. É só me colocar num espetinho e mandar ver pra dentro que nem vão notar a diferença.
Christopher: Não seja exagerada.
Dulce: Exagerada? Está falando isso porque em Madrid no verão cai neve.
Christopher: E depois diz que não exagerada! Onde já se viu cair neve aqui no verão, sua louca? Tudo bem que o aquecimento global está mudando um pouco as temperaturas climáticas, mas ainda não chegamos a esse ponto.
Dulce: O que eu quis dizer é que o que vocês consideram calor aí, nós consideramos frio aqui. E eu não sou exagerada, apenas uma simpatizante da hipérbole.
Christopher: Sim, claro.
Dulce: Fala sério, até o ar condicionado dessa sala está e brincadeira com a minha cara! Isso serve para tornar o lugar onde se está mais frio, não? E por que eu estou apenas sentindo uma leve bisa? Acho que vou chutá-lo outra vez pra ver se funciona direito.

Eu comecei a rir e larguei a caneta que estava segurando em cima da mesa do escritório, vendo que dentro de minutos já estaria na hora da minha saída.

Christopher: O seu humor ficar fantástico com o excesso de temperatura.
Dulce: Eu fico estressada e fazendo essas piadinhas sem graça. O sol torra meu cérebro e não me deixa pensar direito antes de falar.
Christopher: Não se preocupe, eu estou gostando. Está me fazendo rir.
Dulce: Pelo menos pra algo eu sirvo, não?
Christopher: Aposto que você serve pra outras coisas também...
Dulce: Como o que?
Christopher: Nada, deixa pra lá.
Dulce: Tenho medo só de pensar o que se passa pela sua cabeça.
Christopher: Não tente imaginar, pois se descobrir vai realmente se assustar.
Dulce: Meu Deus, eu estou falando com um pervertido e não sei!
Christopher: E quem disse que eu estava pensando nessas coisas, Dulce Maria? Você que está insinuando coisas erradas sobre mim.
Dulce: São quase dois meses falando contigo diariamente no telefone, Christopher. Não tente jogar a perversão pra mim agora.
Christopher: Ok, santa. Vou sair do escritório, já deu minha hora. Quando eu chegar em casa te ligo de novo. Claro, se não enjoar de ouvir minha voz.
Dulce: Sabe que não enjôo. O problema é James me vir pendurada no telefone o dia inteiro, se eu desligar o telefone na sua cara já sabe.
Christopher: Tudo bem, eu já devia estar acostumado, você é mestra nisso, não é?
Dulce: Idiota!
Christopher: Um beijo, Dulce. Até mais tarde.

Eu desliguei o telefone, rindo como sempre. Era incrível como Dulce conseguia melhorar qualquer astral em dia de trabalho com o seu humor sarcástico. Isso seria melhor ainda, se ela estivesse aqui.

--*

Desliguei o telefone suspirando, com um largo sorriso no rosto. Um sorriso que era proporcionado por ele, ainda que a palhaça da história fosse eu. Mas somente de ouvir a voz de Christopher já me sentia muito bem.
Meu coração quase saiu pela boca quando olhei pra frente e vi Roger encostado na porta que nem uma estátua, me olhando com uma cara bem séria.

Dulce: Meu Deus! Quando você entrou que eu não vi?
Roger: Há alguns minutos. Com que estava falando? E não venha me dizer que era com a sua irmã, pois o suspiro e a conversa sobre perversão não se fala com uma irmã. Ainda mais porque você várias vezes usou o gênero masculino.
Dulce: Você estava escutando minha conversa? Inacreditável!
Roger: Não venha dar uma de ofendida agora! E eu não fiz de propósito, apenas entrei devagar para lhe fazer uma surpresa, mas vi que estava muito entretida falando com alguém no telefone. Quem era?
Dulce: Um amigo que eu tenho na Espanha. Pra que todo esse estresse?
Roger: Você parecia muito empolgada falando com ele.
Dulce:E por acaso eu preciso falar que nem morta com alguém só por ser do sexo masculino?
Roger: Não, mas o seu suspiro foi bastante suspeito. Você gosta dele?
Dulce: Claro, ele é meu amigo.
Roger: Não como um amigo, mas como algo mais.

Eu fiquei séria, sem saber o que responder. Ainda não sabia ao certo o que sentia por Christopher, mas era fato que era algo mais que amizade.
Tentei descontrair o clima e soltei uma gargalhada forçada indo em direção à ele.

Dulce: Não acredito que está com ciúmes de um cara que eu nunca vi na vida! Esquece isso, ele é só uma pessoa com quem eu gosto de falar.
Roger: Perdão, eu...acho que exagerei.

Eu o abracei e lhe dei um beijo no rosto, não querendo nem pensar o que ele faria se sequer imaginasse que eu o traí em pensamentos.

Dulce: Esquece isso, tudo bem?
Roger: Ok. Amanhã vamos jantar na sua casa? Assim poderemos fazer o que não podemos na noite em que tive que buscar minha prima, o que acha?

Eu sorri sem jeito, um sorriso muito falso por sinal. Devia estar feliz por finalmente ter chegado a hora de virar uma mulher...mas por algum motivo não estava.

Dulce: Claro, me pega amanhã depois do trabalho, então?
Roger: Com certeza. Prometo que será uma noite maravilhosa, meu amor.
Dulce: É...eu espero que sim.

--*

Dulce estava estranha quando liguei pra ela mais tarde. Parecia que estava distraída, com pressa ou sem muita vontade de falar comigo. Resolvi não esticar o papo, pois não queria incomodar ninguém. Era claro que ela não queria falar comigo naquele momento.
Mas no dia seguinte eu fiquei pensando nisso. Podia estar sendo paranóico, mas não gostava quando alguém mudava comigo por algum motivo e eu não sabia o porquê. Mas tive que esquecer isso, pois ia atender um cliente muito importante aqui da Espanha, e tinha que lhe demonstrar bastante segurança e capacidade para fazer um bom nome para empresa.

Christopher: Em que posso ajudar, senhor Larry Smith?
Larry: Quero entrar com um processo, contra uma empresa internacional que copiou a minha coleção de jóias para a próxima estação. Não sei como isso aconteceu, mas devo lhe dizer que me trouxe muitos prejuízos e quero fazer algo a respeito, para reivindicar o que é meu.
Christopher: Claro senhor, entendo completamente. Farei o possível para resolver seu problema, mas eu preciso de todos os dados que o senhor tiver para analisar o processo.

O homem abriu uma larga pasta negra, me mostrando todas as provas que tinha contra a tal empresa. Anotei tudo o que ele falou sobre o processo, o que queria fazer a respeito, o que queria ganhar com isso. Como tudo começou, como ele descobriu que algo seu havia sido roubado e mais tudo necessário para levar o caso adiante. Depois de analisar a situação por alto, pois ainda tinha que pesquisar mais coisas, lhe disse o que poderíamos fazer, quanto tempo duraria mais ou menos isso e tudo mais. Ficamos quase duas horas discutindo o processo, até que eu notei que faltava algo.

Christopher: Desculpe senhor, eu ando um pouco distraído no momento, mas...esqueci de perguntar algo importante. Qual o nome da empresa que estaremos processando?
Larry: A JS. Jeweller`s, uma empresa famosa no México.

Eu parei de respirar nesse momento e larguei a caneta que estava em minha mão. Meu coração disparou ao ouvir esse nome, porque o conhecia muito bem...era a empresa onde Dulce trabalhava.

--*