Fanfic: *-*Um Beijo na Noite*_*

Pela expressão do chefe, ela soube que as últimas esperanças de se conseguir um empréstimo através da Edgars haviam ido por água abaixo. Uma imensa piedade se apoderou dela, mesclada a uma forte admiração. Mike, apesar de desesperado, agira como um profissional, agradecendo à pessoa com voz firme pela consideração em lhe ter procurado.

— Sinto muito, Mike — ela murmurou ao vê-lo desligar.

— Dê-me dez minutos, está bem?

Havia um ditado que dizia que homens não choravam, mas ela sabia que Mike estava na iminência de fazê-lo. Passaram-se cinco minutos até que o ouviu falar ao telefone com a esposa. Mais outros cinco minutos, e ele voltou à sua sala.

— Minha esposa é demais! — Mike anunciou com a voz mais segura. — De acordo com ela, ainda há muita lenha em nossa fogueira. Se não deu certo com a Edgars, ainda resta a Nathan Financeira. Se essa também nos decepcionar, poderemos recorrer a Braddons Investimentos e... — A campainha do telefone o interrompeu. — É para você. — Mike lhe entregou o fone e retornou para sua sala.

A ligação era de seu amigo Julian Collins, que desejava saber o novo número de seu telefone além de convidá-la para almoçar ou jantar.

Parecia que aquele seria seu dia de dizer às pessoas que sentia muito.

— Sinto muito, Julian. Estou com muito trabalho, não só no escritório como também em minha casa, que ainda não consegui terminar de redecorar.

— Então quando é que poderei conhecer o famoso chalé? — ele insistiu, sem se mostrar ofendido.

— Farei uma festinha de inauguração assim que... — Foi nesse instante que Anahi se lembrou de que não teria como voltar para casa aquela noite. — Julian, acho que você poderá conhecê-lo hoje mesmo se quiser me dar uma carona. — E ela passou a descrever o episódio daquela manhã, quando seu carro a deixara na mão.

— Eu estava mesmo lhe devendo uma — Julian prosseguiu, naquele seu tom brincalhão, lembrando-a de que uma vez fora ela quem o ajudara com referência a transporte.

Conforme prometera, o amigo viera buscá-la na saída do trabalho e a levara até Chumleigh Edge. O colocador de carpete havia estado em sua casa naquele dia e Anahi estava satisfeita em ao menos poder apresentar um cômodo decente a Julian.

Serviu-lhe um chá e conversaram um pouco, pois, ciente de que Anahi desejava prosseguir com a arrumação, Julian não permaneceu por muito tempo. Por mais estranho que pudesse parecer, ela se sentiu triste e aborrecida quando ele se foi. Sabia que seus sentimentos nada tinham a ver com Julian, mas ao mesmo tempo não conseguia explicar a razão por de repente estar achando a vida tão vazia e monótona.

Aquela sensação persistiu por toda a semana e até se agravou, pois a cada dia Mike também se revelava cada vez mais deprimido. Chris Farmer lhe telefonou para marcar um encontro na quarta-feira, mas sem tempo ou disposição, ela declinou do convite. Na quinta-feira, terminou de redecorar a cozinha, e na sexta, sem que seu estado de espírito tivesse melhorado, passou para o quarto.

Por volta das nove horas daquela noite, contudo, ela ouviu o estalido de um portão sendo aberto, e se dirigiu à janela para investigar. Não se tratava do seu portão, mas o do vizinho. O Jaguar estava subindo pela rampa com Herrea na direção. Voltou para seu trabalho e, o que era mais estranho de tudo, com uma animação que não sentira por toda a semana!

Com o quarto sujo e desarrumado, Anahi achou melhor dormir na sala. Ao despertar, na manhã seguinte, seu humor ainda continuava excelente. Ela até chegou a cantar enquanto preparava um chá com torradas, e tomava um banho.

Suspeitando de que Herrera escolhera o quarto maior para seu uso, aquele que dividia uma parede com o dela, Danielle trabalhou com o maior cuidado possível para não acordá-lo. Só mais tarde, depois de ouvir que ele já havia se levantado, ela executou as tarefas mais pesadas e ruidosas. Assim continuou, até que, às onze horas, após ter descido com uma lata cheia de entulho, ela notou um carro esporte se aproximando do chalé Myrtle. A curiosidade aumentou quando uma mulher de cerca de trinta anos, muito bonita, desceu do carro e subiu até a casa.

Anahi retornou a seus afazeres, mas descobriu que não conseguia mais se concentrar. Sentia necessidade de parar para descansar a cada minuto, e em todas as vezes se dirigia à janela para espiar. O carro continuava lá!

À uma e trinta, preparou um suco e um sanduíche. Quando voltou ao trabalho, às duas horas, o carro ainda estava no mesmo lugar. Ela estava pintando o quarto quando ouviu o estalido no portão do vizinho. Já eram seis horas. Rápido, mas com cuidado para não ser vista, Anahi se colocou junto à janela. A mulher, aparentemente, estava de partida, e pelo seu aspecto aborrecido não devia ter intenção de retornar.

Anahi voltou para seus pincéis, recusando-se a pensar no que Herrera teria dito ou feito com a mulher, durante sete horas para deixá-la com uma aparência tão exausta.

Ainda faltava muito para que terminasse de pintar o quarto, mas soube que não conseguiria continuar. Ainda era cedo demais para que se deitasse, e, estando a noite quente e agradável, uma caminhada talvez lhe fizesse bem.

Demorando-se apenas o tempo necessário para se lavar, ern minutos ela estava fechando a porta dos fundos de seu chalé e descendo em direção à frente da propriedade. Não dera mais de dez passos, quando um ruído a fez olhar para trás.

Era o vizinho saindo da garagem. Lembrando-se de que, da última vez em que se haviam encontrado, ele praticamente se recusara a vê-la ou a lhe oferecer ajuda, Anahi lhe endereçou um olhar frio, que não o impressionou, e teria prosseguido, caso ele não tivesse falado com ela.

— Vai dar um passeio! — Parecia mais uma acusação do que uma pergunta.

— E daí? — ela retrucou.

O homem observou demoradamente o mato que já estava crescido até a altura de seus joelhos.

— Empregaria melhor o tempo se cuidasse um pouco de seu jardim!

O arrogante! O insuportável!

— Já que energia é o que parece não lhe faltar, por que não faz isso por mim? — ela resmungou e, para sufocar a vontade de pular no pescoço dele, empinou o nariz, deu-lhe as costas e se afastou, caminhando rapidamente.

Que belo vizinho eu fui arrumar! Está bem, seu jardim estava horrível, indigno de ser olhado, mas havia tanta coisa a fazer dentro da casa, antes que pudesse se preocupar com ele! Além disso, que direito Herrera tinha de criticá-la? Por acaso era ele quem cuidava de seu jardim? Afinal, vira muito bem o jardineiro que ele contratara para fazer os serviços.