Sinopse: Meu intercâmbio (Escócia/Inglaterra)
addslashes(Faz tanto tempo que eu tô aqui (assim mesmo, ‘’faz’’ na possessão e ‘’estou’’ sem ‘’es’’ nem ‘’u’’) e sem escrever há tanto tempo. Olá Europa, eu sou Brasil. Três meses na Escócia, dois meses e meio na Inglaterra, uma semana no meio na Holanda. Quem diria que minha vida seria ser essa.
Seria a vida essa acordar já ligada no celular –e sem poder falar, porque no Brasil ainda é madrugada. Ir dormir no Skype; ficar na frente da câmera de moletom e sem maquiagem- e com mil espinhas e sardas e beijos, chorar cinco minutos para sorrir de vez em quando ‘’mas sabe o que vai acontecer quando eu voltar? ’’, e daí planejar, rindo, com os que a gente ama, voltar à rotina- como se o dia a dia antigo fosse uma realidade longe, quase um sonho.
Estar aqui é definitivamente dar valor ao que se foi quando peguei o avião- e, mais ainda, dar valor a esse mundo que vivencio agora e que igualmente não me pertence. Ruas sem violência, o tal assalto tão temido que consiste em ser roubado sem perceber (facas e armas são deixados aqui para filmes ou gente com grande imaginação). ‘’No Brasil não pode ser tão violento assim, duvido! ’’, disse a mulher Eslováquia que conheci anteontem, com ar de deboche, de umas três frases que eu disse sobre segurança e educação.
Que no nosso país a gente não teme ataque terrorista ou homem bomba, isso é verdade. Na Itália e na Grécia, mesmo com tanto desenvolvimento, há corrupção, é verdade. Mas a gente nem desenvolvimento tem, nem saúde tem, nem educação tem... que qualidade¿ Mesmo aqui, eu ainda saio na rua olhando para trás, para frente e para os lados. Lástimas do hábito de viver num país que, mesmo numa zona sul burguesa numa área central, acontece assalto. No vidro do meu prédio já respingou sangue. Saudade da família, da gente, de pessoas táteis. Sem saudades do ‘’jeitinho brasileiro’’, do calor humano machista de não poder sair na rua sem me sentir uma carne em vitrine no açougue e de políticos que recebem muitos e muitos salários mínimos, mas não dão o mínimo para quem rala para receber um. Em dois meses estou de volta ao Brasil; época de olimpíadas, fim de férias e governo Temer; honestamente, não sei que sensação sentir.)
Autor(a): brisadebar