Fanfic: *-*Um Beijo na Noite*_*

No final da tarde estava satisfeita consigo mesma. Seu jardim poderia estar longe de adquirir uma aparência tão formosa quanto a do vizinho, mas, agora que ela terminara de pintar e empapelar as paredes, dedicaria todo seu tempo livre a ele. Talvez até comprasse algumas plantas novas. Assim determinada, ela subiu para tomar um banho e lavar os cabelos.

Vestiu uma calça jeans e uma camiseta branca. Desceu em seguida e preparou uma refeição. Sem saber por que, se viu imaginando o que o vizinho teria para o jantar. Que ridículo! O que poderia lhe importar como Alfonso Herrera alimentava seu corpo suíno e arrogante?

Estava na cozinha, terminando de enxugar a louça quando ouviu a porta dos fundos da casa dele sendo fechada. Segundos depois, o que ouviu foram passos... vindos na direção do seu chalé!

Mais ridículo ainda foi o pulsar desvairado que acelerou seu coração. Alfonso Herrera agora estava batendo a sua porta. O toque parecia amigável, mas ela já se havia enganado diversas vezes com os falsos sinais de amizade. Anahi abriu a porta, pronta para atacá-lo.

Estava totalmente despreparada, contudo, para o que viu. Alfonso Herrera com uma garrafa de vinho numa mão e uma caixa de chocolate na outra.

A surpresa foi tão grande que a deixou sem fala.

— Eu gostaria de ver como ficou sua casa depois de redecorada. Você se importaria se eu entrasse?

Anahi sentiu que seu queixo cairia, se não mantivesse os dentes cerrados. A última vez que vira o vizinho fora para ser insultada. No entanto ali estava ele, e, se ela não estivesse enganada, para caçoar de sua ingenuidade. O riso inesperado brotou no fundo de sua garganta. Tentou sufocá-lo, mas acabou sorrindo.

— Você já a viu.

Anahi notou que ele olhava para sua boca e para seus olhos alternadamente.

— Desculpe-me, mas o quarto é normalmente a última parte da casa que visito, não a primeira. — Ele estava, é óbvio, se referindo ao dia em que subira a seu quarto pela escada, a fim de lhe abrir a porta que fora trancada pelo vento. E, como ela nada respondesse, indagou: — Está esperando alguém?

Anahi tinha duas escolhas. Responder que "sim" e afastá-lo de sua vida, ou dizer que "não" de acordo com o que seu coração estava pedindo. Fitou-o longamente, e teve certeza de que estava gostando daquele homem muito mais do que na verdade desejaria. Por isso, não resistiu à proposta de paz a qual ele lhe acenava.

— Entre.

Tomaram o vinho na sala, onde ele se declarou impressionado com tudo o que ela fizera sozinha.

— Não fui um vizinho compreensivo, e muito menos prestativo, não é?

Anahi ficou tão encantada com o súbito charme daquele homem, que, sem que percebesse, estava procurando desculpas para seu comportamento.

— Após uma semana inteira de trabalho e preocupações era justo que você perseguisse a paz e o silêncio no campo.

— Você me deixa envergonhado com sua compreensão.

Tantas gentilezas, entretanto, deveriam ter despertado sua imediata suspeita, pois o verdadeiro propósito daquela visita, ela logo descobriu, era para lhe pedir um favor.

— Estou esperando uma encomenda importante para esta semana. Você se importaria de recebê-la, caso eu não esteja aqui?

— É claro que a receberei — ela se colocou à disposição. Porém, algo no fundo de sua mente a alertou. Era muito estranho ele lhe pedir esse favor. Se a encomenda era tão importante, por que ele não mandara que a entregassem em seu endereço em Londres?

O tempo voou aquela noite e Anahi fez várias descobertas. Ela e Alfonso partilhavam da mesma opinião sobre uma série de assuntos. Quanto aos temas controversos, discordavam em alguns pontos, é claro, mas com respeito mútuo. E ela descobriu, também, quando ele se levantou dizendo que não queria abusar de sua hospitalidade, que não queria que fosse embora.

Naturalmente não fez nada para detê-lo. Seus olhos haviam sido atraídos para o relógio de parede fixo na cozinha e se espantaram com o adiantado da hora.

— Você também redecorou a cozinha, não? — ele indagou, durante o trajeto até a porta.

— Sabe que sim. — Ela não conseguiu esconder o sorriso que lhe curvou os lábios. — Você ligou para mim, furioso, uma certa manhã de domingo...

Alfonso olhava insistentemente para sua boca.

— Já disse alguma vez que acho você incorrigível?

— Acho que sim. — Ela riu e enrubesceu ao ser atingida por uma vibração energética que fez seu coração bater mais rápido.

Mas o riso desapareceu tão depressa quanto surgiu, ao notar que Alfonso ficara sério e que inclinava a cabeça enquanto a segurava pelos ombros.

Percebendo a tensão que a dominara, que a tornara rígida e lhe tirara o fôlego, e julgando que talvez ela ainda não houvesse superado o trauma da noite anterior, ele a soltou no último momento.

Então, mais uma vez olhando-a nos olhos, murmurou:

— Boa noite, Anahi Portillo.

— Boa noite — ela respondeu, rouca.

Mesmo depois que o ouviu entrar em seu próprio chalé, Anahi não conseguiu reagir por um longo tempo. Foi preciso um grande esforço para obrigar suas pernas a subirem as escadas e a levarem para a cama.

Aquela noite, com os olhos fixos no teto, fez a maior descoberta de sua vida. Estava perdidamente apaixonada por Alfono Herrera!