Fanfics Brasil - Sinopse de

Sinopse: Felicidade Clandestina



Reescrito por Lenita e Marieli:
Seis e trinta de uma manhã inusitada. O motorista anuncia: “Porto Alegre!”
A ficha cai. O que havia sonhado e planejado há anos está acontecendo. Enfim, Porto Alegre!
Aos poucos o barulho inicia-se, sacos plásticos sendo amarrados, sacolas arrastadas e, de forma vagarosa, a tripulação organiza-se para o desembarque.
Juntei a bagagem, que não era muita, contei o parco dinheiro para o táxi – não conhecia nada, então a necessidade de ser conduzido por um veículo que me deixaria na casa da tia Ana, irmã de minha mãe, e que se oferecera, neste primeiro momento, para alojar-me.
Olhei ao redor e segui a pequena multidão que devagarinho ia acordando e caminhando rumo ao seu destino. Como não conhecia nada, observei e acompanhei algumas pessoas que eu supunha, pegariam um táxi. Acertei! Logo estava num carro rumo à Rua Fernando Machado, no centro da capital. Pelas ruas muitas pessoas iam apressadas, com certeza, quase atrasadas para o trabalho. Então, veio à mente um trecho da música do cantor Belchior: “Eu sou apenas um rapaz, latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes, e vindo do interior...”
Sim, sem nenhum dinheiro no banco, mas com a mente cheia de esperanças...afinal, havia terminado o Ensino Médio em minha cidade e conseguido uma vaga na universidade graças ao Enem. Um pouco de sorte eu tinha!
Chegamos. Paguei a corrida e olhei ao redor. Uma rua estreita, mas charmosa. Um frio na barriga fez-me lembrar de onde eu viera, e tive medo...procurei o número do apartamento, guardado dentro do bolso da jaqueta. 301. Haveria de começar bem!
Tia Ana esperava-me com certa angústia, afinal fazia mais de dez anos que não nos víamos. Primeiro momento não me reconheceu. Olhou-me longamente e, finalmente, encontrou em mim características de minha mãe: “Teus olhos são espertos, iguais aos dela!” e abraçou-me com o mesmo carinho que abraçaria sua querida e distante irmã.
Como vivia sozinha, havia um quarto só para mim naquele pequeno, mas belo e cuidado apartamento.
Primeiros dias foram difíceis, a adaptação foi complicada, muitas vezes não percebi a minha parada de ônibus e rodei vários quilômetros dentro de um coletivo abarrotado de pessoas absortas em seus mais diferentes pensamentos e que por isso, tornavam-se ilhas, isoladas. Sentia-me só naquela imensidão de concreto, barulho e gente. Demorei para aprender o caminho, a parada de ônibus correta. Mas aprendi!
Como o curso que frequentava era à noite, precisei ir em busca de trabalho para poder manter-me. Então, muitos currículos espalhei pelos mais diversos locais da cidade. Demorou. Muito. Estava impaciente quando recebi mensagens pelo “whatsapp” para que comparecesse àquela loja, pois estavam precisando de funcionário com minhas características.
Tive sorte. A dona do estabelecimento – uma senhora muito bem vestida e simpática - atendeu-me e explicou que precisavam com urgência de alguém que entendesse de informática e, como estava ingressando na faculdade de Ciências da Computação, fechava direitinho com o que seu estabelecimento comercial necessitava. Estava contratado.
O tempo foi passando e eu ambientando-me a minha nova realidade.
Minha principal função no trabalho era a criação de um site para divulgar os produtos da loja onde eu trabalhava, o que para mim era muito fácil, visto que era o que eu mais sabia fazer. Como geralmente sobrava tempo, usava-o para estudar e pesquisar novas fórmulas para atrair clientes. Foi numa dessas pesquisas que pude ter acesso ao perfil da família da minha empregadora. Família muito rica e poderosa, chamou-me a atenção, através de uma foto postada, o olhar triste de uma das filhas desta família. “Como pode, com tanto poder e dinheiro, ser tão triste?”
Não tardou para que esta moça aparecesse na loja em que eu trabalhava. Ela não me viu, nem poderia, pois onde trabalho é um local reservado, poucas pessoas têm acesso. Mas eu a vi...confesso que nunca tinha visto alguém tão especial! Algo foi tomando conta de mim e eu não sei como, mas quando percebi estava na loja, longe do meu local de trabalho, mais precisamente na frente dela!!!
Quando me dei conta estava olhando para a moça, como se ela fosse alguém de outro planeta; sem nenhum “desconfiômetro” – como se fosse possível naquele momento – apresentei-me. E ela? Nem olhou direito para mim, algo como se eu não existisse. Mas para ela eu não existia mesmo, triste constatação!
Cabisbaixo e com muita vergonha dei-me conta da saia justa em que me metera. Afinal, uma moça do status e da beleza daquela jovem seria capaz de perceber um desajeitado, tímido, magrelo, cheio de espinhas na cara, aparelho nos dentes, tênis comum e calça de liquidação?!
Claro que não! E foi o que aconteceu. Ela disse um “Oi” tão sem graça que eu baixei os olhos e voltei para o meu canto. Longe de todos, espiando-a pelo vidro fumê que nos separava.
Só em casa dei-me conta daquela loucura. E não parei mais de pensar...de pensar nela! Virou obsessão – mas tudo dentro da normalidade para um jovem rapaz que se apaixonava pela primeira vez.
Quase não dormia, e se dormia, sonhava com ela. Amanhecia com tamanhas olheiras que me deixavam com péssima aparência. Tia Ana começou a se preocupar comigo, pois estava mais magro que o normal e dizia que eu ia desaparecer – acho que era tudo o que eu mais queria: desaparecer e reaparecer em um lugar onde eu fosse totalmente diferente – rico, bonito e bom de papo – e, um detalhe, em um lugar onde eu pudesse encontrar e ser percebido por essa garota que não sabe, nem quer saber que eu existo. Então veio o choro, e com ele a lembrança de um poema escrito por Roseana Murray, “Receita contra dor de amor”:

