Fanfic: *-*Um Beijo na Noite*_*

Já era tarde quando se deitou, mas levantou-se cedo e revigorada, ansiosa por começar a retirar o papel velho da cozinha. Seria um outro dia quente, embora o céu prometesse chuva.

A chuva não caiu, mas o céu permaneceu nublado o dia inteiro. Anahi estava na janela olhando para o horizonte quando percebeu que o vizinho já havia chegado. Haviam se passado duas semanas desde que estivera lá. Talvez fosse esse o esquema. Um fim de semana em Londres, outro em Chumleigh Edge. Oh, seria bom demais. O bom humor retornou, fazendo-a rir ao pensamento.

Às cinco e quarenta, ainda concentrada em seu trabalho, Anahi se lembrou subitamente de seu encontro com Chris Farmer às sete horas. Movida para um outro tipo de ação, desceu da escada em que ficara trepada boa parte do dia, e se apressou a tomar um banho, lavar os cabelos e lixar mais uma unha quebrada.

Faltava um minuto para as sete quando terminou de se vestir. Usaria um modelo clássico em seda vermelha. Estava dando um último retoque na maquiagem e ouviu o carro de Chris parar junto ao portão.

Apanhou a bolsa e desceu os degraus que levavam à sala. Abriu a porta, viu Chris começando a subir a rampa, e esqueceu-o completamente ao notar que o vizinho estava observando-a de seu jardim.

Da última vez, ele a vira num estado lastimável, agora, no entanto, podia vê-la no melhor de seus aspectos. Não sabia por que deveria se importar com isso, mas a verdade é que sua boa aparência naquele momento estava fazendo um bem enorme a seu ego.

— Boa noite — ela o cumprimentou, fria, sem receber resposta.

Droga, pensou, e tentou ignorá-lo, voltando a dar total atenção a seu acompanhante daquela noite.

— Você está deliciosa! — Chris brincou, levando-a até o carro.

Anahi não olhou em direção ao chalé Myrtle quando o carro de Chris passou por ele. No entanto, e muito estranhamente, durante todo o trajeto para East Durnley, mesmo conversando com Chris, ela só pensava no vizinho.

Oh, como desejaria ter ignorado o maldito homem, em vez de tê-lo cumprimentado! Que falta de educação da parte dele não ter retribuído! Quem ele pensava que era, afinal? De uma coisa, porém, tinha certeza: não tornaria a falar com o homem, no que dependesse dela.

— Pensei em tomarmos um drinque no Globe antes de jantarmos — Chris propôs.

— Acho uma ótima idéia. — Anahi sorriu e voltou a pensar no vizinho alto e decididamente antipático.

Bem, por uma coisa ele deveria estar se sentindo grato a ela: poderia jantar em paz aquela noite, sem ouvi-la raspando o papel de parede da cozinha. Foi então que Anahi se lembrou de que o chalé Myrtle contava com uma sala de jantar. Como é que Herrera deveria tomar suas refeições solitárias, por sinal? Na cozinha, ou carregava seu prato para a sala de jantar?

De repente, ela se viu assaltar por um outro pensamento. O fato de Herrera estar de pé, próximo à garagem, no momento em que ela saíra, significaria que ele também estava de saída? Seria possível que não fosse jantar nem na cozinha, nem na sala de jantar, mas sim em um restaurante, na companhia de alguma linda mulher? Não era preciso que ninguém lhe dissesse, pois ela sabia por instinto que Herrera só deveria sair com mulheres bonitas.

Ao perceber que estava franzindo o cenho diante dessa idéia, Anahi procurou se concentrar mais no que Chris estava falando. Era ridículo ficar se preocupando com o vizinho. Como se isso lhe dissesse respeito! Como se ela se importasse com quem Herrera pudesse sair!

— Faz um século que não venho ao Globe. — Ela sorriu para o companheiro.

Anahi e Chris conversaram bastante sobre trivialidades, e a noite foi leve e descontraída. Ela até conseguiu se esquecer do vizinho mal-educado, que mexia com seus nervos.

Passava um pouco das onze da noite quando Chris estacionou o carro na porta do chalé.

— Foi um super jantar! — ela falou, prestes a descer do automóvel, à guisa de despedida. — Boa noite, Chris. Foi realmente muito agradável...

Para sua surpresa, Chris também desceu do carro.

— Não vai me oferecer um café? — ele indagou, com um sorriso insinuante no rosto.

Sem saber por que, Anahi não queria que Chris entrasse em sua casa. Na verdade, gostava dele como um bom amigo e não queria que ele confundisse as coisas.

Tentando parecer natural, falou:

— Acabo de me mudar e ainda não consegui pôr tudo em ordem. Se importa se deixarmos para uma próxima vez?

Chris olhou-a de maneira sensual e falou:

— De maneira nenhuma. — Dando-lhe um beijo leve nos lábios, completou: — Mas pode ter certeza de que cobrarei, ok!

Anahi subiu a rampa, notando que a não ser pela luz da rua, tanto o chalé Primrose quanto o Myrtle estavam na mais completa escuridão.

Será que Herrera estava dormindo, ou teria saído?

Anahi sacudiu a cabeça, tentando livrar-se daquelas conjecturas que não lhe diziam respeito. Que lhe importava o comportamento de seu vizinho? Afinal, nem o conhecia.

Depois de colocar uma leve camisola de algodão, Anahi deitou-se e dormiu quase que imediatamente.