Fanfics Brasil - Sinopse de

Sinopse: O Diário do Paraíso



15 DE JULHO DE 1955
Levantei às 6 da manhã. Fui acordar meus filhos, João José (o mais velho de 7 anos) e José Carlos (de 5 anos), para irem à escola, enquanto isso Frederico, nosso cozinheiro, preparava o café da manhã. Confesso que até hoje não me acostumei com isso de cozinheiro, nem com toda essa comida que ele prepara, agradeço todos os dias por poder dar todas essas condições aos meus filhos, condições que nunca tive.
Enfim tomamos café e eles foram à escola de transporte. Enquanto isso fiquei em casa mesmo, decidi que irei trabalhar daqui, preciso acabar logo meu livro, e preciso contratar uma nova babá para Vera Eunice, minha filha mais nova.
Um tempo se passou, e graças a deus já contratei a nova babá, e foi a primeira que conversei, tão cansativo ter que entrevistar uma por uma e eu amei essa Verônica, foi extremamente carinhosa com Vera.
Os meninos já voltaram da escola, e eu nem vi o tempo passar, fiquei a tarde inteira escrevendo. Então jantamos e enfim todos para a cama.
16 DE JULHO DE 1955
Hoje de manhã José Carlos acordou meio doentinho, fiquei bem preocupada. Levei ele para um doutor renomado indicado por um de meus vizinhos e vamos ver o que ele tem.
Chegamos em casa já, e José está com faringite, comprei todos os remédios necessários, doutor disse que em alguns dias ele já ficaria melhor. Como eu queria ter tido esse mesmo cuidado que tenho com os meus filhos. Nunca fui em um médico desse na minha vida, e na época em que eu morei na periferia não tinha essa história de ficar de cama ou de tomar remédio, eu tinha que ir a escola e ainda ajudar minha mãe a colocar comida no prato. Época difícil.
17 DE JULHO DE 1955
Hoje na hora do almoço na casa do Dr. Armim o pau estava quebrando. Ouvíamos gritos, portas batendo, barulhos assustadores e olha que nossa parede é contra ruídos. Eu não queria me meter de jeito nenhum, minha mãe sempre dizia que enfiar nariz onde não se deve era coisa de gente mal educada, passei a mesma coisa para meus filhos. Mas confesso que tudo que queria era chamar a polícia, estava espantada com o que ouvia.
A tarde estava indo na feira e acabei encontrando Fernanda a esposa de Armim. A mulher estava roxa da cabeça aos pés. Fiquei perplexa, esse tipo de briga eu claramente deveria enfiar o nariz! Na barraca das batatas nos encontramos e já puxei conversa:
– Fernanda o que é isso! Você está bem?
– Estou sim Carolina, foi só um desentendimento lá em casa, homens… Você sabe como é.
– Você não pode deixar ele fazer isso com você! Isso é um crime, é desumano!!
– Não posso fazer nada, não gosto de apanhar assim, mas ele tem dinheiro. Preciso continuar com ele.
A conversa só foi piorando… O dinheiro faz muito a cabeça das pessoas, graças a deus e minha mãe fui ensinada a ser humilde e não deixar o dinheiro subir na cabeça.
18 DE JULHO DE 1955
Acordei hoje muito feliz, irei ao escritório para apresentar o meu livro que finalmente acabei. Então acordei junto dos meninos, ainda consegui levá-los à escola eu mesma e parti para o escritório. Chegando lá percebi que todos estavam meio estranhos, então fui falar com Amélia, minha amiga do trabalho, e descobri que Silvia e Antonio Andrade, dois conhecidos do escritório, se divorciaram e óbvio todos já estavam sabendo. Eu quando era pequena achava que só o povo da periferia era fofoqueiro, mal sabia eu.
Enfim apresentei meu livro na reunião e ele foi aprovado, fiquei super feliz. Ainda consegui voltar para casa mais cedo e jantar com as crianças, meu dia hoje foi perfeito.
19 DE JULHO DE 1955
Hoje o dia foi puxado. Fui chamada na escola dos meninos e só recebi notícias ruins. Meus meninos estavam vagabundeando na escola, como fiquei nervosa. Melhor escola da região e eles veem se comportando mal… Vou pegar esses moleques de jeito! Sempre falei para eles que a escola muda tudo e eu sou a prova viva disso, vim da favela para esta casa enorme, e graças a minha mãe, que me obrigava a estudar, consegui chegar onde estou hoje.
Graças aos meus esforços meus filhos não passam nenhuma dificuldade, na verdade eles vivem mais do que bem, e agradeço muito por tudo isso. Só queria que eles entendessem e valorizassem o que tem, mas é aquele ditado você só dá valor quando sabe como é não ter, e eles não fazem ideia. Preciso conversar com eles urgente.
20 DE JULHO DE 1955
Me levantei cedo, eu mal consegui dormir, só consigo pensar nessa conversa que terei com os meninos. Será hoje após o brunch da minha empresa para comemorar o novo livro. Não sei para o que estou mais nervosa, se é o brunch ou a conversa com os meninos.
Já estamos nos arrumando para sair, estão todos tão arrumados e bonitos, meus olhos se enchem de lágrimas ao ver os meus filhos deste jeito. Enfim já estamos de saída, eu, José, João, Vera e Verônica, achei melhor a babá ir para olhar as crianças enquanto converso com os meus amigos, é um alívio ter ela comigo.
Não importa quantos eventos assim eu vá sempre me impressiono com a comida e a decoração, e então percebo que meus filhos mal ligam, chegam e vão brincar. Acho bizarro isso, eu já ter tido uma realidade completamente diferente da que os meus filhos tem, e que provavelmente eles nunca nem irão conhecer, na verdade acho estranho até eu mesma viver numa realidade tão diferente da que já tive, às vezes acho que isso é apenas um sonho e que a qualquer momento vou acordar.
Foi tudo incrível no evento, não poderia ser melhor. Na verdade confesso que ás vezes me sinto desconfortável, porque sempre tem alguém me olhando meio torto e consigo sentir o preconceito de longe, aparentemente as pessoas têm dificuldade em ver alguém com a pele mais escura, como eu, em eventos como esse, eles me olham de um jeito como se eu não pudesse estar ali, como se estivesse cometendo um crime, e sinto que isso nunca vai acabar.
Enfim, fui conversa com os meus filhos. Eu chamei os dois, decidi não ter essa conversa ainda com Vera porque ela não entenderia tanto assim. Então, conversa vai e conversa vem, resumindo para você contei sobre as coisas que já passei, tentei passar o máximo de informação que pude sobre a outra realidade, falei sobre fome, moradia, estudos, trabalho, saúde, tudo. Primeiro eles se assustaram e depois foram compreendendo aos poucos, compreender em si acredito que eles nunca irão mas espero que isso tenha os ajudado.
Autor(a): mariliaferrari
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