Fanfics Brasil - Sinopse de

Sinopse: Felicidade estrangeira



Nunca consegui entender exatamente o porquê de eu amar tanto ouvir músicas em Inglês. Talvez seja por conta da sonoridade, ou do ministério de não saber exatamente o que significa, poder me emocionar com uma melodia sem saber se está falando mal da minha mãe ou não. Não sei. Só sei que gosto.
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Nas aulas do professor Benedito, que fazia questão de nos ensinar a como conjugar o verbo to be, eu sempre me dei muito bem, participando dedicadamente e talvez eu fosse a única que desse atenção àquele pobre senhor que trazia tantos livros para sala que nem dava conta de carregar, mas dizia que “é sempre bom oportunizar”.
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Certa vez, percebi que havia algo mais naquele caixa em que ele costumava trazer seu material para sala. Como já tinha em mãos um novo título de música para ser traduzido, fui àquela mesa meio empoeirada e pedi a tradução. Dessa vez, não fui atendida. O professor Ben, como preferia ser chamado, tirou de dentro da caixa um livrinho fino, com cores azul, vermelho e branco, escrito “English dictionary for english speakers”. Ele me perguntou se eu sabia usar um dicionário. Não respondi. Achei retórico. E ele pegou um lápis todo mastigado na extremidade oposta à ponta e me mostrou a primeira palavra de minha frase no dicionário dele, escrevendo a tradução acima das palavras escritas por mim naquele pedaço de papel rasgado da última folha do meu caderno.
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Fiquei meio encucada. Pensei que meu professor era um homem preguiçoso. Afinal, ele era pago para nos ensinar. Fui para casa alegre com a nova aquisição para meu vocabulário em Língua Inglesa, mas ao mesmo tempo chateada, porque eu perdi parte da aula, achando palavra por palavra e tentando encaixá-las em uma frase que fizesse sentido, porque eu não sei se vocês sabem, mas não dá para traduzir ao pé da letra o que o povo fala nos States.
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Os dias corriam bem até que me dei conta de que eu esperava ansiosamente pelos dias das aulinhas de Inglês, pois eu já preparava a letra de uma música toda para traduzir e me sentia autoditada e bilíngue.
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Quando o professor Ben chegou em nossa sala naquela semana, outros alunos correram imediatamente para usar o dicionário e procurar selecionadas, encontradas nos jogos de vídeo games. Agora, aquele dicionário não era mais só para mim. Eu tinha que dividi-lo com 42 alunos que, de uma hora para outra, decidiram aprender inglês.
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Já havia agora uma lista de empréstimo de tão requisitado que estava aquele livrozinho. Me vi perdendo dias a fio na espera de poder, finalmente, ampliar meu vocabulário para, quem sabe?, um dia viajar para fora e escrever para o New York Times.
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Não posso deixar de lembrar a sensação que era quando finalmente meu nome era chamado pelo professor para receber o dicionário e ter tão rápidos 50 minutos de aula com aquele tão pequeno objeto. Sentia que não havia limite para todo tipo de conhecimentos que eu queria aprender, pois, diferentemente do que temos hoje, não tínhamos google nem mesmo Smartfones com aplicativos que me ajudassem em qualquer um desses projetos.
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Foi então que o fim do ano chegou e, provavelmente, no ano seguinte teríamos novos professores e a sensação de saber da possibilidade de não ter mais disponível para mim aquele recurso tão necessário foi o suficiente para sabotar qualquer alegria pelo fato de as férias estarem chegando, quando fui surpreendida com uma última aula que marcaria a minha história: o professor Ben decidiu sortear o dicionário para os alunos que frequentemente o usavam (mais da metade da turma! Como eu iria competir com isso?). Até que do fundo da turma, veio a voz de Evandro, um colega de sala desde a pré-escola que gritou com desdenho: “dê esse negócio para Valéria. Ninguém mais faria tão bem uso quanto essa CDF!”. Claro que ele arrancou risos da galera, mas os risos vieram acompanhados de aplausos e 42 pessoas gritando meu nome e dizendo “É de Valéri-a! Ela mere-ce! É de Valéri-a! Ela mere-ce!”.
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Senti meu coração disparar, meus lábios tremerem e as lágrimas começarem a escorrer de meus olhos. Não pela inicial humilhação de ser chamada de CDF, mas por saber que havia pessoas olhando para mim, conhecendo-me, sabendo daquilo que gosto. Prontamente, professor Ben veio ao meu encontro e simplesmente disse “é todo seu”.
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Talvez meus amigos de escola e aquele meu professor não tenham ideia do que fizeram comigo, do que fizeram para mim. Talvez nem eu consiga descrever. Mas quem sabe, em um outro intervalo aqui do curso de idiomas para brasileiros em Oxford, eu tenha a oportunidade de compartilhar um pouco de até onde aquele dicionário me levou.

Autor(a): carol_veloso
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