Fanfic: ♠ Talvez. (terminada)

Ponto final

Depois de me despedir de Julia, ali no banheiro ainda, a ficha caiu.
Pronto, eu tinha acabado de arruinar meu namoro perfeito.
Nem quis mais saber de aula, peguei minhas coisas na sala, apenas olhando para Carol e saindo, correndo, literalmente correndo até meu carro.
Sentei no banco, respirando tão rápido que meu peito subia e descia frenéticamente.
Dei uns tapas na minha própria cabeça, como pude fazer aquilo?!
Paula jamais merecia algo assim, como fui suja...
mas ao mesmo tempo meu corpo estava tão anestesiado pelas novas sensações.
Dirigi até em casa, parando em frente ao meu prédio.
Fiquei um tempo com o carro parado, sobre a calçada, em frente a garagem já com o portão aberto.
- O que eu to fazendo aqui? - Me perguntei em silencio.
Dei a ré, virando todo o volante para seguir até a BR, sentindo Cornélio.
A viagem toda eu passei pensando no que falar, em como agir... eu precisava ver Paula, precisava ver Leka, precisava da minha mãe.
As três horas e meia de viagem passaram rápido e quando dei por mim já estava entrando no portal da cidade.
Corri para a casa de Eleonora, eu tinha que abraçar aminha melhor amiga, tinha que conversar com ela.
Toquei a campainha, levando um susto quando da porta Leka gritou.
- AMIGAAAAA!- E veio correndo me abraçar. - Que surpresa boa... PAULAAAAA, corre aqui.
Meus olhos já estavam marejados só de sentir minha amiga ali, depois de ouvi-la falando o mundo todo parou.
Parou paralizado, tudo em camera lenta, igual naqueles filmes.
Minha namorada apareceu na porta, estava linda, com os cabelos pretos longos, caidos em mexas pelos ombros. Usava um shorts jeans e um moleton cinza.
Ela parou bruscamente ao me ver, ainda na porta. Abriu aquela boca que tanto beijei, que tanto se declarou para mim e depois da surpresa sorriu, sorriu como uma criança ao ver seu super heroi favorito.
Ela desceu as escadas até o portão devagar, coçou a cabeça, no cantinho direito, como fazia quando estava confusa. Mordeu o lábio inferior, parando bem na minha frente.
- Eu não ganho um abraço? - Falou, sorrindo para mim.
Aqueles olhos azuis, azuis piscinas, grandes e brilhantes me olhavam com ternura, com um carinho e um amor que jamais outro me olharia.
- Claro. - Falei baixinho, abraçando muito forte Paulinha.
- Que surpresa boa. - Sorriu, me dando um beijo no rosto, já que estavamos na rua.
Sorri sem graça, não sabia o que falar, não tinha o que falar.
- Vamos entrar!!! - Falou Leka, me puxando pela mão. - mamãe esta em casa hoje, vai amar te ver.
Fui seguindo-a, puxada, sentindo os olhos de Paula mirados em mim o tempo todo.
Fui abraçada, paparicada, mimada pela mãe de Leka, conversamos um pouco, me fizeram mil e uma perguntas sobre a USP. Respondi tudo, até alonguei alguns assuntos.
Quanto mais conversasse com todos, mais longe de Paulinha eu ficaria.
Mas como tudo tem sua hora, perto das 17:00 nos despedimos de Leka.
- Você vai querer ir para sua casa ou pedemos ir para minha? - Perguntou Paula, um pouco mais quieta que o normal.
- Podemos ir para a sua... - Tentei sorrir mas olha-la nos olhos me dava vontade de chorar.
- Você esta bem? - Paulinha perguntou, franzindo o cenho. - Parece estar nervosa.
- Não... - Balancei a cabeça. - É impressão.
Paulinha passou a mão no meu rosto, sua mão estava quentinha me fazendo curtir aquele toque simples e inocente.
- Vamos então. - Sorriu, ligando o carro.
Os 20 minutos até a casa de Paula eu parmaneci muda, olhando para fora do carro.
As vezes Paulinha me perguntava se estava tudo bem e então eu respondia que estava cansada.
Finalmente chegamos e para piorar ainda mais a situação a família toda estava lá.
Dona Helena, avó de Paula me abraçou tão forte que juro, se não tivesse tão focada em não chorar, nessa hora eu estaria desmoronada.
- Que bom te ver aqui minha menina. - O Avô de Paula me deu um beijo no rosto. - Vou pedir para que façam aquele Strogonoff que você adora. - Sorriu o velhinho mais querido que já conheci.
