Fanfic: *-*Um Beijo na Noite*_*

— Alô, Julian. É Anahi. Desculpe ligar tão em cima da hora, mas é que surgiu um problema no escritório, e eu não poderei encontrá-lo.

Julian, o super-rapaz que ela sabia que era, compreendeu que o encontro não teria sido cancelado sem razão, e não insistiu.

— Que tal amanhã? Eu estarei livre se você também estiver.

Estava prestes a responder, quando percebeu que Alfonso Herrera estava muito ligado em sua conversa e com uma expressão melhor do que ela jamais vira! O homem era esperto demais para não ter deduzido que ela fora obrigada a cancelar o compromisso por sua causa. E por acaso se mostrara arrependido por ter lhe atrapalhado os planos? Pois sim! Deveria estar morrendo de rir por dentro!

— Fica combinado, então? — Julian quis saber.

— Amanhã à noite será ótimo — Anahi respondeu, desligou, e se levantou para ajudar Mike a procurar algo no arquivo, que ele não estava localizando.

— Ah, Anahi, não estou encontrando os novos catálogos. Gostaria de mostrá-los ao sr. Herrera.

Em segundos, Anahi encontrou o material, que Mike se apressou a entregar ao visitante. Este, de cenho franzido, guardou-o em sua pasta e se levantou. Os dois apertaram-se as mãos. Anahi apenas recebeu um olhar de despedida.

Mike acompanhou o visitante até o carro e, após a partida dele, voltou rapidamente para sua sala e chamou ANahi:

— Por que tanto segredo sobre a identidade do novo morador do chalé Myrtle? — Foi a primeira pergunta.

— Eu não sabia quem ele era, Mike, até ontem, quando telefonou a sua procura. Eu não sabia sequer o tipo de trabalho que fazia, quanto mais que era o presidente da Braddons Investimentos. Jamais poderia ter ligado o convencido que praticamente quis obrigar que eu cuidasse de meu jardim... — Ela se deteve quando viu a expressão compreensiva no rosto de Mike.

— Só espero que não continue a trocar palavras ásperas com ele, no futuro.

À luz dos acontecimentos, o mínimo que Anahi poderia fazer era sorrir e responder que teria esse conselho em mente.

— Não consegui ficar um minuto sozinha para tentar localizá-lo, Mike. Não imagina o alívio que senti quando o vi na fábrica.

— Eu também! Quase tive uma síncope quando Karen me disse de quem era o Jaguar estacionado em nossa porta.

Anahi só conseguiu limpar sua mesa quando já eram quase sete horas. Foi direto para casa. Não havia sinal do Jaguar, mas assim que ela entrou na cozinha para tomar um lanche, ouviu ruídos abafados vindos do chalé Myrtle. Não pôde evitar um pequeno sorriso.

Rejeitou, porém, qualquer pensamento ridículo de que estaria contente por Alfonso Herrera estar a seu lado.

Evitando pensar, ela se pôs a preparar uma jarra de chá. Decidiu também ferver um pouco de leite para tomá-lo junto com o chá. Apesar de sua mãe julgar excentricidade, adorava essa combinação. Porém, para sua surpresa, seu estoque de leite havia acabado. Teria de se contentar com um chá simples...

Estava tomando o primeiro gole quando outro som a levou a pensar mais uma vez no vizinho. Fossem bons amigos, ela poderia bater à porta dele e pedir emprestado um copo de leite. Mas, como não eram, passaria sem ele até o café da manhã. Ainda bem que o leiteiro costumava efetuar as entregas bem cedo.

Naquela noite, conseguiu terminar a redecoração do quarto e dormir o sono dos justos. Assim mesmo, ainda não havia amanhecido quando acordou. Seu primeiro ato foi espiar pela janela para se certificar de que o leite já houvesse sido entregue. Ótimo! Lá estava ele.

Embora o solo estivesse molhado de chuva, a atmosfera era quente e abafada. Anahi resolveu deixar a janela aberta até a hora de sair.

Desceu para a cozinha, ávida por uma xícara de chá. Vestia apenas uma camisola curta e decotada, mas a distância que precisaria atravessar até a mureta de pedra onde estava o leite era tão pequena que não valeria a pena voltar até o quarto em busca de um penhoar.

Seus problemas começaram com o fato de o leiteiro ter deixado a encomenda, por razões que só ele conhecia, um ou dois metros mais longe do que o normal. Um rápido olhar e ela se certificou de que não havia ninguém por perto. Caminhou, então, até a mureta e recolheu o leite e um bilhete deixado sob o pacote. Uma leitura dinâmica a informou de que o suco de laranja estaria com preço promocional na próxima segunda-feira. Uma súbita rajada de vento a fez correr para a porta no momento exato em que ela bateu.

Boquiaberta, incrédula e alarmada, Anahi soube que ficara trancada do lado de fora. Por um instante, seu cérebro se recusou a funcionar. Em seguida praguejou consigo mesma por sua eficiência. Afinal, se não tivesse retirado a chave sobressalente debaixo da lata de lixo, na noite anterior, agora não estaria em apuros. O que faria? Certamente não poderia ficar sob a chuva o dia inteiro abraçada a um pacote de leite. Colocou-o no chão e procurou encontrar um meio de entrar na casa.

Todas as janelas do andar térreo estavam fechadas. Nem era preciso confirmar. A única que deixara aberta, ao se levantar, fora a janela de seu quarto. Uma escada. Era isso de que precisava: uma escada. E, se não estivesse enganada, já vira uma na garagem de Alfonso Herrera.

Atravessou a distância que separava as duas propriedades no maior silêncio possível e se dirigiu à garagem. Porém, para seu desgosto, a porta estava trancada.

Maldição!, Anahi resmungou, com ímpetos de chutar tudo o que estivesse a sua frente. Mas o que estava acontecendo com ela? Sempre fora uma pessoa justa e bem-educada. Por quê, então, se modificava; e para pior, sempre que Alfonso Herrera estava por perto?

Afastou-o de seu pensamento. Estivera enganada ao imaginar que o dia estava quente. Com a camisola úmida da fraca chuva que caía, ela estava se sentindo muito desconfortável. E seus problemas estavam longe de serem resolvidos. Se ao menos Herrera não fosse tão dorminhoco! Qualquer outro já teria se colocado à disposição para ajudá-la.

Mas lá estava ela, outra vez, sendo injusta. Alfonso Herrera não poderia ter alcançado uma posição tão importante na vida, caso não tivesse trabalhado duro para isso, poderia? Ele mais do que merecia, portanto, dormir até tarde quando tinha oportunidade.

Não sabia dizer em que dia ou em que hora seu ódio ao bruto começara a se transformar em interesse sincero.

Ainda era cedo, demasiado cedo, e ela não poderia suportar aquela situação por muito tempo. Dirigiu um olhar suplicante à janela do quarto de Herrera. Ao menos, acreditava que fosse aquele, por ser o maior.

Detestava ter de incomodá-lo, mas era seu único vizinho e, além disso, tinha quase certeza de ter visto uma escada em sua garagem.

Ou ela acordava Alfonso, ou a outra alternativa que tinha, inviável, era caminhar até o