Fanfic: ٠Moмєntos dє Encαnto٠DყC Terminada

Jack também trabalhava,
largara a faculdade aos 19 anos, abandonando toda a esperança de tornar-se
médico. 
Ainda assim, não era o bastante. Nunca seria o
bastante, graças a seu irmão que, num ato de desespero, perdera uma grande
quantia em um cassino. Agora, além de uma enorme dívida, eles tinham em seu
encalço pessoas, que não pensavam duas vezes antes de matar os que desonrassem
suas dívidas de jogo. 
Bancos não lhe concederiam empréstimos, uma vez
que Dulce não possuía garantias. Tudo que ganhara de algum valor tinha sido
vendido. E estava trabalhando todas as horas possíveis.
Dulce saiu da estação do metrô, subiu a escada e
olhou ao redor com ar fatalista. Uma risada oca nasceu e morreu em sua
garganta. O quanto o dia podia ficar pior? 
Não era sábio tentar o destino, refletiu enquanto
li-dava com telefonemas irados, negociava uma solução pacífica entre dois
funcionários agressivos e tentava acalmar um cliente que ameaçava fazer o
negócio em outro lugar se suas exigências não fossem atendidas. O almoço de Dulce se resumiu
a um iogurte e uma fruta sem levantar-se de sua mesa de trabalho, passando a
tarde envolvida numa série de reuniões internas. 
Já passavam das cinco horas quando fechou o
laptop, aliviada pelo fim daquela parte do dia. 
Porém, não à noite..., pensou Dulce com um suspiro
quando pegou a bolsa e colocou-a no ombro. 
Tinha 45 minutos para pegar o metrô e chegar ao
outro emprego, num restaurante italiano dentro do Shopping Center local. Além
do bônus de uma refeição — geralmente consumida na correria entre servir os
clientes —, o restaurante ficava perto de sua casa, de modo que podia voltar a
pé. 
O telefone tocou e ela hesitou, pensando se devia
atender ou não. Quem quer que fosse, ela atenderia, lhe daria dois minutos de
seu tempo precioso e partiria. 
— Graças a Deus, você ainda está aí — murmurou uma
voz familiar aliviada. 
— Jack? — Algo estava errado. Dulce podia sentir
isso. 
— Eu não estarei em casa essa noite. — A voz dele
era trêmula. — Hospital. Joelho quebrado. 
— Que hospital? — Ela gemeu quando o irmão citou o
nome do hospital do outro lado da cidade. — Estarei aí assim que possível. 
— Ligue para Christopher, Dulce. Não preciso dizer
por quê. 
Gelo correu pelas veias de Dulce quando desligou.
Joelho quebrado era um aviso dos cobradores da dívida de jogo? O que viria a
seguir? Costelas? Rins? Quanto tempo os criminosos esperariam antes de dar-lhes
outra lição? Alguns dias? Uma semana? 
A situação financeira não ia mudar. Só Deus sabia
quanto tempo levaria para Jack voltar ao trabalho. Sem o salário dele para
complementar o seu, adicionando as despesas médicas... seria impossível. 
Dulce fechou os olhos. 
Voltou a abri-los. O pedaço de papel que Jack lhe
dera naquela manhã estava no bolso de seu casaco. Ela o pegou, discou os
números e esperou que Christopher atendesse. 
E se ele soubesse onde ela trabalhava e reconhecesse
o número no identificador de chamadas? Pior, e se decidisse não atender?
— Uckermann. O som da voz dele fez o coração de Dulce disparar e
quase lhe tirou a fala. 
— É Dulce. — Oh, Deus, como ela poderia passar por
isso? 
O silêncio dele pareceu reverberar na linha. 
— Preciso de sua ajuda. 
Ele concordaria, ou desligaria o telefone? 
— Meu escritório. — Christopher lhe deu as
instruções de como chegar. — Dez minutos. — E terminou a ligação. 
Ela ligou novamente, apenas para ouvir a
secretária eletrônica. Christopher a estava pressionando, e a idéia de que ele
tinha esse poder a irritava. Que droga! Dulce sentiu a irresistível vontade de
atirar alguma coisa, de prefe-rência nele. 
Uma vez que era impossível estar em três lugares
ao mesmo tempo, ligou para o restaurante, explicou o motivo pelo qual se
atrasaria e prometeu estar lá assim que possível. E claro, ouviu uma resposta
irritada. 
Tudo que precisava agora era ouvir a ira
expressada em italiano, suavizada apenas quando ela disse que o irmão sofrera
um acidente.