Sinopse: Felicidade Oculta por trás do egoísmo
Ela era totalmente estranha, pouco baixa, nariz grande e de cabelos excessivamente crespos e bem enredados. Na boca, o aparelho, na pele, as marcas de espinha declarando a adolescência. Era motivo de chacota entre seus colegas, pois possuía gostos não muito peculiares para sua idade. Tinha um busto enorme e como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa com papéis para aumenta-los mais ainda. Mas possuía o que qualquer adolescente de sua idade não possuía, o amor pelas histórias e contos. Mas pouco conseguia aproveitar, já que sua escola não havia biblioteca. Sonhava em ser escritora ou ainda ter um pai dono de livraria.
Morava em Cerrito e seu encanto era mandar cartões-postais para todos da sua rua e familiares.
Caprichava na letra.. Escrevia palavras doces, com frases lindas, mas que não passava de literatura.
Já que possuía um talento maior ainda para o egoísmo. Ela toda era pura vingança,
chupando balas com barulho e não dividia com ninguém. Como essa menina devia nos odiar, nós que
éramos bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres.
Tinha o desejo de poder ajuda-la. Na minha ânsia de poder descobrir o que a fazia ser outra pessoa na frente dos outros
eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-
lhe emprestados os livros que ela não lia e ver se assim conseguia desvendar o que estava oculto no coração dela.
Ate que certo dia Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o me
Emprestaria um livro.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu
não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me
traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava
num apartamento como eu,e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem
para meus olhos, com ar misterioso, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que
eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Triste, saí devagar, mas em
breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar
pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas da Felicidade.
Guiava-me a promessa do livro, pela promessa de quebrar o gelo que existia no coração dela..
Os dias passaram e outros tb.. até que um dia, lá estava eu com um sorriso e o coração batendo forte na esperança de ouvir que me emprestaria o livro e conquistaria sua amizade.
Mas ela não estava aberta a novas amizades.. ela se escondia no seu amor aos livros, como se fosse uma armadura ou seu único amigo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo
Indefinido..
Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer.
Às vezes ela dizia: as vezes parecia que ela percebia meu esforço de ser sua amiga.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde
e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Pediu explicações
a nós duas. Houve uma confusão bem confusa, eu dizia que queria um livro da Clarice Lispector emprestado, enquanto ela dizia que esse livro nem conhecia.
Foi então que sua mãe conheceu o lado egoísta de sua filha.
Foi então que, finalmente se
refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora
mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Mas eu queria mais que isso, mas não conseguia me expressar. Queria poder ler o livro com ela e viajar na historia com a amizade dela.
Entendem? Valia mais do que me dar o livro!
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o
livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando
como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro com
as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar
em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração
pensativo.
Chegando em casa, comecei a ler. Queria encontrar no livro uma maneira de falar que queria ser sua amiga. Então que percebi que se eu precisava chama-la para ler o livro comigo.. Foi assim que viajamos em um mundo nunca visto antes, de aventuras, amor, esperança e conhecimento de uma felicidade oculta que estava por trás de todo o egoismo.
Autor(a): cristiane_oliveira