Chore um mar inteiro
Com todos os seus barcos a vela
Chore o céu e suas estrelas
Os seus mistérios o seu silêncio
Chore o equilibrista caminhando
Sobre a face de um poema
Chore o sol e a lua
A chuva e o vento

Para que uma nova semente
Entre pela janela adentro

Sobrevivi. E melhor, montei um plano, um plano infalível para a garota dos olhos tristes perceber que eu existia. Eu? Não era bem eu... criaria um perfil falso e pediria a sua amizade.
Lembrei-me de Carlos Queiroz Telles e o melhor livro que li na adolescência: “Chegou o grande Dia”e parti para a batalha!
E resolvi viver para isso. Bem, não só para isso, afinal eu precisava encarar a faculdade, as provas, o trabalho; necessitava, paralelamente à minha desesperada paixão, manter-me lúcido, ou quase, pois tinha uma mãe lá longe, que contava comigo e minha tia Ana, que me tinha como a um filho. Não podia decepcionar!
Preparei-me para ir ao trabalho e, procurando moedas para a passagem, descobri um objeto inflexível dentro de um dos bolsos da minha surrada jaqueta. Surpresa! Aquele objeto era a mais incrível lembrança que eu poderia ter dela: um batom! Mas como ele foi parar ali? Pensei e descobri: eu ficara tão paralisado com a presença daquela garota que, sem perceber, recolhi do chão o batom que ela, sem perceber, havia deixado cair. Pensando melhor, acho que de tão assustado que fiquei, devo ter esbarrado nela e foi nesse instante que ela perder o batom e eu orecolhi. Mas como não lembrava?? Coisas da paixão!!
Guardei-o embaixo do travesseiro. Estava atrasado. Saí.
No trabalho não pensava em outra coisa, só queria estar em casa e poder tocar naquele pequeno objeto, talvez fosse o contato mais próximo que eu conseguiria dela. Olhava o celular, as horas se arrastavam e eu tentava me concentrar...nada. Então, mentalmente, tentei elaborar um perfil que fosse simpatizar com a garota sonhada. Pesquisei sua vida e na pesquisa percebi que ela gostava de frequentar alguns bares na Cidade baixa, local boêmio da capital e foi assim que bolei meu primeiro plano: Caso ela aceite ser minha amiga, marcarei um encontro num desses bares noturnos. Enfim eram 18h, hora de ir para casa e por sorte, as aulas desta noite haviam sido suspensas para protestar contra o corte de verbas nas universidades públicas. Então, rumei para o encontro mais feliz da minha vida. Seria somente eu e aquele objeto que havia pertencido à pessoa mais encantadora que meus olhos já avistaram!
Como descrever a felicidade? Felicidade, naquele momento era abrir a porta do meu quarto, bem devagar, ir caminhando lentamente até a cama, sentar-me nela e, com uma das mãos, devagarinho ir tateando o travesseiro e sentir a presença daquele pedaço de mundo que teria pertencido à minha primeira e arrasadora paixão. Neste instante o mundo parava, era só eu e ela!
