Sinopse: Felicidade Escondida
Ela era magra, alta, tinha uma pele perfeita, seus cabelos eram extremamente macios, de uma cor ruiva que despertava em mim diversos sentimentos. Tinha um corpo simétrico, bonito aos olhos. Como se não bastasse, era dona de uma inteligência ímpar, que deixava qualquer um boquiaberto. Mas havia um problema. Sua autoestima era baixa. Ela não acreditava em seu potencial.
De sua vida, pouco aproveitava. E seus amigos, menos ainda. Sabíamos da sua capacidade, de sua inteligência e de seus múltiplos talentos. Ela pintava muito bem, mas deixava suas obras escondidas por ter receio às críticas. Quem convivia com ela perdia por não poder acessar aqueles trabalhos incríveis.
Ela pintava paisagens, pessoas, corpos e animais, de uma maneira tão sutil que parecia que não fazia esforço nenhum. Somente eu pude ver, uma vez, e por um curto espaço de tempo, o acervo que tinha escondido dentro de seu armário. Ela mostrou-me com uma vergonha imensa, como se retratasse algo proibido.
Até que um dia, após eu ver suas obras, simplesmente parou de falar comigo. Questionei-a várias vezes sobre a motivação da sua tão repentina mudança de comportamento. Ela não atendia minhas ligações, não respondia meus e-mails e nem chegava a ouvir minhas mensagens de voz. Nós que conversávamos e nos víamos diariamente, tornamo-nos estranhos um ao outro.
No dia seguinte, fui a sua casa. Ela abriu a porta e me torturou com palavras. Disse que eu tinha que sumir de sua vida. Que estava cansada de mim a rodeando. Disse até que minhas intenções com ela eram más. Logo eu, que sempre quis o seu bem.
Por um momento, só ouvi o que ela me disse de maneira tão estúpida e me calei. No outro dia, sua mãe bate à porta de minha casa, e com um pouco de receio, pede para entrar e conversar comigo.
Naquele momento, fiquei confuso. Será que havia acontecido alguma coisa com a minha querida amiga? O que eu fiz de tão errado para ela, a fim de me tratar daquele jeito?
Enfim, em meio a tantos questionamentos, calei-me. Deixei que sua mãe falasse. E então recebi a notícia que mais temia e que até desconfiava. Ela tinha depressão. Uma doença tão profunda que fez com que ela parasse de gostar de si mesmo, da vida e de todos ao seu redor.
Enquanto seu amigo, o que eu poderia fazer? Busquei informações, sintomas e causas desta doença. Percebi que há muito tempo ela já apresentava indícios e eu, como amigo, nunca enxerguei, nunca notei e nunca pude confortá-la nos momentos difíceis que passava. Senti-me impotente. Mesmo assim, disse a ela que estava ao seu lado. E estive, em todos os momentos. Ajudei-a a superar seus medos e suas angústias.
Aquela crise passou, continuamos com uma bela amizade. Ela sabe que sempre pode contar comigo e eu sei que ela sente-se agradecida por nossa relação.
Hoje andamos lado a lado. Ela conseguiu superar sua baixa autoestima, sua vergonha e falta de confiança. Eu a apoiei em todos os momentos. Nesse exato momento em que escrevo, estou sentado em uma grande galeria, onde suas obras estão sendo expostas. A felicidade nos olhos dela é quase palpável. Sinto que meu trabalho foi feito.
Ela não é mais uma linda menina com medo: ela é uma mulher forte, dona de si, que passou por maus bocados, e que está cada dia melhor.
Autor(a): carolineandreatta