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Sinopse: Felicidade Clandestina



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O conto escolhido para análise é “Felicidade Clandestina” de Clarice Lispector, renomada autora do modernismo brasileiro. Apesar de ter nascido na Ucrânia, a autora cresce e se torna uma célebre escritora no Brasil. Em 1943 tem seu primeiro romance publicado “Perto do coração selvagem”, livro que escrevera aos dezenove anos de idade. Além de romancista, foi contista, cronista e atuou como jornalista, escrevendo para coluna de diferentes jornais. Reconhecida internacionalmente, Clarice Lispector é um marco para a literatura brasileira. Seu estilo introspectivo é único e marcante. Entre os temas mais recorrentes em seus textos estão a profusão de imagens estranhas, as reflexões metalinguísticas e o teor autobiográfico em muitas narrativas.
“Felicidade Clandestina”, conto que dá nome ao livro publicado em 1971, conta a história de uma menina apaixonada por livros que sofre nas mãos de sua colega de escola. O motivo do sofrimento e humilhações que a narradora-personagem passa é o empréstimo do livro “As Reinações de Narizinho” de Monteiro Lobato. Seu algoz passa boa parte da história a enganando e, assim, prolatando o referido empréstimo por puro prazer de ver sua “amiga” sofrer. Trata-se de uma obra autobiográfica, onde a autora revela momentos de sua infância em Recife, cidade onde se instalou e cresceu no Brasil.
A narrativa se estrutura em torno da oposição das duas personagens principais, a narradora, e a colega, filha do dono da livraria. Essa oposição já é apresentada desde o início do conto, já que ele se inicia com as características físicas dessa personagem: “Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme,..”, já a narradora se descreve ela e suas amigas como “enquanto nós todas ainda éramos achatadas.(...) bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres.” E, mais a frente, se intitula como a “menina loura”.
Assim, no nível fundamental destacam-se claramente as ideias contrárias de bem e mau. A filha do dono da livraria personifica a ideia da maldade, da malícia e da crueldade. Por outro lado, a menina loura, amante de livros e da leitura, traz a ideia da bondade, da inocência e da paciência.
Ambas parecem estar em busca da felicidade – tema principal da obra que aparece já em seu título, porém a experimentam por caminhos distintos. Essa prefere ter uma ideia de felicidade a partir do sofrimento alheio, se alimentando da inveja e ódio que sentia pelas outras meninas. Já aquela busca sua felicidade por meio da inocência, paciência, humildade e da realização de desejos nada ambiciosos.
A história se desenvolve, como apresentado anteriormente, com as tentativas fracassadas da narradora em buscar o livro prometido (As Reinações de Narizinho) pela menina ruiva, pois como em uma “tortura chinesa”, a menina má sempre apresenta alguma desculpa para não ceder o livro à sua colega. Fazendo desse seu objeto de tortura e alimento constante à sua felicidade..
A narradora descreve sua angústia cotidiana, entretanto sempre acompanhada de uma esperança constante na busca pelo livro, pois não se cansa de tentar apanhá-lo, mesmo que todas as tentativas se mostrem frustradas. Sua perseverança é diretamente proporcional à crueldade de seu algoz. E nessa análise em nível narrativo, torna-se claro, o aumento gradativo da maldade demonstrada pela filha do livreiro em oposição ao aumento da humilde persistência da menina que amava ler. Criando, destarte, um ethos com o qual o leitor passa a ter profunda intimidade e compaixão. As escolhas linguísticas da autora se mostram focadas no enredo e, nesta conversa próxima ao leitor, abrindo mão de detalhes como nomes das personagens e lugares, à exceção da cidade de Recife, em uma construção literária onde é percebida a debreagem enunciativa, focada nas impressões do ator narrativo.
O título sugere que a felicidade é clandestina, o que remete a ideia de algo oculto, secreto e ilegal e é, exatamente, o que a autora nos faz pensar sobre as atitudes de ambas as personagens ao se depararem em momentos distintos e, a suas maneiras, com esse sentimento.
A princípio a felicidade está de posse da dona dos livros, que a usufrui de modo sui generis, ao exercer sua maldade sobre a narradora. Assim, ao ser descoberta, essa felicidade deixa de existir para a menina má, já que sua mãe, horrorizada ao saber das atitudes cruéis de sua filha põe fim às aflições da menina loura, emprestando-lhe, finalmente, o livro.
Nesse momento, há uma guinada na história e a tal felicidade passa, como que por milagre, ou mais adequadamente, por meio de uma epifania, ou seja, de maneira mística e inexplicável, à menina que fora, até aquele momento, humilhada. E, então, ela é tomada por um sentimento tão singular e inexplicável que a narradora age como se sonhasse. Não sabendo lidar com tão grande alegria, considerando-se, ora incapaz, ora não merecedora dessa, já que demonstra medo e temor em usufruí-la.
Assim, como a garota ruiva, a narradora goza sua felicidade de maneira secreta e escondida. Recusa-se a revelá-la a si própria tamanha resignação que sente diante a infelicidade.
O conto se encerra de maneira surpreendente com a declaração da narradora que ter o objeto de desejo em mão, o livro tão sonhado, criava em si tamanho êxtase que declara “Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.”. Subvertendo nesse ponto, ao nível discursivo, todo o sentido do texto, uma vez que agora ideias como paixão e sensualidade arrematam a trama. Essas são ratificadas pelos trechos: “Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.”, “Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.” e “A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia.”

Autor(a): leo_francisco_
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