Fanfic: ♠ Talvez. (terminada)

Conversa com Julia

Ver a Paula acendeu em mim um holofote enorme de esperança. Saí daquela hípica me sentindo nas nuvens, literalmente nas nuvens, com direito a pisar e não sentir nada além de um geladinho nos pés.

Cheguei no endereço do apto, era perto daquela hípica, perto do apto da Paula. Era uns 20 minutos da faculdade, mas na boa, quem ta pensando em faculdade agora?!

O apto não era grande coisa, tinha um quarto só, com uma cozinha pequena, uma sala, uma copa e uma sacadinha sem graça.

Estava quase desistindo até olhar a vista, dava para ver o prédio de Paula daqui, não inteirinho, mas a pontinha dele estava lá, dava até para ver o terraço que dava para o quarto da Paulinha. Certo que ela pareceria uma bactéria, mas dava pra ver ela.

- Fechado, fico com ele. – Falei já apertando a mao do imobiliário.

Desci do prédio, vendo a rua, nada demais, uma ruazinha que cruzava a marginal. Tinha uma banquinha de revistas e sorvetes na frente, na esquina uma vídeo locadora, mais em frente pelo que vi tinha uma pizzaria.

Perfeito, sobreviveria aqui tranquilamente.

Entrei no carro, já pegando o celular:

“Encontrei meu cantinho... bem cantinho, acho que todo ele cabe no seu banheiro... mas o melhor de tudo... posso te ver... bem pequenininha, se estiver usando roupas com neon... mas consigo te ver... vou lá pegar minhas coisas na Julia... a gente se fala... morena ;)”

Liguei o carro, já ligando para Julia, era a primeira vez que nos falaríamos desde que a peguei no bar com gabi.

- Micka...- Me atendeu desesperada.

- Oi, to indo na sua casa...

- Agora?

- Chego em 20 minutos, esteja lá.

- Vou estar... que bom...

- Tchau. – E desliguei sentindo meu sangue ferver.

Dirigi repassando tudo que falaria para Julia, na verdade estava escolhendo os palavrões que usaria.

Em pouco mais de vinte minutos cheguei naquele prédio que antes fora até feliz.

Acenei para o porteiro, que sorriu ao me ver. Entrei no elevador subindo até o andar de Julia.

Parei em frente a sua porta. Meu coração estava saindo pela minha boca.

Era estranho estar ali, era esquisito tudo isso que estava acontecendo.

Toquei a campainha, sentindo meu corpo suar gelado.

- Oi... – Abriu a porta sorrindo para mim, segurando em seus braços um buque de flores vermelhas.

- Oi... – Olhei aquelas flores, me enjoando com o cheiro que eu nem senti ainda.

- São para você... – Me entregou aquele buque. – Entra. – Saiu da porta, me deixando entrar.

- Obrigada. – Falei, deixando o buque sobre a mesa. – Vim só pegar uns livros que acabei esquecendo. – Falei já indo para a estante, pegando meus livros.

- Micka...- Julia parou atrás de mim, levando sua mao nas minhas costas. – vamos conversar?!

- Hum... – Virei de frente, dando de cara com olhos amarelos enormes me encarando.- Não tem muito o que ser falado né?!

- Tem sim.. – Me falou, pegando nas minhas mãos, levando até sua boca e beijando-as. – Deixa eu falar com você.

- Deixo ué. – Revirei os olhos, tirando as minhas mãos das de Julia. – Posso sentar? Por que pelo que vi vai demorar. – Me virei, indo até o sofá.

Quando eu queria ser ruim, eu era muito boa.

- O que você viu no bar...

- Não era bem aquilo?! Você estava querendo tirar um pedaço de azeitona da boca dela com a língua???

- Não... – Julia falou já se irritando.

- Entao foi exatamente o que vi.

- Foi... – Me respondeu. – Mas não houve sentimento Micka...

- Ah sim... – Soltei uma gargalhada. – E dai?!

- Olha Micka, eu tava me sentindo meio presa... isso de morar juntas, de casamento.

- Julia... para...- ri de nervoso. – Voce me pediu pra morar com vc, você me pediu em casamento... para com isso.

- Sim... – Ela estava chorando. – Mas me senti presa e poxa somos iguais... somos livres...

- Não, não somos iguais. – Falei brava.

- Somos sim, você traiu... eu trai....me desculpa...

Respirei fundo, isso era verdade, eu trai, ela traiu... mordi meu lábio sentindo meus olhos enxerem de lagrimas.

- Eu não consigo desculpar... quer dizer, eu até te desculpo... você ficou com vontade, se sentiu atraída... foi lá e viveu.

- Sim... mas me arrependo... – Chegou perto de mim, pegando na minha mao. – Voce é a mulher da minha vida, alemãzinha. – Sorriu.

- Julia... – Mordi meu lábio inferior. – Eu estava totalmente errada... na verdade quem estava fazendo um monte de merd* era eu!!!!

- Como assim? – Me perguntou séria.

- Eu me iludi em uma realidade nada a ver... eu queria liberdade, queria tudo que a vida tinha pra me dar... com você eu podia voar que estava tudo bem... mas esqueci uma coisa... esqueci de ouvir o que estava gritando aqui dentro...

- E o que era?!

