Fanfic: ♠ Talvez. (terminada)

Verdades ditas

Quem disse que eu conseguia dormir?

Era impossível, tudo veio de um forma tao forte na minha cabeça que eu fiquei até sem saber como cortar esses pensamentos.

Como Julia podia ter me traído?

Pior,

Como eu um dia pude ter traído a Paula?

A culpa comia meu coração muito mais do que a dor por estar solteira.

As lágrimas voltaram a me embalar,

Chorei até não aguentar mais e dormir.

Dormir? Foi mais uma cochilada rápida e como se tivesse um despertador alucinado dentro de mim, acordei novamente.

Leka estava dormindo ao meu lado, me arrastei até sair da cama,

Lavei o rosto, era madrugada ainda, o horário exato eu não fazia nem noção mas estava escuro lá fora.

Saí do quarto silenciosamente, a minha garganta estava seca, precisava de um copo d´água.

Estava chegando na cozinha quando escutei aquela voz rouca e suave.

- Não consegue dormir Micka? – Foi como um raio diretamente no meu estomago. Gelei, esquentei, tremi.

- Que susto. – Virei para onde veio a voz. Paulinha estava sentada no sofá, segurando uma caneca grande. – Não consigo... – Fiz beicinho, o que a fez levantar.

- Quer um chá de camomila? – Sorriu, chegando perto de mim.

- Queria água... e um rivotril, isso sim. – Sorri. – Isso de chá só funciona pra você meu amor.

- Claro que não. – Riu. – Tó. – Me entregou um copo com água. – E vou fazer chá pra você. – Deu de ombros.

Fiquei encostada no balcão, vendo ela esquentar água.

Paula estava de costas pra mim, deslizei meus olhos pelo seu cabelo, chegando até a metade das costas.

Ela havia cortado o cabelo, acabe rindo, perdida em meu pensamento.

- O que foi? – Perguntou, virando um pouco o corpo para me ver.

- Fico aqui imaginando... – Sorri. – O quanto você pensou antes de cortar o cabelo.

- Ah... – Paulinha deu uma gargalhada. – Foram horasssss pensando e quando cortei...

- Se arrependeu... – Falei antes dela, que abriu um sorriso enorme.

- Sim, me arrependi muito. – Riu.

- Acho que te conheço bem... – Falei mais baixo, mas ela ainda ouviu.

- Como ninguém conhece. – Falou virando para a chaleira. – Com muito açúcar né?! – Riu.

- Acho que não sou apenas eu que te conheço aqui. – Ri também, sentindo uma leveza gostosa.

Paulinha pegou uma caneca grande, colocando um pacotinho de chá, açúcar, por fim virou a água quente e me entregou.

- Vai dormir? – Perguntou me olhando com aqueles olhos enormes e azulados.

- Não, abortei já essa missão. – Sorri.

- Entao vem ficar comigo no terraço? – Pegou na minha mao, me puxando em direção ao seu quarto.

Paula, não faça isso, estou dolorida mas ainda estou viva, pensei todo o trajeto até o quarto de Paula.

Fiquei olhando aquele cantinho tao a cara dela que tive que sorrir. Ela abriu a sacada, dando para o terraço.

- Vem... ou quer ficar ai no quarto? – Me perguntou.

Franzi o cenho, ela só podia estar de sacanagem comigo.

- To indo... – Soltei uma leve rizada, saindo para fora do quarto. – Uou... – Foi o que falei quando me dei de frente com aquela coisa toda lá fora.

Paula sorriu, se jogando nos tatames, me joguei em seguida, olhando para cima. Algumas estrelas ainda estavam a brilhar.

- Como você esta se sentindo, Micka? – Me perguntou suavemente.

- É pra ser sincera? Tipo, do jeito que você sempre é?! – Ri, um pouco nervosa.

- Claro. – Riu.

- É estranho... eu achei que meu mundo ia acabar quando vi Julia naquele bar, sabe?

- Uhum...

- Ai não queria viver... mas porr*... – Falei rindo... o que a deixou confusa, pelo seu rosto engraçado. – Voce apareceu naquele hotel... e... – Pausei, na verdade parei de falar.

- E? – Me perguntou, virando o corpo para o meu, para me olhar melhors.

- E seus olhos brilham mais que as estrelas. – Falei me perdendo do assunto, mergulhando naqueles olhos azuis tao brilhantes e grandes.

Paulinha ficou um pouco séria, me encarando e abriu um sorriso.

- Volta pro foco, Micka. – riu, me fazendo rir também.

- você apareceu naquele hotel e tudo mudou... tipo... parece que não importa agora sabe?! – Mordi o lábio, não sabia como explicar.

- Hum... não muito... me explica. – Falou, passando a mao no cabelo negro.

- Assim... – Respirei fundo. – Eu estava acabada ai você apareceu e foi como se aquela dor, aquela situação não importasse... não é bem importar... ah Paula... virou segundo plano... meu nervosismo em estar perto de ti me consome mais do que o chifre que levei, do que a vida que planejei ter ido por água a baixo.