Subimos para o quarto de Paula, entrei nele, olhando as nossas velhas fotos espalhadas pelos murais.
Me sentei na cama, na verdade faltava força para ficar em pé.
Paulinha fechou a porta, devagar, parando encostada nessa mesma.
- Tá... - respirou fundo, vindo até mim, se abaixando em minha frente. - Me conta... o que tá acontecendo.
Fiquei olhando aqueles olhos azuis lindos, aquele rosto perfeito, aquela menina que nunca, nunca mais na vida encontraria igual.
- Paula... - respirei fundo. - o assunto não é bom.
Eu vi seu rosto ficar branco, seus lábios tremerem um pouco, piscou algumas vezes seguidas.
Eu sabia que ela iria chorar, eu faria mais uma vez alguem que só me fez sorrir chorar.
- Tá... - ela respondeu com um risco de voz fraca e rouca.
- Senta aqui. - Bati na cama, ao meu lado.
Ela obedeceu, sentando de lado, com uma perna dobrada sobre a cama, ficando de frente pra mim.
Respirei fundo, várias vezes, tudo que eu pensava em falar não parecia bom o bastante. Sempre faltava alguma coisa.
- Fala logo Micka. - Pediu minha namorada. - To ficando nervosa. - Piscou novamente aqueles olhos azuis um pouco molhados já.
- Eu não posso mais mentir para você... - Atropelei as palavras. - Eu não posso mais mentir pra mim, para nós duas.
Paula ficou quieta, só me olhando, então continuei.
- Eu venho errado com você, comigo, com tudo... Essa conversa já tinha que ter acontecido a muito tempo... era pra ser diferente... e... nossa... como vou falar...
Paula então sussurou
- Você tem outra?
- Não... não tenho ninguém. - Não menti, eu realmente não tenho ninguém. - Mas hoje beijei outra menina... - falei tentando segurar o meu coração no peito.
Paula pareceu congelar, ergueu o olhar até encontrar o meu. Pude ver as lagrimas se formando até escorrer em seus olhos, pelo seu rosto.
- E você vem me contar, assim, na cara de pau? - Me falou seca, fria.
- Não, eu vim porque você é importante pra mim.
- Não precisa dizer que se importa, eu sei quem realmente se importa comigo… - Me retrucou com a voz magoada.
- Paula eu realmente me importo... e por isso que estou aqui te falando. Eu não tenho ninguém mas também não tenho você... eu não posso ter porque eu não quero ter. - Certo, fui um pouco idiota mas não achei jeito melhor de falar.
- Que? - Soltou uma risadinha ironica e ao mesmo tempo desesperada. - Quem você beijou?
- Não precisamos entrar nesses detalhes... só quero que saiba por mim que sim, eu trai você, sim eu estou diferente... eu amo você mas eu não te vejo mais como mulher.
Paula limpou a lágrima da bochecha direita com a ponta da manga do moleton, ela parecia perdida, desacreditada, chocada com tudo que estava dizendo.
- Não to acreditando cara... isso tudo é muito irreal. - Falou se levantando da cama. - Olha eu não vou te expulsar do meu quarto pois não sou escrota e nem sem educação mas se você quiser sair... por favor.
- Eu vou... - Me levantei, respirando fundo. - Não vou pedir para você ficar bem... apenas... - Tirei a minha aliança do dedo, deixando sobre a escrivaninha. - se cuida.
Saí do quarto de Paula, agora minha ex-namorada, desci as escadas, me desculpando com os avós por não jantar com eles.
Estava saindo porta a fora, quando Paula gritou lá de cima para que o motorista me levasse.
Tentei recusar mas Dona Helena pediu para que eu aceitasse.
Paula era foda até destruida, mesmo acabada ela ainda se preocupava comigo.
No caminho até o centro da cidade eu chorei, chorei por te-la magoado, por te-la visto chorar. Chorei por mim também, por saber que jamais encontraria alguem como Paula, chorei por saber que aqui, hoje, se rompeu uma verdadeira historia de amor.
E uma pergunta gritava dentro de mim,
como seria minha vida sem Paula Bettencourt?

frase do cap: "Paula era foda até destruida, mesmo acabada ela ainda se preocupava comigo."