Fanfic: ♠ Talvez. (terminada)

Nostalgia?

Sofrendo? Sofrendo é pouco, eu estava em migalhas.

Eu não sei o que doía mais, ser traída ou lembrar que um dia deixei a Paula por uma pessoa assim, falsa, mentirosa.

Tudo que minha vida tinha se baseado eram mentiras,

Aquele papo todo de casamento, mesmo que eu não tivesse certeza, haviam me iludido.

Julia parecia ser certa para mim, seu espirito era leve como o meu, gostávamos das mesmas coisas, baladas, bares, viver em festas.

Como ela pode me trair?

O que lhe faltava? Como doía a dor de ser traída!!!!

Já havia esquecido a ultima vez que tinha comido, estava na base de água e as vezes coca-cola, por causa do açúcar.

Não tomava banho desde que saí de casa, acho que completava cinco dias hoje.

O meu cabelo estava oleoso, cheio de nó, meu rosto lamentável, o lápis estava na bochecha, junto com o rímel, que manchara toda minha cara de preto.

Eu queria morrer,

Não pela falta que Julia faria mas pela vergonha de ser “corna”.

Estava jogada na cama, com a cabeça para baixo, olhando o mundo todo ao contrário quando a porta do quarto se abriu.

All Stars pretos, foi a única coisa que vi antes de rolar para o lado, caindo da cama, de encolhendo no canto da parede.

- Obrigada. – Aquela voz muito conhecida agradecia a um homem, que estava com uma chave na mao. Ele se foi e a porta do quarto foi fechada. – Micka... – Me chamou, me fazendo chorar só de ouvi-la. – Ei....- chegou perto de mim, sentando-se ao meu lado e me puxando para seu colo.

Ela me abraçou de um jeito tao forte que meu corpo desfaleceu em seus braços, escondi meu rosto em seu pescoço e por lá fiquei a chorar por um bom tempo.

Paulinha não falava nada, ficou em silencio, ela passou a mao no meu cabelo mas logo desceu para as minhas costas, se fosse em outras circunstancias eu estaria rindo, com o nojo daquela patricinha que luta para ser normal.

Ficamos assim até seu celular tocar, ela sussurrou para mim.

- Desculpa meu amor. – Se mexeu, pegando o celular do bolso de trás da calça. – Oi Leka... – Atendeu o celular. – Ok, daqui duas horas te pego ai... – Pausou, ouvindo o que Leka veio a dizer. – Fica calma, estou com Micka. – Pausou novamente e eu ouvi Leka gritando que ia me matar por deixa-la louca. Paulinha soltou um suspiro. – Até depois Leka. – E desligou.

Ergui o rosto, para olhar naqueles olhos azuis que franziram as sobrancelhas para mim.

- A quanto tempo está aqui meu bem? – Me perguntou suavemente, levando a mao até meu rosto, acariciando suavemente.

- Não sei... acho que uns 5 dias.. – Falei meio perdida no tempo.

- Comeu alguma coisa?

- Coca-cola. – Respondi um pouco envergonhada.

- Hum... que saudável. – Me sorriu, me fazendo sentir um frio fodid* na barriga.

- É... – Mordi meu lábio.

- E banho? – Riu, passando o polegar um pouco mais forte na minha bochecha, como se tivesse tirando a maquiagem caída.

- Ixe... – Respondi mais envergonhada ainda.

- Ok... – Paulinha riu. – Vamos pra minha casa?

- Não... – Fiz que não com a cabeça. – Quero ficar aqui. – Estava chorando novamente.

- Não Micka, não ficara aqui... – Falou séria, o que a deixou linda.

- Mas eu quero. – Franzi o cenho.

- Não me interessa... vamos ao meu apto... anda. – levantou, estendendo a mao para mim.

Respirei fundo, conhecia muito bem com quem estava lidando, e ficar de birra não daria muito certo.

- Ok. – Revirei os olhos, pegando na mao de Paula, que me puxou me levando até seu carro estacionado no humilde estacionamento do hotel.

- Fica quietinha aqui. – Me disse, abrindo a porta do Camaro. – Já volto, vou pagar sua conta. – Riu, revirando os olhos. – Vou falir em coca-cola? – Brincou, andando até o hall do pequeno hotel.

Fiquei olhando para aquela porta por onde ela entrou,

Minha mente estava a mil,

Como Paula conseguia ser tao linda? Tao perfeita com quem só lhe fez sofrer? Será que ela estava com pena de mim?

