Sinopse: Felicidade Clandestina
Eu era levemente acima do peso considerado corretamente proporcional à minha altura, que diga-se de passagem, não é muita, mas entre tantas coisas, sempre tive o que as crianças atualmente não tem, uma infância repleta de boas lembranças e experiências significativas e concretas, nada tecnológico e vários amigos reais e próximos a mim. Sendo que na época não existiam Smartphones e internet veio surgir muito depois, isso mesmo com restrições (quando se utilizava a internet discada, não se podia usar o telefone).
Na educação infantil, sempre me dei bem com todos os colegas, nunca cheguei a sofrer "bullying". No entanto, em torno de uns quatro anos depois, reencontrei uma antiga colega de aula, daquela época, ela era baixa, um pouco mais alta que eu, de cabelos louros e lisos, magra e de olhos azuis, e sua mãe me convidou para ir qualquer dia na casa dela para brincar e minha ex-colega, parecia contente com a ideia, então naquele mesmo fim de semana meus pais me levaram até lá.
Eu estava super contente, ansiosa por aquele momento, uma felicidade com toda certeza clandestina a mim até então. Ao chegar lá, minha ex-colega estava acompanhada de sua prima, uma menina não muito simpática, mas talvez um ano mais velha que eu, ou até meses. O quarto da minha amiga era lindo, cheio de brinquedos bonitos e coloridos e caros e eu em estado de euforia por estar lá, matando a saudades de uma antiga amiga, demorei alguns minutos para perceber que ambas estavam me excluindo da brincadeira, ao irem para o pátio do fundo brincar, me deixando sozinha no quarto encantada com tantos estímulos para me divertir.
Quando de fato percebi o que estava acontecendo, a tal "felicidade clandestina" deu espaço a um momento de choro, sentada na porta da cozinha, que dava direto para o pátio. Ao me vez chorando a mãe daquela que já não tinha mais razão de chamar de amiga, levou-me até o quarto dela e disse-me para escolher o brinquedo que eu mais tivesse gostado, ela me daria, sem que sua filha soubesse, para que a mesma aprendesse a nunca mais tratar mal as pessoas. Eu estava tão triste naquele momento e mesmo achando que a menina merecia mesmo uma lição, não tive coragem de escolher, então a mulher me alcançou uma linda carruagem de brinquedo, rosa com branco, com detalhes em dourado, acompanhada de um lindo cavalo branco e eu peguei, mesmo achando errado, apenas por insistência dela.
Depois de eu ter pego, imediatamente ela ligou para os meus pais, pois eu pedi que o fizesse, não me sentia mais a vontade naquele lugar, não era mais feliz ali.
Na hora de ir embora, eu já estava esperando sentada em um sofá próximo a porta, olhando pela fresta da janela, ansiosa que o carro dos meus pais estacionasse em frente a casa, ao ouvir o frear dos pneus me senti liberta daquele momento triste, como se atrás daquela porta eu fosse abraçar a felicidade que já conhecia. Quando a mãe da menina veio abrir a porta, ela e sua prima vieram, nitidamente obrigadas a parar com a diversão para se despedirem de mim e minha não mais ex- colega, mas ex-amiga, ao ver sua tão preciosa carruagem e seu cavalo em minhas mãos disse em meu ouvido algo como "Isso fica aqui." e eu já não mais interessada em nada que viesse daquele lugar e/ou me gerasse qualquer tipo de lembrança daquele dia, em um ato quase que submisso, entreguei-a seu brinquedo e corri porta a fora para os braços de minha mãe.
Autor(a): indythomasi