- Saudades... saudades da minha morena, saudades de ter um colo cheio de amor para deitar a cabeça.... saudades de não precisar falar nada... ela le tudo que meu olhar diz...

- hum... vocês voltaram!?

- Não... ela não me perdoa por eu ter traído ela...

Julia sorriu, apertou meus dedos nos seus.

- Entao volta pra mim!

- Não! – Falei quase em desespero. – eu não quero Ju...

- Micka... eu não vou desistir de você. – Falou apertando minha mao.

- Eu também não vou desistir de mim. – Falei respirando fundo, tirando a mao da mao de Julia e me levantando.

Julia se levantou atrás de mim, apertou meu corpo contra o seu e contra a parede.

- Diz que não sente nada quando faço isso!!!! – Se apertou contra meu corpo, pressionando bastante.

Fechei meus olhos, seria mentira dizer que meu corpo não respondia a sua pegada.

- Sinto... mas é pouco... muito pouco... – Me esquivei do seus braços. – Eu quero sentir aqui. – Coloquei a mao no meu coração. – E eu só sinto arder aqui quando estou olhando nos olhos azuis de outra pessoa. – Mordi os lábios, pegando os livros sobre o sofá. – Tchau Julia...

- Eu não vou desistir Micka... – Falou alto. Fiz que não ouvi e entrei naquele elevador, deixando minhas lágrimas rolarem.

Entrei no carro e parti viagem para o hotel, agora um melhor, patrocinado pelos meus pais.

Me joguei naquela cama macia, olhando para o teto.

Encarar Julia hoje doeu mais do que eu acreditaria doer, não pelo fato dela ter me traído, mas pelo fato de me ver tao igual ela.

Tudo que senti a Paula sentiu, a dor, o nojo, a decepção.

Saber que a Paula teve nojo de mim acabou com meu dia. Entrei no banho, ficando lá quase uma hora, quando sai já de pijama uma sms estava no meu visor.

“ Eai como foi?! Esta tudo bem? Quer que eu vá te ver agora?! P” 

Me joguei na cama com o celular no colo, nem tudo estava perdido. Sorri, bem muleca, já ligando para Paulinha.

- Oiii... – Me atendeu com aquela voz rouquinha toda animada. – Que bom que me ligou, estava curiosa aqui... conversou com a menina?!

- Oiiii, tudo bem, e você ta boa?!- Brinquei, judiando da sua ansiedade.

- Ah... to boa... fala vai. – Implorou, sendo tao bonitinha.

- Conversei com ela sim...- Dei uma pausa, só para ouvir Paula suspirando, nervosa. – Ela pediu desculpas, disse que somos iguais, que ela se sentiu sufocada...

- Aff. – Paula falou.

- Depois disse que sou a mulher da vida dela...

- Ah tá... – Me respondeu brava. – Legal o jeito dela demonstrar....

- Paula... eu te trai, por besteira, era muito imatura... e mesmo assim você é o amor da minha vida.

- Ah tá... então você vai perdoar ela?! – Falou meio irritada.

- Sim, já perdoei ela.

- Ah... – Ficou quieta, quieta não, ficou completamente muda, nem sua respiração eu consegui ouvir.

- Paula?! – Perguntei, receiosa, achando já que paulinha tinha desligado na minha cara.

- Oi... – Pausou. – Entao é isso... você voltou com ela... e agora vai ser feliz...

- Não... – Ri. – Claro que não... eu perdoei mas eu não quero ela... falei para ela que errei com ela também, que fiz muita besteira achando que estava vivendo uma realidade que não era minha...

- Como assim?! – Paula quando queria conseguia se fazer de burra.

- Paula... eu te amo, sempre amei... estar com ela foi um erro...

- hum... – A voz de Paula mudou completamente, como se estivesse animada, mesmo tentando disfarçar.

- Ai ela disse que não iria desistir de mim... – Não poderia deixar de falar isso né?!

- Ah ta... – Soltou uma risadinha. – Coitada dela.

- Coitada é!? – Perguntei, inocente.

- É... – Riu. – Mas e você, como esta?

- Sei lá... já estive melhor... mas to bem. – Sorri.

- O que vai fazer amanha?!! – Me perguntou.

- Vou no Meet, sua ex vai tocar lá... Carol esta morrendo para eu ir com ela... vamos?!

- Vamos... – Me respondeu, me surpreendendo e fazendo minha barriga doer, gelar, queimar. – Te pego ai as 22:00 pode ser?

- Carol vai estar comigo...

- Não tem problemas... mas eu busco você...

- Vou te esperar. – Tentei acalmar meu coração que já estava a mil.

- Vou dormir agora, to quebrada... muito quebrada. – riu. – É foda morar sozinha Micka... é muito silencio... to enlouquecendo.

- Relaxa, logo vc acostuma... dorme bem.

- Beijos loira. – Falou toda doce.

- Eu te amo morena.

- Ah... ama nada. – Riu, desligando o telefone antes que eu xingasse ela.

Joguei o celular para o lado, olhando para o teto.

Amanha era o dia, amanha Paulinha iria enlouquecer, eu a deixaria louca por mim.

Sorri, abraçando o travesseiro e ficando ali, curtindo o vulcão que estava dentro de mim.