Inúmeras horas vivi sob esse torpor, imaginava muitas cenas, ela usando aquele batom; ela guardando-o no bolso de alguma jaqueta, bem perto do coração; e agora ele estava comigo e, clandestinamente, eu era o jovem mais feliz deste planeta. Cheguei até a prová-lo, ops! Não poderia gastar nem um pouquinho, precisava dele inteiro, para poder preservar aquela lembrança que alimentava meus dias. E como fui feliz!!
Surpresa minha foi ela ter aceitado ser minha amiga no Facebook. Plano perfeito, ela havia gostado de mim – também com o perfil criado e as fotos postadas (de um amigo meu, com permissão, é claro) era impossível não aceitar – falsa modéstia, mas sou bom nisso – criar personagens fictícias, perfeitas – devia ser escritor!
Mas vamos lá. Depois de um mês de conversas e troca de fotos, ela aceitou encontrar-se comigo(ou aquele que eu havia criado). Marcamos para o próximo sábado, à noite, no bar Parangolé, ponto de encontro para quem gosta de boa música, característica que eu havia percebido nela. Avisei-a que eu estaria com uma camiseta dos “Guns N’Roses”, banda de rock que ela adorava.
Chegou o dia. Explicar o pavor que senti seria como tentar chegar à lua e não levitar. Impossível!
O tempo arrastava-se como um dia de domingo no interior, quando olhava a hora, recém havia passado dez minutos e assim foi todo o dia. Na ânsia do encontro, esqueci que não possuía nenhuma camiseta da banda de rock que ela era fã. Desespero!!!!
Saí pelo centro de Porto Alegre e nada. Meu Deus, o que fazer?? Foi então que um rapaz com estatura e semelhança física comigo passou por mim e vestia uma camiseta da banda tão falada! Encarei-o e pedi que me indicasse onde havia comprado. Simpaticamente levou-me à loja e consegui comprar a última, com um número muito maior que o meu, mas não houve jeito, era aquela ou adeus encontro. Comprei.
Chegou a hora. Tomei-me de coragem. Chamei um Uber. Fui.
O bar estava muito movimentado, tocava uma banda desconhecida, escolhi um lugar afastado do som e um pouco mais escuro, ela teria que procurar pela camiseta e não pelas características físicas, afinal, não era eu naquelas fotos do perfil!
Para dar sorte, trouxe o batom, e segurando com força, quase o destruí. Acalmei-me.
As horas passavam. Nada. Não desgrudei os olhos da porta. Outra música no ar. Nada da minha garota (minha?).
De repente alguém bate levemente em meu ombro, era o amigo que havia cedido as fotos para o meu perfil. Desespero! Mas o que ele fazia ali? Não deu tempo de explicar. Ela chegou, olhou ao redor para me procurar. Meu coração batia mais que bateria de escola de samba em noite de desfile. E achou. Digo, achou o meu amigo que por acaso vestia a mesma camiseta que a minha, o que fui perceber só depois que estava saindo do bar, após ter perdido a maior paixão de minha vida!
Por sorte, ainda guardo o batom – razão da minha existência por alguns meses e, ao remexer nos bolsos da minha jaqueta, um pedacinho de papel no qual eu havia rascunhado a última estrofe do poema de Roseana Murray:

“Para que uma nova semente
Entre pela janela adentro”




Autor(a): lenita_unopar
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