Franzi o cenho involuntariamente vendo-a chegar no carro novamente.

- Eu não preciso que tenha pena de mim. – Falei até um pouco grosseira.

Paula me olhou de canto de olho, ligando aquela máquina aonde estávamos sentadas.

- Entao tome um banho, se alimente... – Balançou a cabeça negativamente.

- Faço o que eu quiser Paula... – Falei brava.

- Uhum... – Me respondeu ironicamente.

- Pare esse carro...

- Ah Micka, cala a boca. – Disse irritada. Era a primeira vez que Paula me mandava calar a boca e o que eu fiz? Calei-me.

Fiquei muda o caminho todo até um prédio todo espelhado. Paramos na garagem, Paula foi me puxando pelo braço, entrando no elevador.

- Tomara que não encontre nenhum vizinho, vao achar que faço caridades. – Comentou no elevador, com certeza para me irritar. Devolvi seu comentário com um olhar fulminante.

O elevador parou na cobertura,

Paula me puxou, abrindo a porta do seu apto.

Entramos e aquele cantinho era a cara da minha ex- namorada, o que me fez sorrir um pouco.

- Oh, vai tomar banho vai... – Pegou na minha mao e me levou até seu banheiro. – Banheira ou chuveiro?

- Chuveiro. – Falei sem vontade.

- Melhor mesmo, senão era capaz de entupir o ralo da banheira de tanta sujeira. – Ri.

- há há há. – Falei sem achar graça nenhuma.

- Entra ai, vou buscar uma roupa pra vc. – Falou saindo do banheiro.

Liguei aquela água quentinha e me joguei ali dentro. Estava viajando nos meus pensamentos, as vezes as lágrimas voltavam, as vezes ficava paralisada, não estava acreditando muito que estava no apto de Paula, tomando banho no seu chuveiro.

Peguei seu shampoo, levando até meu nariz, aquele cheiro, ah aquele cheiro, era framboesa, mas uma framboesa única, o cheiro do cabelo de Paula.

Lavei meus cabelos com seu shampoo, com seu condicionador.

Sai daquele banho arrastada, por mim poderia ficar a vida toda por ali.

Me sequei, estava secando o cabelo na toalha quando Paula voltou para o banheiro.

- Desculpa.. – Falou me olhando nos olhos, descendo um pouco seus olhos pelo meu corpo todo nú e voltando a me olhar nos olhos. – Trou...- Tossiu. – Trouxe roupas para você. – Deixou o montinho de roupas sobre o balcão. – Fica a vontade ai, vou terminar de fazer sua comida. – Sorriu, percorrendo todo meu corpo com seus olhos novamente. –Tchau. – Disse um pouco tensa.

Eu ri, ri sozinha quando ela desapareceu do meu olhar.

Procurei seu creme de framboesa pelas suas coisas, encontrando-o bem na minha frente, sobre o balcão. Passei o creme, me sentindo tao perto de Paula por causa do cheiro.

Vesti um shorts soltinho, esses de paninho com top que Paula deixou para mim, ela deixou também uma blusa, mas estava com muito calor para vesti-la.

Passei o perfume da minha ex, sei lá, pareceu necessidade estar com todo o cheiro dela em mim. Me atrevi e escovei meus dentes com sua escova de dentes também, várias vezes já havia feito isso antes, ela não ligaria, eu acho.

Saí do banheiro escovando os cabelos, buscando Paula pelo enorme apto.

- Isso, rua Senador Motta, 197. – Falava Paula no telefone.

- Oi. – Falei olhando-a pelo balcão da cozinha.

- Oiii. – Sorriu para mim e voltou a falar no telefone. – Estamos bem Leka, venha logo. – Riu, desligando o celular. – Era sua amiga, desesperada atrás de você.

- Ela vai me matar. – Suspirei, me sentando em um dos banquinhos.

- Panquecas? – Ergueu as sobrancelhas, pegando os pratos e colocando sobre o balcão também.

- Oba. – Sorri, estava sem vontade de comer mas me sentia bem, nesses cinco dias era a primeira vez que me sentia bem.

Paula colocou geleia de morango, doce de leite, chantilly, tudo sobre o balcão, junto com as panquecas e uma jarra de suco de laranja.

- Sem refrigerante para você, mocinha. – Piscou para mim, dando a volta no balcão e sentando ao meu lado, em um dos banquinhos.

