Sinopse: UMA FELICIDADE CLANDESTINA
FANFIC: UMA FELICIDADE CLANDESTINA
TEMA: FELICIDADE CLANDESTINA
Rosana, minha filha, era gorda, baixinha, e com sardas pelo rosto, seu cabelo era crespos, levemente arruivado. Sempre soube que ela sentia-se diferente das outras meninas da sua idade, por ser uma gordinha entre crianças magras. Mas para mim ela tinha uma beleza própria e única que a fazia especial. Eu e meu esposo, que é dono de uma livraria, sempre tivemos cuidado de satisfazer todos os seus caprichos, queríamos que ela se sentisse a criança mais completa e feliz e que tivesse uma infância mágica com os livros que estavam à sua inteira disposição.
Mas sempre percebemos que ela pouco se importava, já que sempre a ensinamos que quando se presenteia uma pessoa devemos dar a ela presentes que gostaríamos de receber, pois quando Rosana era convidada para comemorações de aniversários de suas amigas, nunca escolhia livros para presentear, sempre presenteava suas colegas com uns cartões postais que tínhamos na loja com imagens de Recife, no fundo do cartão sempre escrevia palavras ou frases curtas sem um mínimo de manifestação de afeto, mas achávamos que ela era tímida e não sabia se expressar.
Pensando nessa timidez ficava preocupada que ela não conseguir se enturmar com as demais crianças da escola, por isso sempre comprávamos doces e pedia para ela oferecer a suas colegas, além dos nossos livros. Sabíamos que as crianças sonhavam com aqueles livros que tínhamos em nossas estantes, então permitir que Rosana emprestasse aquelas obras, muitas vezes inéditas, para suas colegas.
Foi quando que entre as crianças começou uma febre por uma obra As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Compramos logo a primeira edição e a presenteamos. Cheguei em casa entusiasmada com o embrulho nas mãos, era um livro incrível grosso e o sonho de qualquer criança, mas quando o entreguei ela pegou o pacote, abrir e depois colocou na estante e nunca mais o tocou.
Até que um dia percebi que em vários períodos nossa campainha tocava, e lá ia Rosana correndo abrir a porta, falava poucas palavras e fechava a porta. Às vezes ela ficava horas na janela esperando aquela visita que era constante. Vários dias se passaram e as visitas se intensificaram cada dia mais, nem sei quando tempo se passou e essa cena se repetia. Morávamos em uma casa grande diferente das suas demais colegas que morava em um sobrado.
Foi um dia quando a campainha tocou, Rosana correu como de costume para abrir a receber aquela visita, mas desta vez não me negligenciei e fui até a porta me certificar do que se tratava já que estava preocupada com aquelas visitas. Cheguei até a porta e estava lá Rosana em frente a porta, foi quando a vi. Era uma menina magrinha de cabelos louros leves ao vento e uma beleza encantadora, mas com uma aparência cansada por ter caminhado por tanto tempo pelas ruas de Recife.
Nesse momento percebi que havia algo de errado, perguntei a aquelas crianças o que estava acontecendo, houve uma confusão e se silenciaram por um tempo, depois palavras elucidativas, tudo aquilo ficava cada vez mais estranho. Foi quando comecei a entender o que estava acontecendo. Naquele momento foi um baque para mim, como uma filha que criamos com tanto amor poderia ser tão cruel e torturar uma colega mentindo por tanto tempo que ela havia emprestado o livro para outra criança e assim negando emprestar um livro que pouca importância tinha dado e que desde que a presenteamos nunca o tocou e nunca saiu da estante.
Depois de alguns minutos de descobrir a perversidade da minha filha me refiz e olhei firme e calmo para Rosana e disse: - você vai emprestar o livro agora mesmo. Olhei para aquela garotinha e disse: -E você fica com o livro por quanto tempo quiser. - Entendem? Neste momento vi a alegria no olhar daquela criança em ter aquele tão sonhado livro por o tempo que ela quisesse. É tudo que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que seguiu? Por muitos dias quando levava Rosana a escola encontrava com aquela garotinha com o livro contra o peito segurando forte, ao ver aquela cena meu coração se enchia de alegria, percebi que não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante.
Depois desse acontecimento comecei a ter outro posicionamento diante da minha filha. Passei a conversar mais com ela, saber das suas angústias e depois de um tempo já éramos excelentes amigas, e assim conheci mais minha filha e sempre a aconselhava. Foi quando percebi a mudança extrema de sua personalidade. Rosana passou a convidar suas amigas para nossa casa e ficavam horas e horas lendo e discutindo aquelas obras. Assim a paz e felicidade tomaram conta das nossas vidas.
Autor(a): kesia