Fanfic: ♠ Talvez. (terminada)

Roendo as
unhas, roendo os dedos.

Coragem é um sentimento
engraçado, quando mais precisamos dela ela foge como um cachorrinho apavorado.

Ali, sentada na sala do
apartamento de Paulinha, no qual nunca havia entrado antes, mesmo tendo
namorado-a por quase 4 anos, estava eu, roendo minhas unhas longas pintadas de
vermelho.

Por mais que puxasse todo o ar do
mundo, parecia faltar oxigênio em minhas veias.

Hoje cedo, beijar Rafael não
parecia errado. Paula terminou comigo, sumiu do mapa, eu ligava inúmeras vezes
por dia, nunca atendida, nunca retornava. Passaram-se dois meses e alguns dias,
talvez duas semanas e então, quando eu sigo minha vida, pois só beber não
estava mais adiantando, ela aparece, aparece linda, com os olhos mais azuis que
já vi... e tudo que eu mais queria era cancelar o beijo de Rafael da minha
mente e seguir o resto da minha vida beijando a boca suave da minha ex namorada.

- Amor? – Sua suave voz cortou
meus pensamentos. Me encontrei apavorada, não sabia como contar, não queria
contar mas ometir não era o certo.

- Beijei o Rafael. – Soltei frio,
seco, já arrependida de ter falado.

- Que?

- Você sumiu, nunca me ligou,
eu... eu tinha que seguir... e hoje, justo hoje, eu beijei o Rafael.

Paulinha ficou me olhando. Seus
olhos ficaram avermelhados, não de raiva, eram as lágrimas que ela estava
contendo. Ela não dizia nada, muda, apenas me olhando como se me reprovasse.

- Vou ao banheiro. – Disse Leka,
que por um segundo esqueci que estava na sala conosco.

Apenas a olhei, em outra situação
provavelmente eu estaria rindo de sua falta de noção, mas hoje não, hoje eu
estava tão assustada que não conseguia achar graça em nada.

- Fala alguma coisa Paula. –
Supliquei.

Paulinha sorriu, não era um
sorriso feliz, mas era como se me pedisse para ficar calma.

- Vem cá. – Falou com o tom
baixo, como de costume. Me abraçou apertado, acariciando a minha cabeça. Eu não
a entendi muito, mas comecei a chorar como uma criança. Alto, soluçando. – Xiu,
calma Micka, calma.

Ficou me cuidando até que me
acalmasse. Enxuguei meu rosto, afastei-me um pouco para olha-la nos olhos.

Paulinha me sorriu novamente. Seu
sorriso continuava estranho, um sorriso triste, bem triste, como se fosse
possível.

 - Você me perdoa?

- Eu não tenho o que perdoar
Micka. – Respirou fundo. – Não estávamos namorando, você apenas fez uma escolha
na sua vida.

- Não... como assim escolha? Não
escolhi nada... – Comecei a ficar confusa.

- Escolheu seguir amor, sentiu
que estava pronta... Quem sou eu pra te julgar.

Meu choro voltou a tomar conta de
mim. A felicidade é tão breve.

- Ei, a minha alma alegra-se com
o seu sorriso... então não chore por mim. – Falou acariciando meu rosto,
limpando minhas lágrimas.

- Como sorrir Paula? Eu estraguei
tudo.

- Não estragou nada.

- Estraguei, você veio para
mim... e eu te recebi contando que beijei alguém.

Paulinha riu, eu estava perdida,
como ela pode rir nessas horas.

- Acho que eu deveria ter avisado.

- Fica comigo? – Tomei coragem.

- Pra sempre com você Michaella.
Pra sempre sua amiga.

Amiga? Como assim amiga? Aquela
palavra atingiu em cheio o meu coração, despedaçou-o mais ainda.

- Amiga? – Repeti meus
pensamentos.

- Hoje, agora, percebi que
estamos em etapas diferentes de nossas vidas. Mas estarei sempre com você.

Eu decidi me calar. Ouvi-la
falando assim, dessa maneira me machucou tanto que acredito que se ela tivesse
beijado o mundo todo doeria menos.

- Vem, são 2:30 da manhã. Vou te
deixar no seu apê antes de voltar para casa. – Levantou-se. – Vamos Leka. –
Falou mais alto.

Fomos para o carro, não trocamos
mais nenhuma palavra. Leka ficava acariciando minha mão, como se entendesse a
dor que estava sentindo. Minhas lágrimas estavam contidas, guardadas para mais
tarde.

Logo meu prédio apareceu, assim
que viramos a esquina. O carro parou.

- Se cuida tá bom Micka? – Falou Paulinha,
me dando um beijo no rosto.

Fiz que sim com a cabeça e olhei
para baixo, encarar seus olhos era demais para mim e para meu auto controle.

- Quer que eu fique contigo
Micka? – Perguntou Leka.

- Não... não precisa amiga. Eu te
ligo amanhã.

Nos abraçamos e Leka sussurrou no
meu ouvido:

- Você vai ficar bem, eu vou
conversar com a Paula.

Então eu entrei em casa sem olhar
para tras, não queria ver o carro desaparecendo rua a dentro.

Me joguei na cama, me escondendo
do mundo enrrolada nas cobertas. Nem as sandálias tirei.

O dia ia acabar... assim que o
sono viesse tudo voltaria a ficar bem.

Com dificuldade e os primeiros
raios de sol adormeci.