Fanfic: *-*Um Beijo na Noite*_*

O fato de Herrera tê-la visto bonita e bem-arrumada na noite anterior não lhe importava. Tudo o que Anahi conseguia lembrar era do primeiro dia, quando ele a vira suja e suada, com roupas velhas. E agora, molhada até os ossos, sem maquiagem, e sem ousar se mover, pois sabia que as sandálias encharcadas emitiriam sons, se assim fizesse.

Ignorou-o completamente, porém esse comportamento não pareceu ofendê-lo.

Mesmo assim, continuou rígida, em frente à porta, esperando que a chuva parasse. Não tornou a olhar para ele, nem tornaria, mas sua memória era boa o bastante para lhe dizer que Herrera não recebera uma única gota de chuva. O mais provável é que tivesse pressentido a aproximação da tempestade e procurado abrigo em tempo, ao contrário dela.

O céu ainda despejava seu dilúvio, quando Anahi, muito tensa, resolveu tomar uma atitude. Suas roupas e seus cabelos já estavam tão molhados, que mais chuva não faria qualquer diferença. Voltaria para o chalé naquele minuto. Quem diabos se importaria com sandálias rangendo, afinal?

No instante seguinte, Anahi já havia dado dois passos para fora do celeiro, quando seus olhos se arregalaram de horror e suas pernas ficaram paralisadas. Foi preciso um esforço sobre-humano para sufocar o grito que subiu por sua garganta. Porém, foi impossível conter o pavor que se apossara dela. Num piscar de olhos, Herrera estava a seu lado, também sob a chuva.

— Vacas! — ele zombou com a arrogância de sempre. Só então Anahi percebera que nem lhe passara pela cabeça a possibilidade de enfrentar animais grandes e perigosos, quando resolvera explorar a fazenda. — Não me diga que uma jovem que se mudou para o campo pode sentir medo de vacas! — Herrera prosseguiu, obviamente se divertindo a sua custa.

A ironia, entretanto, a odiosa, vil e arrogante ironia provou ser exatamente o remédio de que ela precisava. O homem sabia que ela estava aterrorizada! E ao perceber que só tinha duas alternativas, ficar onde estava ou voltar para dentro do celeiro, Anahi começou a se zangar. Será que não haveria um fim para a humilhação que estava sofrendo nas mãos daquele homem? Foi nesse momento, então, que descobriu que não permitiria mais que essa situação continuasse. Com medo ou não, jamais voltaria para o celeiro!

Com mais coragem do que julgara possuir, e respirando fundo, Anahi começou a andar. Não olhava para trás nem para os lados. Não sentia mais a chuva, nem o suor nas mãos frias, nem dava importância para as contrações de seu estômago. Aproximava-se do gado. Um dos animais olhou-a de frente e ela quase desmaiou, mas resistiu ao pânico. Engolindo em seco, seguiu em frente, passou por todos os animais, até que finalmente enxergou a porteira pela qual entrara na fazenda.

Mais do que depressa abriu-a e tornou a fechá-la. Só então, segura em sua posição, arriscou um olhar para o celeiro. Foi com uma deliciosa sensação de vitória que viu Herrera ainda junto à porta, observando-a. O imbecil!

Seria ódio o que sentia por ele? Não sabia, mas positivamente o desprezava! Deu meia-volta, em seguida, e rumou para casa.