Sinopse: RELEITURA DE FELICIDADE CLANDESTINA- CLARICE LISPECTOR
FELICIDADE SONHADA
Ela era gorda, baixa e sardenta, os cabelos encaracolados da cor do sol do mês de agosto. Tinha o busto grande, e a cintura fina enquanto nós da mesma idade éramos magras e achatadas. E para completar Sara tinha o que qualquer criança da nossa época sonhava: um pai abastado e dona de uma livraria.
Vivia pelos cantos, excluída tentando fazer amizade com alguém, era alvo de chacotas. As crianças às vezes não agiam por maldade. Poucas crianças especiais conviviam nas escolas com as outras. Sara se sobressaía pela sua inteligência. Na esperança de ser aceita sempre dava livrinhos nos aniversario e natais para conquistar a amizade das meninas. E foi assim que ela descobriu meu ponto fraco: os livros. Todos os dias ela me prometia emprestar um livro se eu brincasse um pouco com ela, ou passeasse no parque com ela ou se saía com ela e fingia que éramos amigas. Eu fazia qualquer coisa por um livro, porque sabia que meus pais nunca poderiam me dar. Sempre depois de ficar horas com a aquela menina estranha eu ia pra casa feliz com um livro na mão.
No início eu era como os outros tinha pena dela, tinha tantos mais recursos e por ser tão diferente e insistia em continuar numa escola pequena, numa cidadezinha pequena da Bahia onde a maior parte de nós alunos éramos limitados financeiramente. E não estávamos acostumados a conviver com aquela menina com jeito diferente das demais.
Aos poucos fui percebendo que não contava mais as horas para pegar meu livro e ir embora feliz, comecei a me divertir com a companhia da minha amiga solitária. E ficava cada dia mais admirada como ela conseguia ser bondosa, sofrendo tanta discriminação ao seu redor. E não ficar ressentida com as piadinhas dos outros colegas. Já não me importava mais com as piadinhas do restante dos alunos. E passei aos poucos a admirá-la pela sua força de seguir em frente.
Com o tempo e a ajuda de Sara consegui um emprego de meio período consegui uma vaga de emprego na livraria do seu pai. Que para mim era um prazer, pois além de ficar todas as tardes em meios aos livros, sempre tinha um lanche da tarde. Um luxo comparado as nossas refeições tão regradas e escassas. A livraria alimentava cada vez mais meus sonhos de um dia ter um emprego decente e uma mesa farta.
Autor(a): simonepereira