Comemos aquelas panquecas deliciosas que nem sei onde e como Paula aprendeu a fazer.

Falando em Paula, ali sentadas pude ver o quanto ela estava linda. Seus cabelos continuavam longos e pretos, não estavam na cintura, mas no meio das costas. Aqueles olhos azuis eram ainda bem claros e brilhavam muito hoje.

Ela estava de lápis, usava uma polo rosa clara e jeans velhos, surrados.

Continuava com aquele ar de menina rebelde.

Ali, parada ao lado dela nem parecia que já faziam 3 anos que não nos víamos.

- Comeu bem Micka? – Me perguntou preocupada.

- Sim. – Falei um pouco rouca, estava me sentindo amortecida, a ficha acabara de cair. Estava na casa da minha ex-namorada que não via a anos.

- Que bom, quer conversar? – Me perguntou, levantando e tirando a mesa.

- Quer ajuda? – Perguntei querendo fugir do assuntos.

- Não, amanha a empregada lava tudo... – Respirou fundo. – Voce tem que se cuidar meu amor. – Falou suavemente.

Meu amor?! Será que aquele meu amor era apenas um jeito carinhoso de falar? Eu que um dia fui literalmente seu amor.

- Ah Paula... – Olhei para baixo, desconsolada. – Parecia tao certo estar com Julia. – desabafei.

- Hum... – Falei compreensiva. – As vezes achamos que encontramos nosso amor maior, mas nos enganamos.

- Não... – Fiz que não com a cabeça. – Julia não é o amor da minha vida... – Olhei Paula nos olhos. Estava sendo sincera. – Mas era certa para mim, tínhamos uma relação tranquila, ela não me irritava nunca, gostávamos das mesmas coisas, fazíamos as mesmas coisa...

- E no fim eram iguais demais. – Paula suspirou.

- É... – Pensei, lembrei da vez que traí Paula para estar com Julia, as vezes que me sentia sufocada e queria fugir, ser livre. – Acho que Julia quis ser livre. – Sorri sem graça, com os olhos cheios de lágrimas.

- Sim... como um dia você também quis ser. – Paula sorriu, um sorriso triste.

- É... – Respondi sem graça. Eu estava arrasada, ainda mais em ter aquela conversa com Paula.

- Mas agora já passou né?! O que você pretende fazer? Pelo que sei, Julia nem sabe que você sabe dela com a Gabi.

- Nossa... como sabe de tudo isso? – Perguntei assustada.

- Carol. – Sorriu para mim. – Mas fala...o que vai ser?!

- Não sei, acho que vou largar medicina... vou voltar para Cornélio...  Não sei...

- Voce ta louca? – Paula gritou. – Nada disso... medicina é seu sonho... você mudou toda sua vida por isso...

- É... – mordi meu lábio. – Mas vai ficar complicado, sei lá...- dei de ombros.

- Pode parando... – Paula riu. – Medicina você não largara... – Mordeu o lábio inferior. – E quanto a Julia?

- O que tem? – Perguntei sem entender.

- Vai terminar com ela?

- Claro. – Respondi convicta. – Já terminei.

- Mas não vai conversar com ela?

- Falar o que Paula?

- Sei lá, ela pode ter seus motivos... sei lá, vai que foi uma aventura que ela se arrependeu?!

- Ah.. – tive que rir. – Que pena pra ela... se aventurou e já era.

- você quem sabe... te quero bem Micka. – Sorriu para mim. – Nossas vidas mudaram muito, crescemos né... – Piscou devagar. – Mas sempre vou querer você vem.

Fiquei um tempo sem falar nada, olhando aqueles olhos azuis que também me encaravam. Minha respiração ficou pesada, minha barriga dolorida. Já sentia meus olhos se encherem de lágrimas novamente.

- Eu também Paula... sempre existirá você... – Sei que respondi bem diferente do assunto... mas saiu, assim, simples...

Paula piscou duas vezes mais devagar e voltou a me encarar. Não sei se deveríamos falar algo, mas as vozes não saiam, os olhos não desgrudavam. Acho que falavam por nós.

O tempo passou, a vida mudou, vacilei com essa menina, não, hoje era uma mulher, mas vi nos seus olhos que como pra mim para ela eu também sempre existiria.

A campainha tocou, contando todo aquele clima pesado e também nostálgico que nos invadiu.

Paula foi atender e entrou no apartamento uma Leka histérica, me xingando de mais de 1000 coisas diferentes.