Sinopse: Diário da Menina que Só Escreve à Noite
Eu costumava sonhar, noite após noite, com uma cidade abandonada. Percorria as ruas desertas de pés descalços, pisando a poeira de anos. Quando via alguma casa, o que era raro, a natureza havia crescido por dentro, como a fruta dentro da casca, fazendo ruir paredes, portas e janelas. Os animais selvagens bebiam água de chuva no que restara de uma sala de estar ou do quarto de um neném, alheios ao que existira ali antes deles. Nos meus sonhos, de tanto caminhar, perco as unhas dos pés, uma por uma, e meus dedos ficam em carne viva, tintos de sangue, como devem ter ficado os pés de Cristo na cruz, os católicos que me perdoem a comparação. Geralmente a longa caminhada me leva ao mar. A praia está cheia de cadáveres insepultos, deitados na areia, com os pulmões cheios de água salgada, sem ninguém para chorar por eles. Eu reconheço alguns mortos, outros não. É como se a humanidade toda coubesse naquela praia.
Autor(a): larissa_m.