Fanfic: *-*Um Beijo na Noite*_*

Anahi acordou na manhã de segunda-feira sentindo um alívio inexplicável. De repente, lembrou-se do episódio da tarde anterior, com as vacas. Sorriu para si mesma, diante da inusitada descoberta: perdera o medo que tinha desde a infância por aqueles animais.

Aliás, a razão de tamanho pavor se devia ao fato de um incidente que ocorrera quando ainda era muito pequena. Anahi se lembrava do dia em que saíra com a mãe para colher framboesas. A pobre mulher ficara desesperada quando, de repente, dera por falta da filha, que resolvera explorar o campo sozinha. Gritara freneticamente seu nome, correra por todos os lados, até que acabara assustando algumas vacas. Os animais dispararam em direção à menina, que voltava para junto da mãe, orientada pelos gritos. Estes, aliados à visão dos animais enormes a seus olhos de criança, resultaram no trauma que a acompanhara por toda a vida.

Lembrando-se de sua promessa, a Mike de que estaria no escritório às oito e trinta, Anahi pulou da cama rapidamente.

Depois de tomar uma ducha, foi até a cozinha preparar um chá.

Podia ouvir ruídos ocasionais do vizinho que se movia pela cozinha, e não soube o que pensar com esse novo desenrolar dos fatos, o de que Herrera resolvera estender sua permanência no chalé até a manhã da segunda-feira.

Imediatamente reprovou-se por seus pensamentos. O que estava lhe acontecendo para se irritar tanto a cada vez que se lembrava de Herrera? Afinal, aquela propriedade era dele! O homem tinha todo o direito de ficar lá o tempo que quisesse. A semana inteira, até. Pelo que sabia sobre seus planos, aliás, a possibilidade era bem plausível.

Anahi se sentou e sorveu lentamente o chá, cogitando que não gostara do vizinho, antes mesmo de conhecê-lo. Mas, no fundo, se realmente fosse honesta consigo mesma, não teria feito o mesmo que ele, caso tivesse dinheiro suficiente para cobrir qualquer oferta com relação ao chalé Myrtle?

Ao terminar de tomar o chá, Anahi já havia começado a pensar que talvez Herrera não fosse o culpado e sim o filho da sra. Goodwin que, depois de aceitar sua oferta, voltara atrás na palavra. Em seguida, veio-lhe à mente a informação do corretor de que o rapaz se decidira a vender a propriedade por um preço maior a fim de garantir uma estabilidade financeira à mãe idosa. Diante desse contexto, a ética deixava de ter sua razão de ser, Anahi decidiu.

Mas o que isso importava agora?, ela continuou pensando, enquanto subia as escadas para se trocar. Primrose passara a lhe pertencer, e ela o estava adorando.

Quando terminou de se vestir, Anahi reconheceu que seu bom humor havia retornado e que ela novamente se sentia bem consigo mesma, principalmente depois da coragem que tivera em enfrentar os animais. Não que fosse se apresentar voluntariamente diante deles outra vez, no futuro, sem haver necessidade, mas graças a Herrera...

E por que agradecer a ele?, ela interrompeu o pensamento, e por que, pelos céus, ele fora a primeira pessoa a penetrar em sua mente quando acordara?

Anahi julgou ter a resposta para aquela pergunta quando fechou a porta da frente e desceu até seu carro. Ninguém fora capaz de despertar emoções tão intensas antes dele. Nunca odiara uma pessoa em sua vida antes, e, embora não estivesse tão certa de ainda continuar odiando-o, não era natural que pensasse de vez em quando no único homem que despertara tal sentimento?