- Ah... – Respondeu com os olhos arregalados. – Ficamos um tempão sem nos ver... sem nos falar...  – Falou rouca, como se estivesse lutando pela sua voz.

- Sim... ficamos... – Respirei fundo novamente. – Não sei como um dia tive coragem de querer estar longe de você.

Paula ficou me olhando, piscava algumas vezes mas não falava nada.

- Eu realmente não sei o que pensei... – Desabafei, sincera.

- Voce não estava se importando muito em pensar... – Mordeu o lábio inferior. – Ou estava... ah Micka... você estava envolvida com a Julia... ela estava de ganhando... e pareceu ser bom seguir...

- É... você tem razão... mas sei lá Paula... – Parei de falar. – Acho que não devemos ter essa conversa, não ainda.

- Voce quem sabe. – Me falou mais fria. Ela sempre ficava assim, seca, quando conversávamos sobre algo que não gostasse.

- Eu me apaixonei pela Julia... mas nunca esqueci de você... e não estou falando isso para você me querer novamente... ou então para você agir de algum jeito... Eu apenas nunca esqueci....

- Eu nunca deixei de te amar Micka... – Soltou a bomba mais gostosa de ser ouvida. – Eu nunca deixei de ser loucamente apaixonada por você... – Franziu o cenho. – Eu... eu sempre tive você aqui dentro. – Levou a mao no seu coração.

- Eu também sempre te tive no meu coração. – Respondi com os olhos cheios de lagrimas.

- Sim... teve... e pisou, não cuidou... poxa Micka... você me traiu... você mentiu pra mim tantas vezes... – Respirou fundo, passando a mao nos olhos. – Voce só pensou em você... o que eu até, não sei como, entendo. – Balançou a cabeça negativamente. – você estava deslumbrada com seu mundo, sempre foi meio imatura, estava na folia, apareceu alguém como você, que viveria do seu jeito... pronto, juntou tudo e apareceu uma paixão....

Pensei em falar um monte de coisa mas Paula estava ali, falando toda a verdade na minha cara.

- Mas não deixei de me sentir toda nervosa quando te via nos lugares...- Soltei. – E quando a Marina tocou Quem de Nos dois? Eu quase morri, queria correr para você...

- Mas não correu Micka... ficou lá, esfregando sua paixão na minha cara... – Me respondeu magoada.

- Voce também... veio até minha cidade para mostrar que estava com ninguém menos que Marina Castro.

- Não pensei em mostrar nada pra você. – Ela riu. – Apenas estava com uma mulher que tocava nos bares que você frequentava...

- Ai Deus... chega desse assunto que me deixa com raiva. – Falei brava só de lembrar de Paula com Marina.

- Voce é louca. – Paula riu, irritada também. – Voce me deixou, você me traiu Micka... – Pausou e voltou a falar com a voz tao magoada e raivosa que me deixou muda. – O que Julia fez contigo, você fez comigo... você me traiu com uma amiga sua... qual vc me apresentou pouco tempo antes... – riu e balançou a cabeça. – Essa doi ai eu senti... mas ao contrario de você... a minha dor não passou rápido como a sua... ela ta aqui até hoje...

Fiquei ali, olhando pra ela, sentindo meu coração derretendo, mas não como mantega, como se tivessem jogado acido mesmo.

- Me perdoa... – Falei chorando, e chorando muito.

- Eu já perdoei Micka... a muito tempo... tanto que esta na minha casa... só que esquecer... isso é impossível. – Falou se levantando. – Vou tentar dormir...

- Não... – Levantei atrás dela, segurei no seu braço puxando-a para mim. – Me deixa te mostrar que me arrependi?

- Não precisa. – Olhou nos meus olhos, com seu corpo bem coladinho no meu. – Esta escrito nos seus olhos que vc se arrependeu.  E eu li isso quando nos vimos no Meet, a 3 anos atrás.

- Entao??! – Perguntei receiosa.

- Entao nada... você se arrependeu... mas você fez.

Apertei Paula contra meu corpo, sentindo aquele corpo quente da minha morena colando totalmente no meu.

Paula levou as mãos no meu rosto, passando os dedos pela minha bochecha, me dando um risco de esperança que se acabou assim que ela começou a falar.

- Não me aperte assim... – Respirou fundo. – Eu nutro por você os sentimentos mais bonitos do mundo, eu te amo, te desejo, sinto vontade de fechar os olhos e me embriagar no seu corpo... e se você me apertar assim, vai me fazer arrancar toda sua roupa agora mesmo... mas depois... depois que estiver toda suada, relaxada de tanto goz*r eu vou me sentir mal... pois ai vou lembrar que me deixou, me traiu, para estar desse mesmo jeito na cama de outra pessoa.

Pronto, o dia, que estava começando aparecer, clareando devagar aqueles olhos azuis avermelhados pelas lágrimas, já estava perdido.

Soltei Paula dos meus braços, ela deslizou as mãos pelos meus ombros, pelos meus braços e se virou, caminhando lentamente pro seu quarto.

Me joguei novamente no tatame, voltando a chorar, agora um choro verdadeiramente sofrido, sem dúvidas ou raiva, apenas uma dor que jamais senti um dia igual.