Sinopse: (In)felicidade Clandestina
(IN)FELICIDADE CLANDESTINA
Camila era uma menina diferente das demais. Enquanto nós, ainda na mesma idade, tínhamos desenvolvido corpo de moça, Camila ainda preservava um corpo de criança e, pior, criança magricela. Contudo, ainda que fosse passível de exclusão, n[os queríamos a amizade porque o pai era dono de uma doceria e, como boas crianças amávamos doces.
Em festas de aniversário ou quaisquer outras datas comemorativas, nós esperávamos que Camila nos presenteasse com alguma das muitas guloseimas que tinham na loja do pai. Como filha, ela com certeza teria esse direito, afinal de contas, por mais que ela tivesse uma beleza em pequena proporção, talvez o pai a amasse, no fundo ela era amável.
Após um tempo convivendo com ela, talvez ela tenha percebido que queríamos a amizade dela mais por interesse, porém isso não me importava muito, ela, de fato, já não me servia, não aproveitava da vantagem que tinha e, ainda que aproveitasse, agora já não me seria vantajoso. Contudo, embora feia, Camila mostrou-se muito esperta. Vendo que não teria nossa amizade, resolveu vingar-se com aquilo que sempre queríamos dela: passou a pegar as balas da loja do pai, a fim de nos fazer inveja (e o pior é que adiantou).
Agora, diariamente, sobretudo na escola, a menina levava as melhores guloseimas que tinha na loja do pai. Camila mostrou-se uma verdadeira vilã em nossas vidas. Não possuía beleza, mas isso realmente importava? Ela tinha aquilo que minhas amigas e eu sempre quisemos dela, mas nunca conseguimos. Pode parecer estranho a fissura pelas guloseimas e doces, só que, de fato, as guloseimas pareciam gostosas e eu tinha certeza que eram.
Não bastassem as invejas que ela nos fazia diariamente, em um dado dia, onde teríamos uma comemoração na escola e Camila levou uma torta de morango que mais parecia um pedaço do paraíso, de tão linda. Naquele dia eu vi que deveria ter tratado ela com amor desde que a conheci. Meu interesse no que ela tinha e não no que ela era acabou me privando de ter momentos bons (e gostosos) com Camila. Naquele dia, minhas amigas e eu fomos as únicas que não provamos o bolo do paraíso, todos os demais alunos provaram, ao menos uma pequena fatia. Camila tornou-se aquilo que éramos e isso serviu para aprendermos a não ser interesseiras.
Autor(a): drigo